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  - Kira há muito tempo atrás existiram dois irmãos alfas muito poderosos, um era branco como o luar e o outro negro como a noite, o branco era a personificação do bem puro, ele era alegre, amoroso, bondoso, confiável e altruísta. Já seu irmão era seu completo oposto, ele era a maldade pura, sempre irritado, mesquinho, egoísta, agressivo e definitivamente não confiável - fala Henry pegando um punhado de água em sua mão e se concentrando um pouco e fazendo a forma de dois lobos com ela.
  - Os dois um dia se desentenderam e se separaram, cada um foi para um lado e formaram suas próprias matilhas, eles e as matilhas deles ficaram em paz por décadas até uma discussão entre os filhos dos dois e a triste e inexplicável morte dos de todos os filhotes da matilha do irmão bom, com isso recomeçaram a guerra entre o "Bem" e o "Mal" que perdura gerações até hoje - na parte da guerra ele fez os lobos se atacarem fazendo assim um pouco de água voltar para a piscina.
  - Nosso pai se tornou selvagem, matando e torturando mulheres, e você sabe que podemos usar magia não muito complexa, mas os selvagens muitas vezes têm crias com feiticeiras que usam magia negra e com isso era normal selvagens fazerem magia de sangue, quando nosso pai estava para morrer seus olhos saíram da cor vermelho sangue, cor normal quando um lobo fica selvagem, para o azul de antes de ele cair para o lado escuro como chamamos.
  - Querida a intenção de contarmos essa história é para te preparar, há rumores nos quatro cantos do mundo que um lobo selvagem poderoso está se levantando e temos que ficar alertas para qualquer coisa. Por isso Ezra ficou irritado, ele viu com seus próprios olhos o que eles podem fazer e não quer isso de volta para ninguém, principalmente para nossa matilha.
  - Por isso estamos a treinando tão duramente, se tudo der errado precisaremos nos proteger e proteger nosso território, foi uma briga conseguirmos esse pedacinho de terra e eu lutarei até a morte para defender e sei que todos irão fazer o mesmo.
  - Ele irá atacar aqui?
 - Com toda a certeza, enquanto Benjamim estava comandando tudo, algumas pessoas como Lena e Anika, nós juntamos para destruir o que ele tinha feito e ficamos conhecidos, meu rosto e de Henry foram marcados para sempre como um alvo a ser derrubado para qualquer um que queira atacar outras matilhas. Por isso temos certeza que ele virá atrás de nós, Kira você não tem ideia de quantos alfas super machistas e fortes eu tive que matar ou aleijar para eles não matarem meu filho ou fazer mal aos meus protegidos eu não gosto disso nenhum pouco mais é um dever de um alfa.
  - Eu não sabia disso, claro que ser uma mulher comandando uma matilha fosse estressante mais nunca tinha imaginado que teria essas consequências.
  - Ninguém imagina querida, a cada ano que se passa eu fico mais fraca e receio que se virem me desafiar não poderei fazer muita coisa a respeito.
  - Você não pode colocar outra pessoa para lutar, igual na idade média que tinha os campeões?
  - Não, isso é uma regra clara de todos os lobos, se o alfa não conseguir proteger os seus e seu território não merece viver para comandar.
  - Isso não é justo – murmuro cruzando os braços tentando pensar em alguma maneira de ajudá-los.
  - A vida não é justa criança – fala Henry olhando para as estrelas.
  - Como eu posso ajudar vocês?
  - Não pode, iremos sair dessa. Já enfrentamos coisa muito pior não é mesmo – fala Heidi dando uma cotovelada no irmão que fechou a cara.
  - Apenas rindo para não chorar.
Terminado a conversa Heidi se levantou primeiro e entrou de volta a casa e Henry ficou mais um pouquinho olhando para ver se eu não tinha mais perguntas e quando viu que não, se foi também. Fiquei mais um tempo olhando para a piscina tentando entender ou pelo menos compreender a situação toda até ouvir Kara chegando, ela tinha feito plantão duplo hoje porque o hospital estava demitindo enfermeiras a torto e a direta, me levantei para ajudar a pegar suas coisas.
  - Como foi hoje Kara? – pergunto já segurando sua bolsa.
  - Estressante, como foi o treino com os meninos?
  - Pior ainda. Acho que eles deixaram um pouco de sobremesa para a gente afogar as mágoas.
  - Tristan já subiu?
  - Pelo que eu vi antes de sair, ainda não, ele ficou brincando com Juniper.
