*6

2 0 0
                                    

*
  - Henry, não foi isso que eu te ensinei – fala uma voz atrás de Anika.
  - Ravi? – pergunta Ani se virando para ver de quem era a voz.
  - Tagarela ou posso te chamar de Ani?
  - Padrinho – falo me levantando e correndo para abraçar a figura materializada que estava junto comigo desde que eu abri os olhos.
  - Princesinha – fala me abraçando forte do mesmo jeito que ele fazia quando eu era pequena, ele poderia ser uma “alma” materializada mais ainda irradiava um calor e conforto calmante.
  - O que? – pergunta Ezra chocado.
  - Como vocês se conhecem? – pergunta Yuri.
  - Pelo que eu me lembro desde que eu me entendo por gente, não contei pra vocês sobre ele antes porque achei que seria considerada louca – respondi sincera.
  - Como assim? – pergunta Henry coçando a cabeça.
  - Deixa que eu explico, antes de te conhecer, eu conheci a mãe de Kira que me fez prometer que se um dia ela tivesse um filho era para eu o proteger, não entrarei em detalhes agora, assim fiz, mas quando ela finalmente teve Kira eu já tinha passado desse plano então a mãe dela entrou em desespero por estar sendo perseguida por pessoas que queriam fazer mal a ela e a bebê, não pude fazer nada para impedir que ela fosse vendida mais fiz meu melhor para a preparar para a vida. Desde pequena expliquei quem ela era e porque ela não deveria lutar contra seus instintos e as histórias que ela considerava de ninar eram todas verdadeiras, ensinei a caçar, quando ela conseguia sair de fininho de casa, o que era quase nunca, mas Kyle era melhor no terreno de arrido.
  - Eu tenho que assumir que nunca poderia ter pensado nisso – fala Henry pensativo.
    - Ninguém pensaria.
  - Por isso você tem que se concentrar no treinamento, o espiritual quase sempre é o mais difícil para vocês crianças super agitadas, isso me lembra mais ou menos de como eu era com Kyle, não sei como você não matou os dois – fala Ani.
  - Você era o Kyle de saia e mais nervosa, posso dizer que me diverti muito com as discussões de vocês no meio da batalha. Kira isso é importante sinto que alguma coisa vai acontecer e você precisa estar 100% pronta.
Concordei com a cabeça sem muita animação, mas iria fazer o que eles queriam, fechei os olhos de novo me concentrando em minha respiração e atentando os ouvidos para qualquer barulho que eu pudesse escutar, até mesmo as respirações dos meus companheiros de meditação.
“Se ele for fazer aquilo de novo, por favor, me avisa” – peço para o Yuri.
“Pode ter certeza.”
Depois do que eu achei bastante tempo consegui sentir a vida e morte naquela pequena clareira e a presença de Henry e Anika, eles eram como estrelas cadentes brilhando tanto que até machucava meus olhos, ao que parece eles perceberam que eu consegui isso porque senti uma mão no meu ombro me puxando para fora do mundo espiritual.
  - Já está ótimo por hoje, o que você conseguiu sentir? – pergunta Ravi.
  - Henry e Ani, eles eram como estrelas brilhantes.
  - Isso é bom, amanhã quero que você faça a mesma coisa, só que na casa, e tente ver quem mais consegue achar ou descobrir, faça isso todos os dias de manhã e de noite. Não se preocupe, eles estão aqui para te ajudar – fala meu padrinho apontando para as pessoas ao meu redor que concordaram com a cabeça sorrindo como se meu progresso fosse o deles.
  - Eu sou bom com animais se você algum dia precisar e só me chamar – fala Ezra se levantando e pegando no colo um Lince que estava escondido na relva.
Com toda a certeza o bicho normalmente o atacaria sem pensar duas vezes, mas ele parecia mais um gatinho folgado que queria atenção do dono, Ezra ficou fazendo carinho nele como se não fosse nada de mais e eu estava com o coração na mão.
  - Relaxa, esse daí não tem medo de perder alguns dedos por mordida – fala Anika como se não fosse nada.
  - Esse é a Ylva – fala o azulado.
  - Ele tem a mania de dar nome para todo bicho que ele acha, quase todos têm o mesmo nome, tem uma matilha de lobos por aqui que ele chama de lobos Lycaon, e o alfa de lá é chamado de Done – fala Yuri, o novo com tom de troça em sua voz.
  - Vem aqui fazer carinho nela Kira, juro que ela não irá fazer nada.
