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Hendery Upton, São Paulo, 2022

Realmente a cachaça causa humilhações. Quem diria que essas falas estranhas que o Mark me diz milhares de vezes, seria verdade. É estranho, como aqui é tudo tão solto e louco. Quando eu morava na Tailândia, só tinha um amigo e só bebemos até cair quando concluímos o ensino médio e na calourada da faculdade. Esse mesmo amigo, me fez confirmar o que eu já sabia, a minha santíssima sexualidade. Mas, eu nunca mais falei com esse amigo, depois que me assumi duas semanas após ingressar numa das melhores Universidades da Tailândia.

Ele era o meu melhor amigo de infância e eu fiquei arrasado quando ele me rejeitou como amigo e passou a me humilhar na universidade. Antes dele saber, ele era uma pessoa incrível, sempre ficava ao meu lado, cuidava de mim e me protegia do mundo. É incrível como as pessoas mudam do Churrasco de Porco para o Mingau de Arroz* que engolimos à força quando ficamos doentes. Não é que o mingau seja ruim, mas tudo que é forçado, é destrutivo.

Pena que não foi ele e essa situação de humilhação que destruiu o meu teto de vidro.

Só que voltando ao Mark, essa cachaça pegou ele de jeito.

Depois que o Mark admitiu gostar de mim, ele simplesmente apagou no meu colo. E enquanto eu o carregava para fora do banheiro, ele ainda fez o favor de vomitar nos meus sapatos favoritos. Ele vai pagar por isso. Ou eu não me chamo Hemant Kasem Upton. Sim, meu nome é Hemant. Hendery é apenas um apelido, escolhido pela minha avó materna que vive nos Estados Unidos. No meu país, temos o costume da adoção de apelidos que é mais utilizado em nosso dia-a-dia, do que o nome que consta na nossa certidão de nascimento. O apelido pode ser advindo do nosso nome, sobrenome ou qualquer outra coisa que seja escolhido por nossos pais. E sendo sincero, Hendery é muito melhor que Hemant.

Como eu bebi além da conta também, tivemos que pedir um Uber, e amanhã no meu passeio com o Pietro terei que agradecer por ele ter pago, já que eu e o Mark estávamos sem dinheiro. E o carro? Bom, deixei as chaves com o Pietro e ele levará amanhã para mim. Ainda sinto algo estranho no meu corpo, desde que o Mark viu aquela cena e ainda teve a coragem de dizer que gosta de mim. Sei que foi errado eu ter dado um selinho no Pietro antes de sair, mas, eu sou solteiro e sempre sou gentil com os meus casos. Ainda bem que esse meu lado safado só vive na minha cabeça.

Estou feliz pelo o Mark finalmente ter percebido, o que eu percebi na primeira vez que nossos olhos se encontraram naquele refeitório. Existia o brilho de um garoto leve e feliz que queria se libertar e ser ele mesmo. Mas, também existia um brilho sombrio, como se uma alma estivesse presa nele e algum dia iria mostrar as caras. E pelo ocorrido de hoje, acredito que essa alma finalmente apareceu. É estranho pensar nisso, se você for uma pessoa comum, coisa essa que eu não sou. A minha avó paterna é espírita e talvez eu tenha puxado isso dela. Assim como meu pai via coisas na nossa casa, eu consigo sentir uma presença naquele apartamento.

Obviamente nunca falei isso para o Mark, ele com certeza surtaria, mas já mandei algumas mensagens indiretas. Pena que ele nunca captou nada. Tão bobinho, é por isso que eu amo esse menino. Só espero que ele não tenha uma amnésia alcoólica amanhã.

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Mark Sage, São Paulo, 2022 - Manhã pós-festa

Nunca mais irei beber.

Santa merda. Tudo dói. Minha cabeça, meus olhos, meu estômago, meu corpo, absolutamente tudo. Não sei o porquê deu ter bebido tanto assim.

Na realidade eu sei, mas, por descargo de consciência devo fingir que não sei.

Meu Deus! Se por um surto de sexualidade e paixão, eu perdi o controle. Imaginem se fosse uma coisa mais séria, algo totalmente fora da realidade, certeza que eu iria de comes e bebes. E seria muito triste para o mundo perder alguém como eu.

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