  - Só me falta ele querer ter um gato agora – murmura entrando na sala e encontrando seu “namorado”, porque não sei direito o que eles são, com Juniper e Volpi no colo com os olhos fechados.
  - É melhor você levar ele para cima, não garanto que se continuar aí Jacen o acorde aos berros – falo indo para a cozinha pegando dois pratos de bolo que estavam no balcão.
Estranhamente todos já tinham subido ou apenas tomaram chá de sumiço, Kara voltou cinco minutos depois de pijama bocejando e comeu o bolo rápido e foi dormir, desejei uma boa noite para ela vendo que ainda era sete da noite e eu estava entediada, não queria ir para a biblioteca nem ir para o quarto.
Tomando coragem subi as escadas indo para o último quarto da direita que era da Anika, batendo três vezes antes de ela abrir, o quarto dela tinha nas paredes um tom pálido de azul e percebi que na cabeceira da cama tinha um pequeno varal de fotos, apertando meu olhos levemente consegui ver ela em diferentes estágios de crescimento do lado de pessoas que eu não conhecia.
  - Kira o que você precisa? – perguntou depois de terminar de amarrar seus cabelos.
  - Estou entediada e queria fazer alguma coisa, desculpa a pergunta mais quem são aquelas pessoas?
  - Já tenho a solução de seu tédio, gostaria de ouvir uma velha mulher falando de seus bons tempos? – fala abrindo mais a porta fazendo um gesto para eu entrar.
Entrei no quarto observando o estilo minimalista que ela tinha, sentei em sua cama observando mais de perto as fotos, a primeira era ela sorrindo no meio de dois homens em um terreno devastado, mas eles pareciam felizes. Um eu sabia que era meu padrinho quando era bem mais novo.
  - Esse foi o dia em que lutamos em Asseut, esse da ponta esquerda como deve ter percebido é seu padrinho ou Ravi o do outro lado é Kyle.
  - Como foi essa batalha? Eu nunca escutei o nome Asseut antes.
  - Esse era um país e uma matilha que viviam no Egito, para você não ficar confusa os lobos tem países diferentes do que é mostrado nas escolas, muitos de nós agora moram no submundo pelo que eu sei poucos lobos moram aqui em cima.
Concordei com a cabeça ficando mais curiosa a cada segundo, ela deve ter entendido isso porque deu risada e tirou a foto para que eu observasse melhor, fiquei impressionada o quão jovem os três pareciam, Kyle só poderia ter no máximo 20 anos e ela uns 15.
  - Quantos anos você tinha?
  - 16, era meu aniversário esse dia por isso a foto, Ky, como Jill o chamava, deveria ter uns 25, eu acho.
  - Como ele era?
  - Ele se importava muito com as pessoas, claro que não demonstrava para não tirar a posse de bad boy dele, mas a coisa que mais machucava ele era perder ou apenas pensar em perder quem ele amava. Por isso ele ficou selvagem, em lugar algum enquanto vivesse, ele deixaria alguém me machucar ou machucar Jill e seus filhos não nascidos.
Ficamos conversando sobre as fotos, as coisas mais bizarras que tinham acontecido com ela, uma delas fez a gente ficar com lágrimas nos olhos quando ela me contou o que aconteceu para ela ser “expulsa” de sua matilha e como ela ficou mal depois por isso ter sido um dos fatores para Kyle ter trocado de lado.
  - Quer treinar? Ainda tenho umas boas histórias, mas não quero queimar todas em uma noite.
  - Pode ser, depois de hoje só quero treinar com você, Yuri e Ezra são cruéis.
  - Vamos você pode achar que eu sou menos cruel mais e só impressão mesmo.
Não achava que ela pegasse muito pesado comigo mais não iria entrar nessa discussão, fiquei em posição, Heather também não queria dormir então Ani achou bom eu tentar lutar com duas de uma vez, isso não foi tão fácil quanto eu achei que seria e quase cai de cara no chão várias vezes tentando escapar do golpe delas até escutar a porta da lavanderia abrir e uma voz sonolenta chamar a Heather, viramos para ver quem era e tomei um susto quando vi Ezra coçando os olhos perdido.
  - Desculpa gente, mas minha hora chegou – fala ela dando um sorriso amarelo para a gente.
Concordamos com a cabeça e olhei para Ani perguntando sem palavras o que tinha acabado de acontecer, ela apenas balançou a cabeça e pediu para eu esperar, tiramos cinco minutos de pausa e entramos para beber água, enquanto eu olhava para ela querendo respostas a mais velha apenas olhava para o fundo da caneca dela.
