dearest

no porão

Dead, Janeiro de 1989

A noite caiu rapidamente, quando me dei conta o sol já havia ido embora. Passei o resto da tarde assistindo filmes de terror quaisquer com Øystein. A companhia dele me fazia tão bem, essa emoção que eu não quero continuar crendo de que... não é apenas um impulso, apenas um desespero, e sim de que lá no fundo, é um sentimento mútuo, faz com que eu me sinta tão... diferente; me questiono se isso que é "se sentir vivo", talvez seja, não sei dizer, nunca antes senti isso.

Nós estávamos completamente a sós, então a minha relutância da última noite, de abraçá-lo, se extinguiu de fato quando ele mesmo, assim como quando nos deitamos, se aproximou de mim. Então, permanecemos deitados juntos, e ocasionalmente eu passava minha mão por seu cabelo... como estava fazendo exatamente agora.

- Ei... Øystein?

Ele me respondeu um "hm" não muito interessado, já que estava prestando atenção no filme.

- Você pinta seu cabelo?

Ele ergueu seu rosto e olhou para mim com uma de suas sobrancelhas erguida

- Por que a pergunta?

- Hmm... é que eu estava olhando aqui... e o comecinho de seu cabelo, a raiz, parece... loira, sei lá

Sorri para ele, que voltou a olhar para a televisão de novo

- Talvez eu pinte. Quem sabe?

Ele deu uma risada fraca e eu sorri

- Bom... se pinta... você acertou muito bem, cabelo preto combina muito com você... e se você não pinta... parabéns para a natureza e para Satã, por tê-la feito projeta-lo tão bem. Quer dizer, não que você não fosse ficar bonito com outra cor de cabelo, é só qu-...

- Você me acha bonito?

Ele falou antes que eu terminasse de dizer, deu risadinha e eu dei um sorriso confuso

- Acho, ué

Nós voltamos a ficar quietos e assistir o filme. Quando ele estava próximo ao fim, Euronymous decidiu que pegaria algo para comermos.

- Parece que eu vou ter que sempre ficar de olho em ti, hein? Eu já reparei que você não come direto, não faça isso! Se não eu vou roubar sua carta, anotar o endereço da sua mãe, e mandar uma carta para ela, pedindo que ela grave e envie uma fita te dando uma bronca por não se alimentar bem... então eu vou ter que tocá-la todos os dias pra você. Você não quer isso, né?

Eu ri e neguei com a cabeça, revirando os olhos em seguida.

- Bobo... eu vou comer, sim... é só que eu não sinto fome, sei lá, como porque tenho que comer...

- Trate de sentir então, ou vai comer sem fome... e... ei, você não fez mais aquilo não, né? É bom que não. Não faça mais mesmo. Eu já venho

Eu mostrei meus braços para ele enquanto ele perguntava, tinham apenas cortes cicatrizados por ele, e após terminar sua fala, ele saiu para a cozinha. Bom, eu me cortei outras vezes? Não. Mas desejei? Sim.
De qualquer maneira, a preocupação que ele tinha comigo era fofa...

Øystein trouxe alguns doces para nós dois, e nós passamos o resto da noite assim, até acabarmos adormecendo juntos no sofá.

Pela manhã, despertei encontrando Euronymous ainda ao meu lado, me afastei com cuidado e o observei por alguns segundos Øystein dormindo. Eu poderia dar um beijo nele agora mesmo, mas... beijos ao acordar não me parecem a coisa mais romântica de todas... não antes de escovar os dentes.

Então, logo fui fazer isso. Andei sem fazer barulho até o banheiro para não acordá-lo. Tomei um banho bem rápido e aproveitei para escovar meus dentes. Me sequei, joguei as roupas de ontem em um cesto de roupas sujas, amarrei uma toalha em minha cintura e fui até meu quarto vestir alguma coisa.