Quando chegamos tivemos que dar a volta para não sujar a casa inteira pelas patinhas enlameadas dos cinco e entrar pela lavanderia, de lá tinha uma visão ampla da cozinha.
- Meninas vão se arrumar e desçam porque daqui a pouco a janta está pronta – fala Anika com um pano de prato no ombro quando percebeu que tínhamos chegado.
Concordamos com a cabeça e Lyra foi tomar banho enquanto eu fui tirar as guias dos cachorros e dar água e comida para eles, voltei para ver o que Ani estava fazendo na cozinha. Ela estava concentrada nas panelas, mas ainda deu uma risadinha quando me sentei em uma cadeira aleatória que estava perto do fogão.
- Não era para você estar se arrumando? – pergunta olhando para mim rapidamente.
- Lyra está no banho agora e não quero colocar o vestido porque tenho certeza que irei sujar.
- Depois eu quero ver, viu senhorita – fala brincando.
- Ani, você que é a mais velha daqui, como é ter um companheiro e essas coisas, Lyra me explicou mais preciso ter certeza.
- Pode perguntar o que quiser sem medo. Eu nunca tive um companheiro, na verdade eu nunca consegui o achar, mas tenho quase um diploma em aguentar casais quase acasalados. Você tinha que ver o drama que foi quando Kai e Heidi descobriram que eram companheiros, eu nem vou falar sobre Kyle e Jill, aquilo foi meu inferno astral e olha que eu só tinha 17 anos.
- Eles podem falar na mente um do outro antes de serem acasalados?
- Normalmente não, por quê?
- Quando Yuri me atacou depois da briga ele pediu para eu me transformar, só que eu ainda não tinha ligação com a matilha e nem conhecia ele.
- Isso é estranho, irei investigar para você se quiser.
- Eu quero, obrigado desde já, esse negócio é como amor à primeira vista? A mordida dói?
- De nada, nenhum pouco, já vi muitos relacionamentos assim que podem demorar ou ser extremamente rápidos depende da pessoa e posição hierárquica que está. Mas relaxa filhote sei que tudo vai dar certo. Há quem diga que não, mas todas as pessoas com quem conversei dizem que dói como se estivesse queimando, depende muito da quantidade de dor que a pessoa pode aguentar.
Não pude fazer as outras 500 perguntas que eu queria, pois Lyra chegou na hora que eu abri a boca.
- Kira pode ir tomar banho agora, coloca o vestido e um moletom por cima para não sujar – fala Lyra.
Concordei com a cabeça e fui para o quarto separando o que eu precisaria e tomei um longo e relaxante banho quente lavando os cabelos, escutei os outros já se juntando para comer e me arrumei mais rapidamente para não perder a comida quentinha.
Com a blusa na mão desci as escadas correndo e já pegando um prato quando cheguei na cozinha, esqueci que eles ainda não tinham visto o vestido e me senti envergonhada quando os olhares se voltaram para mim de novo, e dei um sorriso amarelo.
- Uau Kira, você tá linda – falou Ezra de boca cheia.
- Valeu – falei colocando a blusa quando fui pegar a comida.
Fiz uma pequena montanha no meu prato e fui sentar ficando de frente com Heather, elogiei a comida milhares de vezes, Ani tinha feito macarrão ao molho bolonhesa e os temperos eram maravilhosos, depois da panela ter acabado, os outros foram se arrumar ou assistir TV, no meu caso foi o segundo e Henry me mostrou alguns dos livros que ele tinha e ele até me emprestou um, estava perdida dentro do livro concentrada em seu enredo que até esqueci do que faria daqui a pouco e só sai do mundo da lua, quando Heidi bateu palmas para chamar atenção de todo mundo.
*
- A lua está quase em seu ápice então devemos começar.
Levantei meio incerta do que fazer e Henry colocou a mão em meu ombro me levando para o quintal, seu toque era quase paternal e por isso relaxei mesmo que a ansiedade corresse solta em meu estômago. Não tinha visto o quintal antes, Lyra se certificou que eu não iria espiar antes da hora, era maravilhoso, tinha um canteiro de flores de diferentes espécies cuidadosamente escolhidas para não ter um cheiro muito forte, uma piscina de bom tamanho e perto da piscina um pequeno círculo de pedras com mais flores envolta. Heidi foi para o centro me chamando com a mão e olhei para Henry pedindo ajuda, ele apenas deu um risinho sem dentes e me empurrou para o círculo, com as pernas tremendo fiquei de frente a alfa.
