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Dois meses se passaram e Heidi ainda não tinha deixado o pessoal voltar para suas casas, ainda com medo de que se eles fossem, estaria muito longe para os proteger então acostumamos a conviver com eles, claro que ainda fofocavam e falavam mal da gente pelas costas mais nada que isso importe muito. Depois de ficarmos livres para continuar normalmente nossas vidas fui a cada vez mais trabalhos com Kai e Alexei e acabei conhecendo vários lugares barra pesada, apenas sobrenaturais poderiam ir nesses bares, graças a mim e um pouco de sorte misturado com magia leve e quase imperceptível conseguimos sair de várias enrascadas e de quase levar tiros.
Hoje a noite seria minha primeira corrida e todos já tinham comprado seus ingressos e estavam torcendo por mim, minha relação com Yuri tinha crescido bastante e estávamos mais confortáveis em demonstrar, não que a gente não estivesse antes, eu e ele nunca mais tínhamos tirado a pulseira e eu tinha me mudado quase totalmente para seu quarto, Juniper adorou pela cama maior, mas odiava quando ficávamos um pouco mais quentes e roubávamos o colchão para nós mesmos, logo tratei de começar a usar anticoncepcionais antes que o pessoal inventasse que eu estava grávida e eu tivesse que matar meio mundo por causa disso. 
Estava no meio do verão em uma onda de calor enorme então a maioria estava na piscina principalmente as crianças, eu tinha ficado responsável por tomar conta delas, ainda não era a melhor nadadora mesmo com Yuri e Heather tentando me ensinar, Henrique estava tentando me mostrar como plantar bananeira no fundo da piscina quando percebo uma movimentação estranha entre Yuri, Conrad e Adrian.
Tentei de todos os jeitos possíveis o forçar a me falar o que ele estava escondendo mais nunca deu certo então deixei de lado por enquanto, mais vendo as expressões nervosas de Adrian e vendo como Yuri estava tenso igual uma corda pronta para estourar tive que ir atrás e saber o que era, com um aceno deixo as crianças para Kara, que teve o merecido descanso depois de um turno de 32 horas, e resolvo os seguir usando as habilidades de camuflagem e de ser o mais silenciosa possível. Esses dois meses foram ótimos para isso e para eu melhorar minhas caçadas, eles andam um bom tempo até a clareira que eu e Henry ainda meditamos, fizemos um pacto que nenhum dos dois falaria sobre irmos lá para que Heidi não arrancasse nosso fígado, tão silenciosamente quanto eu, mas era um silêncio tenso e apavorado.
Quando Yuri finalmente solta um suspiro resignado depois de ver se os arredores estavam limpos, ele estava tão tenso que não percebeu minha presença, ainda ressabiado por alguém estar os seguindo eles começam uma discussão aos sussurros, não estava escutando muita coisa, apenas palavras entrecortadas como “deveríamos contar” “não aguento mais” e outros desse mesmo tipo. Resolvo chegar um pouco mais perto para entender, não gostava de entrar desse jeito em sua privacidade, mas tinha um pressentimento que isso me envolvia.
  - Não iremos contar para ela e ponto final – declara Yuri depois de alguma discussão.
  - Eu não quero mais mentir para minha amiga, entende isso – retruca Adrian irritado, nunca tinha visto ele tão nervoso quanto agora.
  - Yuri isso já passou dos limites, esconder enquanto seu relacionamento era novo e sabíamos que ela poderia surtar tudo bem, mas deixar a menina no escuro não é certo.
  - Quer falar o doutor razão não é mesmo? Quem é que tem filhotes ilegítimos com as lobas da região?  Não sou eu – morde Yuri de volta.
  - Isso não entra no caso e eu sempre deixei bem claro para Adrian sobre isso – rosna Conrad perdendo a paciência que restava.
  - Vocês querem que eu fale “Olha Kira me desculpa, eu te amo mais aproveitei enquanto estávamos fora e esperando todos se arrumarem para vir para cá e fui para sua antiga casa e matei seu padrasto?” Não é tão simples.
Terminado de ouvir isso sai do meu esconderijo assustando Adrian e Conrad que congelaram quando me viram, meu companheiro ainda não tinha me visto porque estava de costas puxando o cabelo nervosamente, como se fosse enlouquecer.
  - Eu não quero magoar ela, sei que aquele traste do Raul foi o agente principal dos traumas dela e não quero que ela reviva todos quando eu contar. Ainda mais porque ela vai me odiar, e vai retrucar falando que não precisávamos, que ele sofresse o próprio karma mais eu não conseguia deixar aquelas meninas a própria sorte, principalmente Marisol que minha mãe não sabia que ele ainda a tinha com ele, elas poderiam ter um destino igual ou pior que o dela – termina em um murmuro ainda puxando os cabelos, um pouco mais forte dessa vez, se virando lentamente talvez intrigado por seus acompanhantes tivessem parado de falar.
O choque em seu rosto por me ver fala tudo que eu preciso saber, segurando o choro por ter sido enganada esse tempo todo, conseguia ver o porque ele tinha feito isso e a causa nobre por trás, mas não era para ter escondido isso de mim, mesmo que eu fosse brigar com ele na hora entenderia depois, mas agora mentir piorou a situação dele, a perda de confiança foi enorme. Enquanto deixava ele ter noção dos meus pensamentos pelo elo, não queria abrir a boca para não chorar, os meninos foram embora, e sua feição caia ainda mais enquanto seus olhos ficavam marejados e ele tentava pegar minha mão.