  - Ezra e Heather lutaram com a gente, e ele muitas vezes entre os ataques ficava com insônia ou tinha pesadelos terríveis, Jake passava as noites com Lena então ele sabia que não poderia incomodar eles, os coitados tinham pouco tempo juntos, Kaleb dividia o quarto com ele mais tem um sono pesado e não sabe muito bem demonstrar seus sentimentos então a única pessoa que poderia o ajudar era Heather, no começo ela ficava na cama dele até ele dormir mais aí a insônia e pesadelos foram se agravando e acabaram de dormirem na mesma cama, agora já virou costume e a gente nem fala mais nada.
  - Outra coisa, Ezra se tornou cleptomaníaco depois de tudo isso então quando temos uma disputa de território ou ameaça ele costuma pegar suas coisas “emprestado” como ele diz, pode ficar sumido por uns três meses no máximo depois ele devolve, Lyra vai te explicar melhor os esconderijos que temos por toda a casa para tentar amenizar isso.
  - Essa matilha é muito complicada – murmuro terminando minha água.
  - Você não viu nada criança, agora chega de moleza – fala se levantando e já saindo para o quintal.
Respirando fundo fui atrás dela e a vi na beirada da floresta conversando aos murmúrios com alguém, intrigada fui chegando mais perto para ver o que estava acontecendo e vi uma coruja no galho mais próximo à cabeça de Anika.
  - Moyra conheça Kira. Kira conheça Moyra, eu devo minha vida a essa espertinha, como Juniper ela também é minha guardiã.
  - Olá Moyra – falo levantando a mão para acariciar as penas da barriga dela que piou em acordo.
As cores de Moyra eram estranhas, na barriga e debaixo das asas sua coloração era de um branco perolado nas luzes do quintal e sua cabeça e corpo tinham um tom de verde que eu tinha certeza que estava imaginando. Depois de cumprimentar rapidamente a coruja fui para dentro e lavei a louça que estava na pia, não sabia de quem estava roubando o lugar mais a pessoa ficaria agradecida, eu acho pelo menos, depois disso fui para a biblioteca, originalmente não queria ir para lá, mas precisava ver onde era meu espaço e também queria achar alguma coisa interessante para ler.
Senti o cheiro de Heidi e Yuri antes mesmo de abrir a porta, Heidi estava sentada no meio do sofá com um livro enorme nas mãos e Yuri estava ocupando o lado esquerdo do sofá com a cabeça no colo de Heidi que conseguia ler em voz alta, fazer carinho no cabelo dele e virar a cabeça em minha direção e dar um sorriso caloroso.
  - Kira, querida, quer se juntar a gente?
Concordei com a cabeça me sentando do lado dela e tentando entender em que língua o livro estava e o que dizia.
  - Faça igual o Yu, não tenha vergonha criança, o idioma está na minha antiga língua materna por isso você não consegue entender.
Concordando com a cabeça fiz o que ela pediu interessada no que a história poderia contar, assim que pousei minha cabeça no colo dela, Heidi se mexeu um pouco deixando o livro nas costas do sofá e começou a acariciar meu cabelo também. Ela já estava no meio da historia mais não me importei com isso, pois estava aproveitando o carinho e o calor aconchegante e maternal que saia dela, aos poucos fui fechando os olhos, não que a história não estava interessante, mas sim pelo relaxamento que aquela biblioteca passava e o cheiro de Heidi e Yuri misturados me fizeram pegar no sono.
Ainda estava semi consciente quando escutei Heidi murmurar alguma coisa para seu filho e logo em seguida senti o sofá ficar mais leve, um beijo carinhoso na testa foi a próxima coisa que consegui entender e fui tirada do sofá por braços que eu conhecia, não em um momento muito bom mais mesmo assim acabei conhecendo, me aconcheguei mais nele enterrando minha cabeça em seu peito tentando sentir o máximo de seu cheiro, o que fez ele dar uma risada baixinha para não me acordar.
- Boa noite Kira – consegui escutar quando ele me colocou na cama, antes de virar de costas para ele e abraçar meu travesseiro, um pouco mais perto de estar no mundo dos sonhos, o senti dando um pequeno beijo nos meus cabelos e peguei no sono completamente, não sabia se Lyra estava lá para ver a situação ou até mesmo Juni para se aconchegar comigo.

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