- Vou ter que começar a procurar vocês mais vezes aqui, Kira a Brenda está te chamando e Conrad tá colocando Juniper na boca de Akien.
- O que? Eu mandei ele deixar ela no meu quarto por não ter tomado as vacinas – exclamo irritada, fechando o livro e me levantando.
- Quem Conrad escuta? Nem eu que sou alfa dele ele respeita, vá lá salvar seu pequeno.
Sem responder Heidi sai marchando da biblioteca, logo escutei as risadas altas e escandalosas de Conrad e Adrian, parecia que eles ainda estava no meu quarto então foi fácil chegar até lá, a porta estava fechada o que eu achei estranho e quando abri vi Conrad, Adrian, Lyra, Brenda e Heather no escuro com uma lanterna brincando de fazer Juniper a seguir, quando me viram apontaram a luz para mim e minha própria gata pulou em meus calcanhares e me mordeu com os dentinhos que estavam nascendo, eles eram pontudos e afiados o que machucava um pouco.
- Kira finalmente você apareceu, onde estava? – pergunta Lyra.
- Na biblioteca, desculpa perdi um pouco a noção das horas, agora estou aqui. Mas Heidi falou que Conrad estava colocando ela na boca de Akien – falo pegando o gatinho que continuava a morder minha perna.
- Isso foi ideia minha – fala Adrian dando risada – queríamos te tirar de sabe se lá onde e tivemos que inventar essa, graças a Deus Heidi resolveu nos ajudar.
- Isso não se faz – reclamo cruzando os braços – Mas como já estou aqui, o que querem de mim?
Começamos a conversar, Brenda me mostrou seu trabalho, estava lindo e ela me contou que estava em um projeto que essas fotos iriam para uma galeria e ficariam expostas por pelo menos um mês e se alguém quiser comprar ou investir ela iria fazer fotos em outros países e já tinha uma lista de quais visitaria primeiro, Lyra capturou o computador de Conrad, que ficou reclamando e deixou bem claro que se encontrasse coisas impróprias foi culpa do Koda, essa afirmação fez a gente gargalhar e entre risos e implicâncias fizemos um currículo para mim, mentiram em várias coisas e até colocaram o nome de Kai no meio para passar credibilidade.
Conrad ficou me contando sobre suas corridas e como os pais dele influenciaram isso nele, me jurou que me levaria em uma e que se estivesse de bom humor pediria para um dos conhecidos dele me deixar dirigir para ver se eu era mesmo tão boa na direção como falavam.
- Eu nunca falei que era boa em dirigir, apenas em concertar as coisas, não coloque palavras na minha boca Sastre – impliquei com seu sobrenome que tinha acabado de descobrir.
- Duvido, quem sabe arrumar tem que saber dirigir também, é quase uma regra – fala cruzando os braços.
- Sou exceção à regra então – falo cruzando os braços imitando ele.
- Iremos ver, e não me imite.
- Não me imite – repito não conseguindo conter meu riso.
- Adrian olha ela, manda parar – fala apontando para mim.
- Adrian olha ele, manda parar – imito apontando para Conrad.
- Sem graça – fala mostrando a língua.
- Sem graça – falo fazendo o mesmo.
- Finalmente Conrad encontrou alguém que é criança igual ele – fala Lyra com a cabeça enfiada no computador apenas dando risada.
- Eu não sou criança – falamos ao mesmo tempo, olhei para Conrad que me olhou também e caímos na risada.
- Deus nos dê paciência para aguentar esses dois agora – murmura Bren como se estivesse rezando.
- Kira, se quiser posso levar Juni para uma consulta no veterinário amanhã – fala Adrian acariciando o gato perdido em pensamentos.
- Com qual carro?
- Pode ser com o meu mesmo ou com da Lena, mais se for com o dela tem que levar Ezra e Jacen para a escola primeiro – explica Conrad.
- Podemos ir no seu se não tiver problema, assim eu mostro que não sei dirigir direito.
- Certo, já está tarde e eu não quero escutar resmungos de certas pessoas que ficamos fazendo festa e não o deixaram dormir – Adrian fala alto e claro na porta e escutamos um “crianças enxeridas” de Henry que estava passando no corredor.
- Conrad para de implicar com os mais velhos – grita Heidi de não sei aonde.
Com essa última brincadeira os meninos e Bren foram embora e pude deitar na cama que estava apinhada dos cheiros deles, coloquei Juniper junto comigo que logo se encaixou entre o travesseiro e o meu cabelo ainda com o penteado, estava com preguiça de tirar uma coisa tão linda. Lyra foi se arrumar e ficamos conversando enquanto ela não deitava, fechei o olho por uns dois segundos e acabei adormecendo.
No dia seguinte Conrad me deu seu Toyota Supra laranja berrante para eu dirigir, depois de fazer uma consulta rápida no veterinário apenas para saber que Juni estava muito bem e ela tomar as primeiras vacinas, chegamos à pista de treino em dez minutos com Conrad gritando de felicidade e Adrian grudado no banco se segurando e enrolado em todos os cintos possíveis, Conrad não estava se importando com as multas que ele provavelmente vai ter e já estava planejando me arrastar para a pista, provável que iria me inscrever em uma corrida, o que eu não iria me opor, pois deveria ser legal.
