- capítulo um.

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Gastronomia

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Gastronomia. Uma palavra e muitos sonhos, é isso que eu sinto quando estou na cozinha, um bilhão de sentimentos.

Quando eu finalmente descobri o que eu amava fazer, fui quase como tirar cinco elefantes da minhas costas, eu não descobri apenas uma paixão, descobri também um amor inabalável. Cozinhar me acalma, me faz flutuar e eu nem percebo o tempo passando quando estou dentro de uma cozinha. Vestir uma domã é vestir uma roupa de guerra, mas essa eu venço todos os dias.

Descobri o que eu queria fazer com exatos quinze anos e desde então comecei a economizar tudo para que eu pudesse estudar na melhor escola possível de gastronomia, Le Cordon Bleu em Paris. Mas quando finalmente fiz dezoito anos esse sonho ainda estava longe de acontecer, não é qualquer pessoa que consegue pagar quase quatorze mil reais de mensalidade, mas quando tive essa informação eu não desisti mesmo assim.

Foram meses vendendo doces, fazendo encomenda para festas como casamento, economizando tudo que eu podia para finalmente tentar uma bolsa com sessenta por cento de desconto mas mesmo assim a mensalidade continua cara mas, cá estou eu, no aeroporto prestes a pegar um vôo internacional para começar meu sonho.

- Filha, toma cuidado por favor. - minha mãe diz pela centésima vez apenas em um intervalo de três minutos.

- Mãe, calma, vai dar tudo certo. - sorrio para ela segurando suas mãos.

- Eu sei meu amor, mas eu fico preocupada. - ela desgruda nossas mãos e chega mais perto para me abraçar, molhando todo meu ombro com suas lágrimas.

Meu pai, como sempre, não estava presente em um momento tão especial para mim, na verdade eu acredito que ele nem saiba da minha ida para Paris. Nossa relação é um tanto quanto conturbada, ele finge não ter filha e eu finjo não ter pai.

Escuto a voz da moça saindo pels caixas de som pela quinta vez, presumo ser a última.

Os sons de rodinha, saltos batendo no chão e muitas pessoas falando no aeroporto me fez despertar do transe em que eu estava com minha mãe. Eu deveria ir agora.

- Mãe, preciso ir, é a última chamada. - digo calma me desvencilhando dela. Ela assim que se afasta, me olha, com o rosto inchado e vermelho coberto de lágrimas.

- Eu sentirei saudade - ela sorri tímida enquanto seca as lágrimas. - Não esqueça que você tem mãe, ouviu? Eu te ligarei todos os dias. - afirma com um tom de voz firme.

Uma das coisas que minha mãe mais temia, é que eu a esqueça, não sei como ela pode pensar assim mas eu a entendo. Não sou sua filha legítima, minha mãe é estéreo e então resolvou escolher a adoção, receio que esse é um dos motivos que meu pai não se da bem comigo pois ele sempre afirmou que queria um menino, um menino dele e com o sangue dele.

Minha mãe por outro lado sempre me deu toda a atenção que ele nunca me proporcionou, foi mãe e pai sem dúvida alguma. Lembro das vezes em que ela ia para  a escola no dia dos pais com cabelo amarrado, uma barba falsa feita com canetinha e as camisetas do meu pai para que eu não me sentisse sozinha e abandonada. Ela sempre será meu porto seguro.

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