- Todos da alcateia devem presenciar a entrada da nova integrante, Kira Banks repita comigo - Heidi disse com sua voz de comando - A matilha é uma família, e a força da matilha é a família, estaremos juntos a cada passo do caminho, nos momentos bons ou ruins e sempre devemos agir como um só – quando termino de repetir Heidi me estende a faca.
A peguei sem medo e fiz um corte um pouco profundo de mais fazendo o sangue escorrer pelos meus dedos, Heidi também fez um corte e estendeu a mão, fiz a mesma coisa me surpreendendo com o cuidado que ela pegou minha mão, hesitando um pouco peguei a dela e levei para a boca chupando o sangue que tinha o gosto metálico de sempre, mas dessa vez senti uma eletricidade passando pelo meu corpo e minha loba ficou hiper-consciente de todos a minha volta, escutei um sussurro de “bem vinda” e logo diversas vozes entraram no coro. Olhei para os meus novos irmãos de matilha e todos estavam sorrindo e senti que Adrian queria me abraçar mais ainda não tinha terminado, Heidi pediu calmamente para eu tirar o vestido e me transformar, fiz o que ela pediu ainda com vergonha de todos me verem.
Quando vi estava em forma lupina olhando embasbacada para a figura de Heidi Campbell se transformando em uma linda e poderosa loba com os pelos em um tom branco igual neve, seus olhos tinham a coloração azul mais clara do que seu filho, ela colocou a pata em meu pescoço gentilmente aplicando pressão para que eu me abaixasse e submetesse, minha loba brigou um pouco mais a acalmei falando que não precisava disso então apenas abaixamos a cabeça em respeito. Com isso ela tirou a pata e lambeu carinhosamente minha testa e virou para o resto que já estavam em suas peles também.
Como estávamos em um círculo não demorou muito para que todos conseguissem sentir meu cheiro e eu o deles, admito que os cheiros de Anika, Heidi, Henry, Alexei e Kai tinham um aroma calmante que me passava a sensação de cuidado e familiaridade. Depois de mais alguns momentos comecei a abanar o rabo igual um cachorro feliz porque finalmente me sentia em casa.
Quando foi a vez de Conrad chegar perto de mim, ele primeiro deu uma mordida na minha orelha e ficou pulando de um lado a outro brincando comigo, Yuri ficou um pouco mais para trás, mas também começou a dar pequenas mordidas na minhas costas, enquanto estava brincando com eles me perdi um pouco no tempo e percebi tarde de mais o que Adrian, ele tinha a pelagem castanha no resto do corpo e cinza no dorso, planejava, ele usou minha distração e quando vi já estava dentro da piscina e nem sabia como isso tinha acontecido, tentei inutilmente sair mais como meu pelo estava molhado sempre escorregava e voltava ao zero.
Kai teve a decência de me ajudar a sair e dei uma olhada em como ele era transformado, como pessoa seus cabelos eram grisalhos e seu rosto tinha sempre um sorriso de canto nos lábios e seu lobo não era diferente, ele era da cor creme com algumas partes que jurava ser dourado, seu focinho era alongado mais parecia que faltava pouco para ele dar risada. Quando finalmente sai, trotei alegremente para o lado de Adrian que me jogou e me sequei jogando água em tudo, Lyra, ela tinha os pêlos castanho avermelhados, e Anika também se molharam sem querer e os três vieram para cima de mim tentando me morder de brincadeira.
Sai correndo desviando deles ainda pingando e tive que parar por Heidi começar a uivar, os outros a seguiram e eu fui a última a colocar minha voz no conjunto, quando terminamos Anika chegou ao meu lado esfregando sua cabeça na minha, sua loba era esguia e seu pêlo tinha um mistura de branco, dourado com listras pretas que me lembrou um tigre e seus olhos eram da cor acinzentado quase branco, o que surpreendeu por ser uma cor diferente.
Não tive oportunidade de perguntar o porquê dessa cor, pois Ezra pulou em cima de mim e me derrubou, entendi que ele queira brincar então comecei a correr atrás dele que disparou mata adentro e o segui, Lyra e Jacen, ele era pequeno mais surpreendentemente rápido, estavam atrás de mim tentando me fazer tropeçar de qualquer maneira mais sempre conseguia me equilibrar no último segundo, sentia o resto da matilha não muito longe da gente, os adultos davam risadinhas com nossa brincadeira infantil. Adrian e Conrad se juntaram a bagunça, Conrad mordeu levemente a orelha de Jacen que se virou para mordê-lo e com cuidado, ele o pegou pelo pescoço e veio para meu lado, deixando assim o menor com a oportunidade de me morder livremente.
