Noites chuvosa e roupas coloridas

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_ Bora, mãe.

_ Peraí, menino.

_ Votei e votaria mais mil vezes nele. Oxe! Todo mundo rouba. Se eu estivesse lá, com certeza roubaria também. Não pense você que foi só ele não.

_ Como é que é, Dona Maria! Eu tô aqui na mão de agiotas, com minha filha doente, sem poder levá-la a um médico e você vem me dizer que vota no Zé do Collor. Olha! Eu vou mandar esse menino te jogar no meio da rua.

_ Bora logo, mãe. Vai chover.

_ Ra, Rai. (é o som estridente do riso de nervoso dela)

Lembro-me de quando da campanha para governador delle. Minhas irmãs e as vizinhas do bairro correndo histéricas para ver aquele homem alto, branco, bonito, de olhos arregalados, fazendo gestou fortes com a mão direita, onde dava pra se ver todas as suas veias pulsando com aqueles pequenos socos no céu. Sua caravana passava pelo bairro de Ponta-Grossa, periferia da cidade de Maceió. Meus olhos brilharam e aquele sorriso, mesmo falso, buliu-me, tive inveja dele. Quis um dia passar e provocar aquele sentimento nos outros. Nenhum ficou imune a sua presença. Perecia estar enfeitiçado. Elle realmente estava ali.

Minha mãe chorava ao ler notícias dos irmãos Arnon de Mello tripudiando um ao outro em público. A primeira vez que comprei uma revista foi a Veja edição 1236, gastei Cr$ 11.000,00 na banca da Praça Santa Tereza.



Estávamos próximos de casa, mas mesmo assim nos molhamos com os pingos fortes que caíam naquela noite.

Chegando a casa, encontramo-la cheia de pequenas poças d'água. O piso de cera vermelho está frio. E os pintinhos que comprei no caminho de volta da escola semana passada estavam zonzos, como se se tivessem bebido.

_ Bota eles debaixo de uma lata e dá umas marteladas. Gritou painho do quartinho dos fundos.

Pus um a um debaixo de uma lata de leite vazia e dei umas batidas fortes em cima dela. Não é que os que já estavam desfalecidos voltaram à vida.

Fiz uma casinha com papelão, forrei com roupas velhas, coloquei-os sobre elas e cobri com mais panos.

Em tempo em tempo ia olhá-los, e sempre havia um que estava cambaleando. Passei a noites batendo o martelo na lata, mas perdi três dos quatro pintinhos que comprei. Não tem explicação, como tudo por aqui. A lata salvou a vida de uma galinha, que seria morta depois.

Zoada de AzulejoOnde histórias criam vida. Descubra agora