Me aproximei com um pouco de receio mais o Lince apenas me olhou com os olhinhos cheios de curiosidade o que me fez aproximar dela e colocar minha mão em suas costas, ela respondeu com um ronronado fofo, miando em acordo se aconchegando ainda mais em Ezra por alguns momentos, até suas orelhas se agitarem de um lado a outro pressentindo alguma coisa.
Ela saiu com cuidado dos braços do mais novo e saltou para a relva, achei que já tinha ido embora por medo, mas estava redondamente enganada quando ela voltou para perto da gente e olhou para trás miando animada, logo depois quatro cabeças pequeninas saíram do lugar que ela estava antes e vieram cambaleando em nossa direção.
Três eram filhotes de Lince, pois sua pelagem era mais espessa e cinza, mas o quarto era com certeza um gato, seu rostinho era dividido em preto, laranja do lado direito e um minúsculo pedaço branco em cima do focinho. Eles não deveria ter nem 2 meses.
Me agachei perto do gatinho que cambaleava para mais perto de mim até enfiar seu pequeno rostinho na minha mão estendida, o pequeno piscou calmamente e percebi que seus olhos eram da cor verde escuro, uma cor rara, mas muito bonita.
O peguei no colo tomando cuidado para não irritar a mamãe Lince e ela achar que eu estava roubando o filhote dela, virei o pequeno de barriga pra cima para fazer carinho e descobri que era uma menininha, ela estava um pouco desnutrida e com pequenos arranhões em seu flanco.
  - Como esse bebê parou na toca de um Lince? - pergunto.
  - Pelo que eu vi nas lembranças de Ylva ela achou o corpo da mãe dela morta pela região, possivelmente envenenada, posso dizer, ela tinha mais três irmãos mais foi à única que resistiu e Ylva ficou com dó e a pegou para criar, mas seus filhotes não acharam essa ideia muito boa e batem nela continuamente por causa de leite.
  - Princesa, essa gatinha foi enviada para te proteger - fala Ravi parando do meu lado fazendo carinho no queixo dela.
  - Como assim?
  - Alfas às vezes por escolha própria ou por destino tem animais de estimação que são sua proteção e ajuda nos momentos de necessidade. Eu tinha um cachorro, igual Akien chamado Akira, Kyle teve sorte de ter dois, Akien e Dave eram dele e passaram para Henry e Heidi, Ezra tem Scott, e Ani tem a Moyra, ela é uma coruja,  então deixe seus dentes bem longe dela.
  - Como eles estão vivos ainda? - pergunto ignorando a tentativa de brincadeira sobre corujas.
  - Normalmente como eles estão intrinsecamente ligados ao seu dono, muitas vezes pegam nossa "habilidade" de viver muito. Aki e Dave ainda vão viver para ver seus netos, isso eu tenho certeza.
  - Você precisa dar um nome para ela, Kira - fala Ani.
Pensei um pouco, acabei mordendo o lábio inferior, uma mania conquistada depois de muito tempo ficando ansiosa, deveria ser um nome legal mais ao mesmo tempo exclusivo, lembrei do nome de alguns bichinhos que eu tinha visto em um filme que se pareciam demais com o filhote.
  - Juniper o nome dela vai ser Juniper - exclamo feliz.
  - Nome estranho para se dar para uma fêmea - fala Yuri.
  - O nome é unissex - respondo tentando não resmungar.
  - Sem mostrar os dentes às crianças - fala Henry dando um sorriso mínimo com a implicância de Yuri com o nome.
  - Ele começou - aponto para o maior.
  - Deixa ele Kira, só reclama dos nomes, mas não ajuda a escolher - fala Ezra com uma carinha irritada, mas no fundo estava apenas brincando.
  - Vocês devem voltar para casa e cuidar dela.
  - Quando você vai voltar? - pergunto um pouco triste por ter que me despedir dele.
  - Logo princesa, mal vai dar tempo de você falar batata frita - fala fazendo carinho no meu cabelo e dando um sorriso que passava conforto e até amor, depois de falar isso ele sumiu como sempre.
  - Batata frita - sussurro tristemente, caminhando de volta para casa.
  - Kira, me deixa dar uma olhada nessa pequena - pede Ani estendendo as mãos.
Entreguei para ela, continuei andando cabisbaixa não me importando muito sobre o que ela iria fazer, confiava nela e sabia que não iria fazer nada de mal ao filhote.
"Kira, você tá bem?" - escuto a voz de Yuri perguntar com um tom preocupado.
