Desejo sem Reparação

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Meu primo foi passar um final de semana lá em casa, como sempre fazia. Minha mãe achava que ele podia fazer as vezes de um irmão da minha idade, já que o que eu tenho é uma criança. Ele foi criado em uma família evangélica e cheia de normas duras, no entanto era de uma perspicácia e uma sabedoria para aproveitar cada fase da vida que me deixava irritado.

Tinha tesão nele.

Sempre quis ser igual a ele.

Esse desejo só se confirmava com as comparações que sofria. Quando estava lá em casa, ele sempre queria sair, conhecer garotos da nossa idade. Era o queridinho dos adultos e sabia se defender muito bem das crianças, com as mãos e as palavras.

Em 26 de setembro, onde se distribui doces no dia de Cosme e Damião, estávamos na casa da minha tia, eu, mainha e algumas amigas delas. Com a porta aberta como sempre ficavam nossas portas naqueles anos de calmaria, vimos a gritaria de algumas crianças correndo, indo atrás de doces. Meu primo apressou-se a segui-los e enquanto corria para a porta falou:

_ Vamos, Marcko, vamos!

_ Não, não vou não. Vou ficar aqui mesmo. Disse aos adultos que estavam por lá, pois meu primo, a essa altura, já estava com os bolsos cheios de doce.

Minha mãe foi a primeira a opinar:

_ Vai lá menino, acompanha seu primo. Se fosse para você ir sozinho, mas com seu primo não tem perigo.

Minha tia a ajudou:

_ Vai rapaz, oxente. Vai correr com as crianças.

Fui salvo pela amiga delas, logo a mais saidinha.

_ Deixa o menino, oxente. Vai querer que ele seja igual ao primo. As pessoas são diferentes memo. O primo é atirado, pra frente, e o marquinho é tímido.

Eu fiquei ali, emudecido. Escutando todos decidindo sobre a minha vida e eu só querendo sumir.

Sempre me murcho para passar despercebido em todos os lugares, mas com frequência essa tática falha. Só queria a segurança do meu Quarto nessas horas.

No meu Quarto eu me sentia seguro. Era lá que eu fingia dormir e no meio da noite minha mão parecia ter vida própria. Soltava até a altura do pênis dele com a palma da mão virada para cima. Assim, quando ele virava-se, encaixava certinho bem no meio na minha mão. Enchendo-a de pênis. Aquilo me dava o maior tesão. Amanhecia todo melado e por noites isso se repetia.

Ele sempre teve o sono pesado. Numa noite eu não resisti e, já possuindo uma paixão destrutiva, pus-me em cima do seu peitoral como uma esposa faria com seu marido durante a noite.

Não sei o que passou pela minha cabeça. Como não previ que ele ia sentir meu peso? Afinal, era obeso. Alto e gordo. Foi dito e feito. Ele acordou assustado e olhou nos fundos dos meus olhos para saber se eu estava ou não acordado. Uma fração de segundos decorreu entre ele me jogar para o outro lado da cama, olhar nos meus olhos e eu fechá-los assustado.

Não tinha como ninguém permanecer dormindo com o chega pra lá que ele me deu, mesmo assim segui fingindo estar dormindo e roncando.

Na realidade, naquela noite não dormi nada. Só pensava que o dia ia raiar e eu teria que encará-lo pela manhã. E se ele contasse à minha mãe? Se contasse aos meus irmãos? O que eu faria?

Não preguei os olhos naquela noite, vi o dia clarear da janela do meu quarto. Senti quando ele levantou, foi logo depois que a minha mãe trouxe meu gogó na mamadeira. Era um sábado, todos estavam em casa. Lá pelas onze da manhã eu levantei meio trêmulo e tentando disfarçar meu nervosismo. Naquela manhã, não olhei nos olhos do meu primo. Tentei ficar à vontade pela casa e, como não ouvi nenhum comentário, lá pelas 16h desencanei e relaxei.

Zoada de AzulejoOnde histórias criam vida. Descubra agora