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“Pode começar!” — disse assim que estacionou o carro próximo de um rio. Será que é aqui que serei desovado?

— “Tá bom, mas, se você me matar, eu volto para te buscar.” — ela ri e bem alto ainda. Medo.

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Dois meses antes, São Paulo, 2022, 07 da manhã

Vocês já perceberam como é difícil começar alguma coisa? Tipo, sabemos perfeitamente o que queremos transmitir, mas as palavras para um início nunca vem, é como se fossemos incapazes de ter um começo. Isso sempre acontece quando vamos contar uma história ou produzir uma redação no vestibular, temos sempre o meio e o fim, mas não temos o mais importante, a droga do começo.

Buf. Como essa droga é frustante! E é por causa de um começo, que eu fui dormir às três da manhã por não conseguir palavras para iniciar o meu relatório de toxicologia, que o prazo final é hoje a noite. Meu Deus. O professor Leonardo vai me matar por atrasar outro relatório, mas a culpa não é minha, a culpa é da droga do meu cérebro que não me ajuda quando mais preciso. Será que é possível trocar de cérebro? Se eu vivesse num mundo de ficção científica, talvez.

Pena que essa é a merda da vida real e não podemos fazer alterações, igual fazemos nos jogos, quando mudamos os personagens e as skins, várias e várias vezes, sem parar, sem ter algo cruel como a vida para atrapalhar. Mamão com açúcar, eu diria.

— Ah! Olá! — disse o meu colega de apartamento, Hendery Upton, ele é Tailandês, faz Engenharia da computação e para alguém que mora no Brasil tem apenas um ano, até que ele está mandando bem no idioma. — Bom dia! — disse juntando as mãos como se fosse rezar e inclinando o corpo um pouco para frente, repeti o gesto para ele, também dizendo bom dia, logo ele sorriu mostrando suas covinhas fofas para um caralho.

Já tem seis meses que moro com o Hendery e até agora não me acostumei com esse tipo de cumprimento, o que é super natural no país dele. E é incrível como ele não perdeu esse costume, mas, seu sotaque já está quase sumindo, o que é péssimo. Dery é como eu lhe chamo quando estamos em casa ou num lugar sem muitas pessoas estranhas, ele é fluente em Inglês, Tailandês – sua língua nativa –, e está se esforçando para aprender o Português, ele entende mais do que fala, algumas expressões e palavras ainda lhe atrapalham na fala.

A gente se conheceu muito pelo acaso, ele estava tentando comprar um lanche no RU – refeitório universitário –, mas a moça que estava atendendo naquele dia, não sabia falar nem olá em inglês. E um fato interessante sobre o Dery, quando ele está irritado ou nervoso começa a falar em inglês e tailandês, então, imaginem o caos. Ela já não estava entendendo o inglês, imaginem quando ele começou a falar em tailandês. Aquele dia foi uma loucura.

E para sorte de todos no local que apenas observava ou ignorava a situação, um jovem muito bonito e carismático, apareceu para salvar a pátria. Sim, estou falando de mim em terceira pessoa, nada de mais. Como eu sabia um pouquinho de inglês, consegui ajudá-lo e desde então somos amigos.

Mas, só começamos a morar juntos há seis meses, quando meus pais pararam de pagar o meu mini apartamento – mini mesmo, só tem dois quartos, um banheiro, uma sala minúscula com uma cozinha americana e uma área de serviço quase inexistente –, e apenas o meu salário de secretário não seria suficiente para o aluguel, contas e mantimentos. Graças a Deus o Dery propôs para morarmos juntos e cá estamos, felizes e aprendendo muito um com o outro.

E quando digo muito, é muito mesmo, agora estou quase fluente em inglês e falo algumas coisas em tailandês, já ele todo dia aprende uma gíria nova do meu estado natal – Bahia. Comunicação, nunca será um problema entre nós, isso garantimos.

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