Balanço a cabeça em não, Henry tinha tomado a dianteira como sempre e Ezra e Anika estavam mais para trás conversando sobre o gato, Yuri estava ao meu lado mais em uma distância respeitosa.
"O que aconteceu?"
"Não gosto quando ele tem que ir embora, isso sempre me lembra coisas ruins. Sempre que ele passava a noite me contando histórias as crianças não conseguiam dormir direito e Banks me castigava, as vezes me mandava trabalhar o triplo apenas por prazer ou me batia”- falo o que estava engasgado em minha alma a anos, sabia que ele não me conhecia mais precisava contar isso para alguém.
"Eu sinto muito, se me contasse isso antes ele não sairia daqui vivo" - rosna ele apertando as mãos em punhos.
"Isso não mudaria nada do que ele já fez comigo, o deixe viver para sofrer com o karma."
"Você é evoluída até para um lobo."
"Não sou evoluída, apenas parei de tentar consertar uma coisa que não se conserta." "Será que Henry tem livros que falam sobre esse elo? Estou curiosa para saber como ficou tão fácil me comunicar com você sendo que com o resto da alcateia só podemos nos falar quando estamos transformados.”
"Ele deve ter alguma coisa na biblioteca dele, os textos antigos devem fazer menção."
"Vocês tem uma biblioteca?" - pergunto animada.
"Temos, minha avó Jill era uma amante de livros voraz e isso passou para a família, muitos dos livros que temos foram dela. Cada pessoa tem seu espaço, iremos criar o seu também se você quiser."
"É claro que eu quero, nunca tive dinheiro para comprar livros, ficaria mais que feliz em ter minha parte, eu sempre ia nas bibliotecas quando Banks estava apagado e eu conseguia sair, mas não é a mesma coisa de ter o seu."
"Qual livro você mais gosta?"
Continuamos a conversa animada entre nosso "elo" não sei como chamar isso ainda, estava tão avoada que nem percebi que estávamos na frente da casa e Ani tinha posto a mão em meu ombro me virando gentilmente para ela entregando Juniper.
  - Peça para Lena um pouquinho do leite em pó de Jacen e faça meia mamadeira, temos algumas perdidas pela casa então vai ser fácil você achar. Isso é importante para ela criar um laço com você, qualquer coisa peça ajuda.
Concordei com a cabeça pegando o gatinho que se enroscou em meus braços e fui logo atacada pelos cachorros depois de passar da porta, eles latiam alto tentando ver o cheio novo, afastei Aki que pulava animado chegando a minha altura em cada pulo.
Lena estava no quarto dela e de Jacen, tive que perguntar para Ezra onde era e ainda me perdi um pouco, bati na porta um pouco tímida.
  - Lena, eu posso pegar um pouco de leite do Jace? E você sabe onde tem uma mamadeira sem uso nessa casa enorme?
  - Claro que pode Kira, nem deveria ter perguntado era só pegar e depois ter me falado, tem uma ainda na embalagem debaixo da pia. Desculpa a pergunta mais pra que você precisa disso?
  - Pra essa pequena aqui - mostro para ela e Jace veio animado, mas foi cuidadoso quando viu o tamanho do bichinho.
  - Que legal Kira, fico feliz que ela esteja em boas mãos, agora vá lá fazer o leite dela.
Peguei o Jace no colo, depois que Lena deixou, e ele estava com Juniper entre às mãozinhas tentando não apertar muito, chegando à cozinha coloquei os bebês sentados em cima da bancada e virei às costas para pegar a mamadeira, coloquei água e pus no micro-ondas, as tias da limpeza que eu conversava na escola, quando eu já estava no ensino médio e Raul deixou eu fazer um ano presencial para ver como as coisas seriam, elas eram as únicas que conversavam normalmente comigo, as crianças eram cruéis e me ignoravam, elas falavam que não era bom dar o leite em uma mamadeira que não foi esterilizada, enquanto esperava o apito do micro-ondas me virei para pegar o leite.
  - Kira não se pode deixar o Jacen desse jeito sem ficar olhando, ele é hiperativo e pode cair - escuto a voz de Kara.
  - Desculpa, eu tava de olho até agora - digo pegando a mamadeira quente e jogando a água na pia começando a lavar.
  - Tudo bem, de quem é esse gato e porque carambas você está com uma mamadeira?
  - É para o gato, ele é meu agora - respondo tentando não perder as contas de quantas colheres de leite eu já tinha colocado.
  - Vou levar eles para a sala e quando tiver pronto eu te ensino a fazer isso certo - fala ela pegando Jace no colo indo em direção à sala.
