Concreto

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Sair para o mundo nos liga a uma realidade irreal, onde não há espaço para sentimentos. É bom ser concreto. No concreto não há espaço para reflexão. Estas até podem pedir espaço, mas são sucumbidas pela agilidade a sua volta, ou pela falta de volta.

Um parque. Sentar ao chão à sombra da árvore faz-nos concretos. Os pensamentos vindos até podem ser o mesmo do seu Quarto, mas em nada me abalarão. Eu sou concreto ali, faço parte da paisagem como peça indissociável. Nada poderá me atingir, pois tudo sou eu e eu sou tudo. Nada que aconteça no mundo concreto é individual. Tudo afeta a todos e a falta de sentimentos me deixa em paz. Faz-me viver mais.

O maior dos meus sentimentos não é o amor nem ódio: é a vergonha. A vergonha é o que me poda. É ela o maior inquisidor dos atos humanos. Os atrozes são desavergonhados. O ato desumano é íntimo, é uma realização de prazer intrínseco. As consequências é que são comuns. Eles, os efeitos, é que podem inibir-nos de praticar nossos atos. Se tivesse certeza do anonimato, de que ninguém iria descobrir, já teria cometido vários delitos. Tenho vergonha da exposição, dos julgamentos. Eu mesmo me julgo e sempre me condeno, mas ainda sou eu sozinho. Ninguém sabe quem é o verdadeiro eu. O sentimento da vergonha se confunde na minha cabeça com o da cobardia. A falta de coragem de cometer delitos: de matar; é que pode estar me guiando, e não a vergonha.

Por que o homem podia matar e agora se tornou feio o ato? O homem em si não é o mesmo? o que muda é o que está a sua volta. Isto muda o homem? Sim, muda. Mas o homem ainda é homem. Seus órgãos internos estão todos lá, os externos também.

Agora nós temos mais motivos para matar. O que não está certo é que os errados são os que têm coragem para executar. Os bons tentam mudar os homens, mas homem é homem e sempre será. O homem não muda, nem mudará.

Por que os soldados podem matar? Quem os dá essa prerrogativa? só deus tira, só deus dá. Mas sem eles, os soldados, quantos já teriam morrido. E os animais? eles matam por tudo: por espaço, por ciúme, por fome. Eles também são seres vivos e ninguém liga deles fazerem isso.

Matar pode ser aceito. O que importa no fundo é o motivo.

Tem beleza na morte. Matar pode significar libertar o outro. Mas nós matamos as pessoas erradas dia após dia.

Temos que matar quem nós amamos. Livrá-los dos julgamentos, das escolhas que a cínica vida nos dá. Somos tão nada que vivemos pensando no amanhã, no entanto, temos que "viver ainda e não viver mais", como previa Nietzsche.

Isso aqui já é o inferno disfarçado de mundo. Toda essa água, planta e aromas disfarçam o real motivo de estarmos aqui. Pagar, Penar.

Pense você aí comigo, são mais de 2000 anos só depois de cristo, e pelo que temos escrito não me recordo de um ano onde esse mundo fosse um paraíso. Logo no início essa palavra se distorceu. Cínico, é assim que eu nomeio a quem nos dá escolha. Pra que pôr o mal se o bem é o que todos querem. E se todos nós estamos errados. Matem. Matem. Matem quem os ama, matem quem você ama. Livrem de escolhas os bons. Salve-os. Salvem mais: não ponham nem mais um no mundo. Deixem esses bilhões virem o que vem.



O que eu seria se não existisse

Um sonho. Como ser isso pra mim é um sonho irrealizável. Não ser nada é algo que no fundo todos os seres almejaram um momento.

Imagine-se não nascendo e chorado e babando e obrando e passando por toda aquela fase de fantasia, onde a vida pode ser maravilhosa. Todos nos enganariam, até o doutor ao nos impor um sexo: _ é homem! aí vêm as tias a nos mimar e provar o quão insignificantes nós somos ao não sermos mais aquilo. E os dias raiam e se põem em constante desespero. Parecem que querem nos revelar algo por meio dos desenhos das nuvens.

Zoada de AzulejoOnde histórias criam vida. Descubra agora