invasor noturno

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Dead, Janeiro de 1989.

Desde que Øystein me encontrou com os pulsos abertos, ele parece... preocupado comigo. Por mais que não queira aceitar, até que eu gosto disso. É bom me sentir especial de alguma forma, é bom ver alguém se importando comigo.
A única coisa que me incomodava um pouco era quando ele ficava no meu pé para que eu comesse; passou-se um mês e meio desde aquilo, e nas últimas semanas ele vem quase que me forçando a fazer as refeições, dizendo que eu não como direito (pra que comer, se eu não tenho fome?); apesar disso, acho que o melhor de tudo foi... o beijo que demos naquele mesmo dia.
Que engraçado, tantas coisas aconteceram de uma única vez. Eu fiquei muito agradecido por ele ter me ajudado, mesmo que eu continue sentindo que não pertenço a este mundo e continue querendo acabar comigo mesmo, eu me sinto agradecido por ele se importar.
Sobre o beijo, nós nos beijamos outras vezes depois daquele dia. Era sempre meio engraçado quando acontecia, o mais incrível é que em todas as vezes alguém aparece e nós temos que nos soltar às pressas.
Finalmente, eu sinto que minha viagem valeu a pena; Euronymous é muito legal comigo, e eu sinto que estou gostando dele (e eu sei que isso foi rápido demais, por isso não irei nem ao menos tentar alguma coisa. Eu tenho medo de me arrepender, medo de que não seja recíproco, ou de que na verdade eu esteja confundido os sentimentos, e eu peça, ele aceite, mas no final note que não gostava de mim e me dê um pé na bunda. Acho melhor eu cair na real de que isso é só uma emoção por ele estar me tratando como me trata, e... por ser a primeira pessoa que eu beijei...).
Para ser sincero, acho que o que mais me incomoda é como ele muda de personalidade na frente dos outros, mas eu sempre relevo isso.

Voltando para o presente, nós estamos a três dias de um show, será o meu primeiro e aparentemente um dos maiores que o Mayhem já fez. Eu estou extremamente nervoso com isso... então prefiro passar o tempo de intervalo dos ensaios com a minha mente em outros lugares, já que, quando Euronymous estava próximo a outras pessoas, ele nem ao menos olhava na minha cara.
Comecei a devanear sobre... se um dia eu namorasse com ele e ele me traisse com o Kristian, mas logo fui puxado para a realidade por Hellhammer, me chamando para voltarmos para o ensaio.

Limpei minha garganta e fui. Eu precisava falar algumas coisas em latim no início de uma música, eu achava isso legal, só não sabia se estava pronunciando certo.

- Você foi muito bem, Pelle! cara, nosso show vai ser incrível. Øystein, quando iremos gravar nosso álbum??

Eu sorri para Necrobutcher, e Euronymous respondeu apenas um "quando der" de maneira meio grossa. (eu não entendo porquê ele age assim com quase todo mundo... qual o sentido em ser tão rude?).

- Talvez "quando der" poderia ser "em breve" se você abrisse mão de um pouco desse dinheiro dessa sua lojinha que nunca vai para frente e nos ajudasse a pagar alguma gravadora.

Assim que Hellhammer falou aquilo, Euronymous começou a gritar com ele, eu dei um suspiro alto, já sabendo que terminariamos a noite de hoje brigando mais uma vez (ah, e vindo para Noruega, também descobri que discussões na banda eram mais comuns do que eu imaginava). Necrobutcher olhou para mim, negou com a cabeça e deixou seu baixo de canto.

- Bom, pessoal, eu estou indo para casa. Chega disso.

Dito isso, ele saiu. Hellhammer, após atirar uma das baquetas na cabeça de Euronymous (e de mandar ele se foder), foi atrás de Necrobutcher, deixando para mim um gnomo raivoso.

Esperei a porta se fechar para ir até ele, o abracei e dei um sorriso, ele pareceu meio relutante, e eu até mesmo pensei que ele iria me afastar, mas ele apenas se calou (e não retribuiu o abraço).

- Coitado... você ficou com uma marca na testa!

Sorrio e passo minha mão por sua pele, a baqueta tinha deixado uma marca vermelha. Øystein também passou a mão pelo local e começou a xingar Hellhammer

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