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Kinney Noon, Recife, 2010 - Orfanato Vitoriana das Graças

Inconsequentes ou Inconsequências?

O que nos leva a sermos tão inconsequentes ao focarmos apenas na nossa ganância? E o que nos leva a criarmos tantas inconsequências?

Por qual motivo a corda só arrebenta para o lado mais fraco? Por qual motivo a pessoa a ser abandonada tinha que ser eu? Mas, por qual motivo ele me escolheu?

O que tanto ele quer comigo?

Aos 12 anos, eu ainda não sabia o motivo de ser eu a escolhida no meio de tantas pessoas no mundo. Mas, hoje, eu sei muito bem e sinto-me grata por ser eu. Só que também foi aos 12 anos, no meio de tantos hormônios confusos por causa da adolescência iminente, que descobri a verdade sobre mim.
Com a ajuda do meu fiel amigo Leonardo, que chegou na mesma época que eu, conseguimos invadir o escritório da freira chefe e encontrar meus dados antigos.

Foi nessa idade que tive meu primeiro contato com uma coisinha estranha chamada “internet”. Então, foi através dessa estranha tecnologia que descobri que eu nunca mais veria a minha mãe e as minhas esperanças de sair desse orfanato infernal foram para o beleléu. A minha mãe, Lowe Dee, nome que consta na minha antiga certidão de nascimento, havia cometido suicídio no início dos anos 2000 e um assassinato brutal em seu antigo apartamento. Essa era a única notícia que constava sobre o caso, num pequeno blog sobre moda, que acredito que era apenas um disfarce para manter o caso escondido de quem fosse necessário esconder.
Foram horas de pesquisas até chegar nesse fato e nesse blog, mas valeu muito a pena.

Naquela época eu não entendia o porquê dela fazer tudo isso, mas depois que eu roubei um livro peculiar ainda armazenado nos arquivos polícias, anos mais tarde, pude finalmente compreender o motivo dela me abandonar tão nova. Assim como descobrir como tudo foi bem ocultado na época, só foi uma pena não terem destruído esse pequeno caderno de receitas que tinha respostas ocultas, talvez a perícia fez um péssimo trabalho em analisar o caderno ou apenas resolveram ignorar.

Quando os corpos foram encontrados, algumas horas depois, por uma vizinha qualquer, a polícia resolveu encerrar o caso como um possível suicídio coletivo. Uma vez que eu também estava na cena do crime e estava trancada num quarto, o que acabou por ser a maior prova do caso. Só que era isso que eles deixaram entender para a mídia e para uma sociedade de classe alta que estava ao redor desses milionários falecidos misteriosamente.
Falaram que esse foi o choque do século entre as famílias ricas da época, minha suposta avó não conseguia acreditar que a filha dela era capaz de assassinato e adultério, mesmo conhecendo a personalidade da filha, ela não era esse tipo de gente.

Mas isso apenas provou que as aparências sempre enganam.

— Ana! — Leonardo chamou a minha atenção, fazendo com que eu retirasse o olhar do computador da biblioteca.

Mesmo que a gente possuísse a mesma idade, ele era mais baixo que eu e tinha uma voz em transição. Às vezes estava fina, às vezes estava grossa. Além de possuir belos olhos castanhos e uma pele negra bastante brilhante.

— Quieto, Léo! — digo colocando os dedos nos lábios, ele sorri.

— Desculpa, Ana. Sempre esqueço que não devemos fazer barulho aqui.

— Deveria parar de esquecer. — reviro os olhos e ele continua sorrindo. É um bobo mesmo — O que você quer, Léo?

— Poderia repetir os nomes das vítimas? Só quero verificar uma coisinha.

— Ok... — volto a olhar para a tela e procuro os nomes — Aqui diz Lowe Dee e Nate Orvelhas. — digo sem olhar para ele.

— Isso é estranho. — ele diz num tom pensativo e eu volto a minha atenção para ele — Olha isso, Ana. — ele levanta a minha certidão contra a luz do sol — Foi escrito por cima.

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