O azulado percebendo que eu não estava mais em sua cola, desacelerou para ver o que tinha acontecido e soltou um riso canino vendo minha situação, enquanto tentava fugir dos ataques de Jacen, Adrian, Lyra e Ezra me cercaram, não sei como. Vi uma pequena brecha no cerco do lado de Adrian, então seria por lá mesmo minha rota de fuga, esperei eles chegarem um pouco mais perto de mim, tomei impulso e saltei por cima dele sem muito esforço caindo graciosamente do outro lado já correndo em disparada a frente, quando se mora em um deserto cheio de buracos, desfiladeiros e armadilhas acaba aprendendo uma coisa ou outra.
“Como você fez isso?” – perguntou Conrad com a voz esganiçada de surpresa.
“Cada um tem seus segredos” – respondeu Heidi rindo da surpresa dos outros.
Continuei correndo até que senti o cheiro de um coelho, meu corpo ficou tenso e minhas orelhas ficaram em alerta na hora, ele estava a alguns metros então com cuidado fui chegando de fininho, os outros também tinham sentido o cheiro e me deixaram pegar ele sozinha, quando estava a centímetros dele pulei abocanhando suas costas e sem pensar muito quebrei sua coluna, senti o gosto de sangue e me deitei para comer minha pequena presa.
Heidi, Kai, Henry e os outros foram pegar outras coisas, Lyra estava saltitando de felicidade porque queria um cervo de tudo quanto é jeito, não fui com eles por medo de fazer alguma coisa errada no meio da caçada e isso prejudicar alguém, ainda não sabia como caçar em bando então era melhor ficar por aqui mesmo, Ani deitou do meu lado e Yuri deitou na nossa frente, entreguei um pedaço para os dois que empurraram de volta deixando claro que era para eu comer. Dei de ombros e acabei com o pobre coelhinho, fiquei lambendo o sangue da minha pata e resolvi perguntar a coisa que estava me intrigando desde que vi os olhos dela.
“Ani, porque seus olhos são cinza, sendo que não são assim normalmente?” – indago deitando a cabeça nas patas.
“Alfas tem cores diferentes nos olhos, para diferenciá-los dos outros, eu fui expulsa de minha matilha quando mais nova que o pirralho do Ezra e por isso meus olhos são dessa maneira para demonstrar que eu não pertenço mais a nenhuma matilha” – fala como se fosse normal.
“Mais você está nessa, isso não conta?” – pergunto levantando a cabeça e vendo que Yuri tinha sumido.
“Conta, mas mesmo assim nunca voltarei a fazer parte da minha antiga, ela não era perfeita, mas era tudo que eu tinha e agora estão todos mortos.” – fala com uma voz chorosa.
"Desculpa, eu não queria ser invasiva” – digo me aconchegando do lado dela como forma de apoio.
“Tudo bem filhote, aquela foi uma época conturbada da minha vida.”
“Quantos anos você tem?” – perguntei, sabia que poderíamos viver muito tempo.
“71, na flor da idade, mas conheci um professor que conseguiu viver até os 900.”
“Uau tem alguém mais velho que você nessa matilha? Com todo o respeito é claro.”
“Sim, o Alexei deve estar com uns 200, o conheci e já estava com mais de 100 e Stella com provavelmente 1000, você vai a conhecer em breve, ela saiu em uma viagem a negócios e por isso não está aqui.”
“Como ela consegue ter 1000 anos?” – pergunto chocada.
“Ela é uma ômega durona, ômegas vivem mais que alfas e betas. Meu professor apenas viveu tanto tempo porque foi designado tarde, de onde ele vinha era normal descobrir o que você seria por volta dos 200 anos.
“Como isso é possível? - pergunto intrigada.
“Onde a matilha deles está instalada é uma região arborícola mais fechada então faz com que eles sejam menores, além disso o ritmo de crescimento deles é lento, ainda não sei o que faz eles crescerem lentamente. Enquanto um lobo normal atinge sua maioridade com 19 anos e já tem uma ideia do que eles serão, como Jacen, ele é apenas um filhote, mas todos já sabem que ele será um alfa, meu professor só descobriu o que era quando atingiu a maioridade aos 200 anos.
“Isso é interessante, tem outras diferenças entre matilhas?
"Bom, algumas são super pequenas, quase do tamanho de um Lhasa-apso, mas eles não são menos mortais, lembrem- se disso. Os antepassados de Alexei eles são maiores que a gente e preferem ficar em sua forma de lobo a maior parte da vida para se conectar com sua parte selvagem e fazer parte do ecossistema, o país que eles vivem é incrível e de uma fauna e flora maravilhosa. Eu sou um pouco nerd para essas coisas, Ravi adorava essa parte dos países que íamos e eu acabei pegando essa mania.