  - Pronto - digo depois de apanhar um pouco com o leite para ele não ficar empelotado ou muito ralo, ainda tinha leite espalhado na minha camisa inteira. Entrego para Kara e assisto ela pacientemente enfiar o bico na boca de Juni e com cuidado ir abaixando a mamadeira pela quantidade que ela estava sugando.
  - Eu sei que você é enfermeira, mas como você sabe lidar com animais assim?
  - Instinto de ômega, além disso, eu cursei quatro semestres de veterinária até descobrir que é mais fácil cuidar de humanos.
Fiquei vendo e repassando na minha mente o que teria que fazer, no final da garrafa ela deixou em minhas mãos, tentei fazer tudo que ela tinha feito, mas não deu muito certo e às vezes ela apenas ria ou dava dicas de como deixar mais confortável para mim e para o filhote. Jacen estava do lado de Kara olhando tudo atento e perguntava o porquê de fazer isso ou aquilo, a mais velha respondia como se ele fosse uma pessoa adulta não uma criança de 4 anos.
  - Você tem que treinar bastante para ter filhotes, mas não é impossível - fala Lyra aparecendo no fim olhando para meu estado despenteado e manchado com um sorriso sacana.
Acabei ficando vermelha com a sugestão de ter filhotes e abaixei a cabeça brincando com Juniper que tentava morder meus dedos.
  - Lyra, perto do menino não, mas Kira sério você foi muito melhor do que algumas mães de primeira viagem, estou orgulhosa de você - fala Kara me dando um sorriso carinhoso.
  - Obrigado, agora acho que vou tomar um banho, cheiro de leite depois de seco é insuportável.
Corri para o banheiro antes de mais alguém vier fazer piadinhas pela minha condição, peguei qualquer roupa que apareceu pela frente e deixei Juniper enroladinha em minha camisa cheia de leite, ela estava para dormir mesmo então lavei os cabelos olhando para ver se ela estava bem eventualmente.
Estava terminando de me vestir quando escutei uma rápida batida na porta, gritei um já vai jurando que era Lyra ou Adrian que queriam conversar comigo, mas quase caí para trás quando vi Yuri sentado em minha cama analisando minhas coisas calmamente.
  - Oi.
  - Oi, você tem tempo? Quero te mostrar uma coisa.
  - Tenho sim, deixa eu só arrumar as coisinhas dela e já vou - aponto para a bolinha laranja e preta na minha blusa ressoando calmamente.
Ele concordou com a cabeça e deitou na minha cama, o que eu achei audacioso demais, esperando eu terminar de arrumar a pouca bagunça que tinha feito e as coisas de Juniper, foi relativamente rápido e estava escovando os cabelos quando ele levantou e tirou a escova da minha mão.
  - Não é desse jeito, assim você quebra todos os fios - fala passando a escova levemente nos emaranhados, podia ter cabelo curto mais ele dava nó apenas de eu piscar.
Murmurei um obrigado quando ele devolveu a escova e me mandou sentar no chão mesmo, fiz o que ele pediu ainda desconfiada do que poderia ser quando ele começou a fazer algum penteado elaborado, estava surpresa de que seus dedos fossem tão ágeis para coisas assim, uma pequena e maliciosa parte ficou batendo na tecla do que mais esses dedos poderiam fazer se ele quisesse, tive que segurar muito essa parte, mas escutei uma risada dele fiquei vermelha imediatamente por ele ter conseguido ler esses pensamentos.
  - Eles podem fazer mais do que você pode imaginar - sussurra ele em minha orelha dando uma pequena mordida no lóbulo - Agora pode levantar já terminei.
Levantei toda esquisita para não me apoiar nele e fui me olhar no espelho, o penteado consistia em várias tranças finas embutidas, estava a coisa mais perfeita.
  - Obrigado Yuri, ficou maravilhoso - falo me empolgando um pouco o abraçando apertado, ele demorou uns dois segundos, não sei se surpreso ou se ele não era acostumado a contato físico mesmo, para devolver o abraço me apertando forte.
  - De nada, a modelo ajudou bastante, agora vamos que eu preciso te mostrar a biblioteca - fala pegando minha mão e me arrastando para fora.
  - Espera - falo me soltando e trancando a porta para que nenhum dos cachorros entre no quarto e machuque sem querer o filhote - Agora podemos ir - pego sua mão de novo. 
  - Onde você aprendeu a fazer isso? - pergunto curiosa.
