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Lowe Dee, São Paulo, 1997 - Meses depois.

Depois daquele almoço péssimo com meus pais para decidirmos a questão dos padrinhos – totalmente contra a minha vontade, como sempre –, o tempo parecia que tinha voado. Minha barriga, agora de 8 meses, parece que triplicou de tamanho e o casamento está cada vez mais perto.
Mesmo eu achando uma péssima ideia, o Nate aceitou ser o padrinho juntamente com a Beatriz. Só que por outro lado foi difícil convencer a mesma. Ela alegava que não ficaria sorrindo falsamente, enquanto via o amor da sua vida se casar com outra, e eu entendo completamente ela.

Eu sentiria o meu coração se partir em diversas partículas ao ver o Nate casando-se com outra que não fosse eu, mas eu sei que um dia ele irá casar e não poderei impedir. Eu não posso romper o contrato e ele não pode ser o meu amante pelo restante da vida, a família dele espera herdeiros e enquanto me amar, ele não poderá fazer isso. Não comigo.

— Você tem mesmo que ir? Meu casamento é daqui umas semanas, querido. — eu falava manhosamente, enquanto estava sentada na cama e observava o Nate arrumar malas e mais malas.

— Eu tenho que ir, querida. — parou o que estava fazendo para me olhar intensamente — Desde quando eu me tornei médico, eu tinha o objetivo de participar dos Médicos sem Fronteiras e finalmente fui convocado. Sabe o que isso significa? O meu maior sonho se tornará realidade em poucos dias, mesmo que me doa partir, não posso perder essa oportunidade.

— E a mim? Você pode perder?

Ele riu e se aproximou de mim.

Eu não vou te perder, Lowe. — passou a mão nos meus cabelos, como um gesto de carinho — Ao menos que você finalmente caia nas graças do Miguel.

— Eca! — finjo vomitar e ele ri — Só se eu enlouquecer.

— O que não vai acontecer. — beijou a minha testa — E o seus pesadelos? Parou?

Não. Eles não pararam. Mas eu não posso dizer isso para ele, em poucos dias ele estará na missão que marca a sua existência, eu preocupar ele com os meus problemas só iria atrapalhar tudo. E eu não posso ser a razão da sua ruína.

Quanto mais os meses passam, mais aqueles sonhos estranhos acabam comigo. E até agora não fui capaz de descobrir a mensagem que ele deseja me passar.

— Sim. — fingi um sorriso e beijei sua mão — Não se preocupe.

— Tem certeza?

— É claro, eu nunca mentiria para você.

Ele concordou com a cabeça e voltou a arrumar as coisas. Realmente algumas mentiras são necessárias para proteger aqueles que amamos intensamente.

Assim que ele terminou tudo, fomos para o meu apartamento, ele deixou algumas coisas dele comigo, para o caso deu sentir saudades e depois foi conversar com o Miguel. Passaram quase uma hora conversando no quarto e tentaram abafar o som da conversa com a programação da rádio local que passava naquele momento. Não vi a necessidade de fazerem isso, já que eu não tinha interesse algum na conversa.

Após a finalização da conversa, ele veio até mim e me deu um beijo de despedida. Mesmo que só fosse viajar daqui uns dias, ele ainda tem muitas coisas para organizar e temeu não ter tempo suficiente para mim. Quando ele atravessou a porta do apartamento, senti o meu peito afundar e sabia de corpo e alma que aquela seria a última vez que eu o veria. E manter contato por cartas, só aumentava essa certeza.

— Ainda bem que aquele idiota foi embora, agora não preciso mais te vigiar. — o traste do Miguel disse num tom debochado, fazendo com que eu retirasse os olhos da porta fria e fechada, e olhasse diretamente para sua face horrenda — O que?

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