Soltei sua mão rudemente e estava indo em direção a casa para poder chorar em paz e esfriar a cabeça, mas ele não entendeu e veio atrás pedindo mil desculpas que iria me contar mais estava com medo exatamente dessa reação e que me amava.
  - Yuri eu ainda te amo mais você quebrou minha confiança, fiquei quase duas semanas me revirando na cama com medo de você não voltar enquanto me apunhalava pelas costas?
  - Kira ele tinha pegado outras meninas para “cuidar” depois que resgatamos as que moravam lá, Marisol ainda estava com ele, você não a reconheceria, foi ela que fez nossas pulseiras e me ensinou a fazer aqueles cookies exatamente do jeito que você gostava, um jeito de agradecer tudo o que fazemos e saber que você estava bem.
  - Eu fiquei com medo que as novas meninas tivessem o mesmo destino que você, e se tivéssemos feito a mesma coisa que antes ele daria um jeito de voltar aos velhos hábitos, eu garanti que cada uma fosse para um lugar seguro ou para uma família amorosa. Tudo que você deveria ter tido – sussurrou segurando o choro.
  - Você não define o que eu deveria ter ou não, mas sim minha vida seria muito melhor se meus pais não tivessem me deixado lá, mas assim eu não teria fugido e vindo para cá e descoberto a verdadeira felicidade com essa família e com você.
  - Aquele traste te machucou de todas as maneiras – grita perdendo a paciência e puxando meu pulso me virando para ele.
  - Sim ele me machucou, tenho diversos pesadelos e traumas por causa dele, mas de novo não é você que define o que eu deveria ter. Você nunca vai passar o que eu passei, as dificuldades, medos e a tensão de ter medo a cada noite quando tinha que trancar a porta para não ser abusada. Ter que se defender a cada vez que algum velho nojento tentava passar a mão em mim e ser espancada apenas por ter se defendido. Então Yuri você nunca vai passar por nada disso e eu não me importo mais você sabe que eu odeio mentira além de você, meus amigos mentirem para mim foi destruidor. Agora por favor, me deixa ir para casa, pra poder chorar e esfriar a cabeça não quero mais brigar, por favor, eu te amo mais estou realmente chateada – termino de falar enquanto seu celular começa a tocar e ele olha assustado para a tela.
  - Isso ainda não terminou – fala roubando um rápido selinho em meus lábios, e saiu correndo para dentro da mata – fala para o Ezra que ele tem que ir avisar a matilha Lycaon, tem um incêndio na área deles.
Engolindo o choro corri para a casa gritando o nome de Ezra, o que acabou assustando todo mundo, estava correndo com os olhos marejados então não vi  quando tropecei em uma pedra e Adrian por estar perto e preocupado em como eu estava me salvou de cair de cara no chão.
  - Amendoim, me explica porque você chegou gritando o nome do Esdras – fala me segurando forte com medo de eu desabar.
  - Yuri recebeu uma ligação do trabalho dele falou que está tendo um incêndio florestal nesse minuto e que é bem na área dos lobos Lycaon e pediu para eu avisar o Ezra para ele ir lá tirar eles já que é o mais acostumado a conviver no meio deles – respondo um pouco apressada mais deu para ver que Adrian entendeu.
  - Certo estou indo. Eles normalmente sabem o que ocorre no território antes da gente, mas nunca se sabe – fala o azulado correndo para a região nordeste, nunca tinha tido nenhum contato com os lobos de lá, eles sempre falavam que ainda não era a hora.
  - Senta. Conrad pega um copo de água para ela, por favor – pede Adrian me sentando no chão e fazendo um movimento de mão espalhando os curiosos que vieram ver.
  - Espero que você não esteja brava conosco, sabemos que seria compreensível mais entenda que não queríamos nem gostamos de mentir para você, só fizemos isso, pois Yuri quase implorou de joelhos porque sabia que isso desencadearia as piores coisas – fala ele apertando minha mão entre as suas e eu apenas concordo com a cabeça.
  - Eu sei que não foi por querer, apenas preciso esfriar a cabeça – murmuro arrancando um punhado de grama com a mão livre.
Aceito a água que Conrad me trouxe e tomo calmamente tentando inútilmente colocar minha cabeça no lugar, tudo parecia ter caído tão rápido e eu nem conseguia pensar direito para entender um jeito de fugir de tudo isso. Enquanto bebia a água e encarava as gramíneas que estavam crescendo e morrendo em um ritmo acelerado por meu desequilíbrio com a magia, senti um arrepio crescendo na minha espinha e alarmada comecei a olhar para os lados freneticamente tentando entender de onde vinha esse sentido de perigo eminente.
  “Vá atrás de Ezra, Jacen saiu atrás dele querendo ver Done e ninguém percebeu isso” – sussurra a voz de Ravi no meu ouvido.
  - Vocês escutaram isso? – olho assustada para os rostos sem compreender nada.
  - Escutar o que? – pergunta Conrad finalmente.
  - Alguém viu o Jacen – grito para todos que estavam no quintal escutar.
  - Estava comigo até agora – responde Kara começando a ficar ansiosa.
  - Jade ele falou aonde ia? – pergunto me abaixando até a altura de  minha única informante confiável.
  - Ele ia atrás do Esdras, queria ver no que tio Yu trabalhava e descobrir quem era  Done que sua mamãe falava tanto – responde ela com toda a sinceridade de uma criança que não entendia os riscos.
  - Merda – exclamo saindo correndo para o mesmo lugar que o azulado tinha ido a poucos minutos.

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