 - A antiga matilha da minha avó era comum as mulheres trançarem o cabelo como demonstração de força, apenas guerreiras legítimas poderiam usar as tranças, Ani ensinou para minha mãe e então ela me ensinou isso já que ela não teve uma filha para passar essa tradição, sua esperança é que eu passe isso para sua nora ou para minhas possíveis filhas, já que ela finge que não estará viva para ver seus netos.
Passamos por Adrian e Conrad que estavam no quarto ao lado deitados no chão conversando. Parei no batente da porta batendo levemente para chamar a atenção deles, os dois pararam o que estavam fazendo para me olhar arregalando os olhos no processo.
  - Kira quem fez essa mágica no seu cabelo? - pergunta Conrad.
  - Tá melhor que aquele coque que eu vi no dia que te conheci - emenda Adrian.
  - Foi Yuri que fez, e antes que você pergunte Conrad. Eu usava um coque para amarrar o cabelo até o dia em que encontrei Adrian e ele falou que era horrível o penteado, aí comecei a deixar solto ou em um rabo de cavalo pra Banks não me achar ou reconhecer. Mais eu vim aqui pedir pra vocês cuidarem da Juniper.
  - Quem é Juniper? - indaga Adrian confuso.
  - Esqueci que vocês não sabem da novidade - falo coçando a nuca - Então ela é o um gato que eu achei hoje e pelo que me disseram vai ser meu guardião pelo resto dos meus dias, podem ficar no meu quarto se quiserem, ela está dormindo agora, só tomem cuidado pra não deixar os cachorros, nem Koda, entrar lá porque ela ainda não foi vacinada - falo voltando para o corredor seguindo Yuri que estava a alguns passos à minha frente para me deixar falar com eles sozinha.
Passamos por mais três quartos, o quarto seguinte era de Brenda e ela estava revelando algumas fotos para colocar em sua pasta e me pediu para ver se estavam boas, concordei e falei que mais tarde passaria para conversarmos melhor.
O último era o de Kara e Tristan, esse estava fechado mais não me importei, percebi que tínhamos chegado a biblioteca pela suas duas portas de carvalho de verdade com lindos entalhes mostrando flores, borboletas e pequenos animais, maravilhada passei os dedos em cima de uma flor sentindo a textura.
  - Esse foi o presente de casamento do meu avô pra minha avó, eles casaram escondido então eu nem imagino como ele escondeu essa coisa enorme.
Ri do comentário dele e empurrei as portas, que eram mais leves do que eu imaginei, me deparando com em espaço amplo com diversas prateleiras e cheio de livros que pareciam ter acabado de sair da editora. A sala estava separada em dois andares e tinha um sofá e algumas poltronas espalhadas pelo lugar o deixando aconchegante, fui batendo os dedos nas lombadas dos livros me atentando nos nomes de cada um.
- Essa seção era da minha avó, com certeza Heidi a deixará pegar qualquer um emprestado se quiser. A minha é essa aqui - fala Yuri apontando para uma parede inteira do outro lado da sala.
Fui andando até lá vendo vários livros que eu já tinha lido e mostrava todas as fases que ele já teve na vida, desde os livros de pintar e colorir de criança, com certeza foi Heidi que guardou, os de adolescente com tramas de mistério e mitologia até os de biologia da faculdade.
  - Quer pegar algum? A parte do Henry está escondida no quarto dele, por isso ainda não fui procurar as respostas de nossas perguntas.
  - Onde seria minha parte se eu tivesse alguma coisa?
  - Sua parte é lá em cima do lado da de Anika.
  - Se você quiser pegar algum livro emprestado fique a vontade, como sei que você tem gostos parecidos com o meu, minha parte está aberta para investigação - fala ele dando uma risadinha e surrupiando um livro da estante de sua avó.
Fui para a parte dele investigando os livros inéditos que ele tinha e peguei o título que era o último de uma série muito famosa, mas que não consegui ler, pois não tinha na biblioteca e quando chegou eu nunca conseguia reservar e sentei no sofá, o livro era bom e conseguiu capturar toda minha atenção, nem escutando os arredores eu estava mais, era quase um milagre alguma coisa desprender tanto foco meu, percebi que Yuri tinha se sentado na outra ponta do sofá com algum livro de mitologia. Fiquei tão concentrada no enredo da história, que nem tinha me ligado que já estava escuro e minha barriga roncava, apenas levantei a cabeça do livro quando senti o cheiro de Heidi e escutei a risada dela.

PakkeOnde histórias criam vida. Descubra agora