Ficamos conversando mais um pouco, adorei saber mais sobre os outros tipos de matilhas que tinham pelo mundo e suas peculiaridades, ainda mais saber sobre os outros animais que tinham e como eles poderiam ser nutritivos mais espinhosos ou briguentos.
“Vamos caçar mais alguma coisa?” - pergunto me levantando depois que percebi Anika lutando para ficar acordada, sentindo os outros atrás do cervo que Lyra tanto queria.
“Pode ir eu ficarei mais um pouco aqui, tenho que conversar com uma velha amiga”
Concordei com a cabeça e sai andando sem rumo quase enfiando o focinho no chão para sentir melhor o cheiro de terra molhada e folhas em decomposição, fui seguindo o cheiro até encontrar uma pequena cachoeira, com alguns peixes nadando confortavelmente, tentei pegar um, enfiando a cabeça com tudo e isso acabou assustando os peixes, que nadaram para longe na hora, tirei a cabeça da água, lamentando minha falta de tato enquanto me sacudia para tirar o excesso.
Senti um olhar em mim e atenta, olhei em volta esperando um ataque, um barulho atrás das árvores me chamou atenção e rosnei mostrando os dentes com a intenção de assustar quem fosse.
“Não é assim que se pega um peixe” – fala Yuri saindo da escuridão que seu pelo se camuflava.
“Desculpe se não sei fazer isso por ter vivido no deserto” – falo irônica.
“Quer que eu te ensine?” – ele ignorou meu mau humor e foi em direção à água olhando para como os peixes nadavam.
Em um piscar de olhos ele já estava com um na boca, e chegou perto de mim o jogando em meus pés.
“Como você fez isso?” “Obrigado” – lembro minha loba de ser educada.
“De nada, você vai aprender isso nos treinos que Ani vai te dar.”
Não respondi por que estava muito entretida com o peixe, meu instinto gritava que era para eu aproveitar e comer tudo que tinha chance, pois não sabia quando teria essa oportunidade de novo, terminei de comer sob o olhar atento de Yuri que tinha subido em algumas pedras.
“Você conhece bem essa floresta?” – uma pergunta idiota, eu sei, mais queria andar até minhas patas começarem a sangrar.
“Desde que nasci, aonde você quer ir” – pergunta descendo em um pulo caindo na minha frente, sem querer me encolhi com medo de seu tamanho, mas voltei ao normal.
“Não tenho ideia, me surpreenda grandalhão” – ele rosnou pelo apelido mais foi na frente mostrando o caminho.
O segui sem fazer muito barulho percebendo que ele não era muito de conversar e ficamos andando até cansar e paramos em um lago para descansar e enquanto ele ficava bebendo água eu fiquei nadando em círculos na beira para não ser empurrada rio abaixo pela correnteza. Conrad, Adrian e Lyra se juntaram a gente uma hora e ficamos apenas olhando o brilho as estrelas diminuindo pelo começo da manhã e conversando, Lyra ficou contando super animada de como foi derrubar o cervo que eles comeram, eles ficaram por mais um tempo até o sol nascer e depois foram explorar a floresta, não quis ir com eles porque queria conhecer Yuri melhor e entender melhor quem seria meu companheiro, ele começou um pouco sem paciência a me ensinar a pescar, todas minhas tentativas deram errado, acabei ficando irritada e sai do rio ignorando os chamados dele e fui caçar de novo, não estava com fome mais apenas para mostrar que eu conseguia, acabei pegando um ganso e jogando os pés dele.
“Kira eu sei que você sabe caçar não precisava matar o pobre coitado para mostrar seu ponto, sinto muito por você ter entendido mal o que eu falei, mas você precisa de mais concentração quando for pescar. Isso não é uma ciência exata e eu também não consigo às vezes, vamos dar uma volta para esfriar a cabeça, quero te mostrar um lugar que só eu conheço e é ótimo para se esquentar e secar nesse sol que está fazendo” – fala ele cutucando o corpinho do ganso e batendo sua cabeça levemente com a minha para me fazer andar.
Fomos para alguns pontos perto do final do território da matilha e por perto tinha uma pequena montanha com uma rocha plana no final que com certeza dava para ver a floresta inteira e um pouquinho da cidade, pela posição do sol já deveria ser por volta das duas da tarde e o sol batia esplendorosamente em cima da pedra. Não entendi por que Yuri queria me mostrar isso mesmo depois de eu irritar ele, começamos a subir e no meio demos de cara com um alce maior ainda do que Yuri e parecia que ele não estava em um estado de espírito muito bom. Ele tinha uma mancha branca ao redor do olho e fazia que seus olhos pretos ficassem ainda mais assombroso, o alce apenas olhou para nossa cara e deu um berro que fez minha orelha arder, tentei dar pequenos passos de volta mais ele percebeu isso e gritou de novo.
“Yuri o que vamos fazer?” – pergunto um tanto desesperada.
“Corre o mais rápido que conseguir quando eu falar” – responde tentando me esconder do alce com seu corpo.
“No três, Um. Dois. Já” – fala se virando e disparando para o meio das árvores.
Sem nem pensar o segui correndo tanto que os músculos das minhas patas reclamaram de dor, o alce correu atrás da gente por um bom tempo, Yuri por ser maior era um pouco mais lento, então às vezes eu ficava um pouco para trás para chamar a atenção do alce enquanto ele abria uma distância segura, outras que ele me esperava para eu não me perder e saber como voltar para a casa. O demônio do alce nos seguiu incansavelmente até o entardecer e apenas depois de ele escutar outros urros e gritos, não sei especificar, de várias fêmeas de sua espécie, ele nos deu as costas e um olhar cheio de raiva e ódio e saiu.
“Porque ele nos seguiu tanto tempo assim?” – pergunto arfando.
“Época de acasalamento, somos predadores de seus filhotes, ele queria matar ou pelo menos aleijar a gente por garantia de que não fossemos atrás dos filhotes dele.” – responde também arfando e deitando no chão.
“Temos que voltar para a casa, sua mãe deve estar preocupada e eu tô com fome.”
“Duvido muito, eles sempre voltam amanhã, mas se você quiser podemos ir, certeza que o encontraremos no meio do caminho. Vamos descansar uns cinco minutos e depois voltamos tá.”
Deitei perto dele mais não nos encostamos, me enrolei como uma bolinha e mordi meu rabo igual uma raposa que cresceu demais, ele apenas levantou a sobrancelha como se perguntasse o porquê de eu fazer isso, o ignorei o tentei descansar, já estava pegando no sono, quando ele me cutucou com o focinho apontando para a direção que eu achava ser a de casa. Bufando levantei resmungando e acabei não vendo uma pedra de um tamanho razoável e acabei tropeçando, o que fez dar uma pequena risada.
Revoltada pulei em cima dele mordendo sua orelha por vingança e ele se balançou para me derrubar, mas não deu muito certo então se jogou no chão me fazendo ficar de barriga para cima e foi para me morder mais sai de sua área de ataque na hora certa e ele só mordeu terra. Fiquei trotando em volta dele rindo de sua cara de nojo enquanto tentava inutilmente limpar a terra de sua boca, quando ele conseguiu apenas me olhou com raiva e foi na frente, o segui tentando fazer de tudo para chamar sua atenção, mordi seus calcanhares, o empurrei de leve para o lado mais nada de dar certo e apenas recebia o silêncio.
Depois de muito tentar parei de atormentá-lo, pois sabia que estávamos chegando, senti o cheiro de todo mundo e realmente Yuri estava certo eles tinham acabado de chegar, ainda estavam transformados e corriam com os cachorros em volta deles, Jacen estava dormindo no cantinho junto com Lena que o embalava e observava os outros correrem. Dentre os cheiros que já estavam ficando normais para mim, mesmo com quase dois dias de estada, senti um cheiro muito característico que me fez tremer, o que não passou despercebido de Yuri.
Me transformei e acabei chamando atenção do resto do pessoal que me olhou sem entender, me virei para encarar a pessoa que me fez ter os piores anos da minha vida, o nojento junto com Marisol, que tremia com a imagem de vários lobos que poderiam fazer picadinho dela se quisessem, Raul me olhava de cima a baixo me comendo com os olhos, me senti desprotegida por estar sem roupa para aliviar os olhares indiscretos dele, ele não me via desse jeito desde os oito anos e naquela época ele já lançava olhares maliciosos para mim.
Adrian e Conrad pararam de brincar na hora quando perceberam os intrusos, rosnando em aviso, Heidi se transformou de volta ficando do meu lado, Ani e Lyra ainda em seus pelos ficaram em volta de mim e Yuri se enrolou protetoramente em volta de Heidi olhando atento os dois.
- Sentiu minha falta lobinha? – pergunta Banks dando um sorriso malicioso.
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Pakke
General FictionKira é uma licantrope sem matilha que fugiu de casa após algumas coisas darem errado. Correndo o enorme risco de ser atacada por alcateias já estabelecidas ela sai mundo a fora tentando encontrar onde pertence, depois de alguns problemas ao longo do...