*
Já tinha se passado uma semana desde que fui morar com a matilha de Heidi, Juniper estava crescendo bem e já podia ser pelo menos socializada com os cachorros, ela ainda tinha que tomar leite e eu sempre me sujava a cada vez que tentava, mas pelo menos tinha pegado o jeito, meu padrinho nunca mais tinha aparecido e isso estava me deixando um pouco triste mais era normal ele sumir do nada e depois voltar.
Meu treinamento ia pelo que Ani dizia “De vento em polpa”, todos os dias de manhã eu ia para a clareira junto com Henry para meditarmos, finalmente consegui quebrar a casca grossa dele e entender um pouco o porquê ele era tão distante. Com a rotina estava cada vez mais fácil de me inserir “no mundo astral” como ele dizia. Ainda não tinha arranjado um emprego mais sentia que estava próximo, a corrida que Conrad me inscreveu foi cancelada no último minuto e estava esperando outra sair para tentar competir, de tarde meu tempo ficava livre então conversava com Heather e Brenda, esses dias elas estavam me ensinando a desenhar e fazer um macarrão decente, de noite ficava até pelo menos uma da manhã treinando com Anika luta corporal, autodefesa e alguns golpes de Karaté e Jiu – Jitsu.
Esdras e Yuri me ensinariam sobre a floresta aos sábados e domingos já que eles estavam ocupados na semana, Heidi tinha me dito que se sobrasse tempo ou se saísse mais cedo em algum dia ela me mostraria os princípios básicos de um prefeito e jurou que ela e Kai já estavam preparando as coisas para meu documento de residência e perguntaram se eu queria mudar meu sobrenome, como Raul era minimamente esperto ele comprava as crianças e depois ia ao cartório com documentos forjados falar que nos adotou e colocava seu sobrenome.
Como minha cama era do lado da janela o sol batia primeiro lá e com isso acostumei a acordar cedo, por isso por volta das cinco da manhã já estava de pé e não aguentava mais ficar olhando para a parede então resolvi ir para o andar de baixo achar alguma coisa para fazer, sai da cama com todo cuidado para não acordar Lyra, ela tinha um sono pesado mais era sempre bom tomar cuidado, deixei Juniper no travesseiro e fui para a porta.
Como sempre Henry já estava de pé, arrumado e com sua bolsa nas costas, ele sempre era o que acordava o mais cedo de todo mundo e normalmente saía de manhã e só voltava para casa quando estava escurecendo, quase sempre ele levava Aki, o cachorro era bom para me ajudar a meditar então eu nunca reclamei dele estar junto.
- Bom dia Mestre Henry – saúdo baixinho em brincadeira, sabia que ele não gostava de ser chamado de mestre.
- Bom dia Kira, não está muito cedo para uma criança como você estar acordada?
- Não consigo mais dormir, o que vai fazer hoje? O de sempre?
- Nunca um dia é igual ao outro.
- Isso parece frase tirada de livro – brinco enquanto estávamos descendo as escadas.
- Talvez, ou talvez uma pessoa possa ter falado para mim. Você nunca saberá.
- Tudo bem agora você me deixou sem resposta. Henry, posso falar uma coisa com você?
- Estou aqui para isso – fala acariciando Akien que concordou com a cabeça também.
- Hoje vai ser o dia de retirada das meninas das mãos de Banks, eu estou preocupada de alguma coisa der errado e ele vier para cá querendo machucar algum de vocês ou se eles não conseguirem tirar elas e ele punir todas por uma coisa que eu fiz e nem estou lá para suportar as consequências.
- Olha menina, suas preocupações tem fundamento, mas confie que tudo irá dar certo e pare de pensar nisso, como você disse, não estamos lá então não tem como ajudar em nada e se afundar em pensamentos aqui não vai ajudar em alguma coisa. E se serve de consolo você ensinou todos os feitiços que estavam à sua disposição para elas, então provavelmente elas sabem se defender dele.
- Muito obrigado mestre Henry – falei emocionada.
- Não me chame de mestre criança, era só isso?
Concordei com a cabeça e ele foi embora assobiando alguma música antiga e conversando com Aki que respondia com latidos, os dois pareciam se entender, voltei para casa vendo que meus dois professores de hoje já estavam acordados e arrumados.
- Bom dia meninos, porque vocês estão arrumados? Não iríamos sair mais tarde?
- Bom dia Kira, então, tivemos uma pequena mudança de planos, Alexei e Ani querem vir com a gente, para ver se não estamos te levando para o mal caminho e temos que sair mais cedo se você não quiser ser importunada – fala Yuri.
- Quanto tempo eu tenho para me arrumar?
- Meia hora no máximo – Ezra fala olhando para um relógio que eu nem sabia que ele tinha.
- Em cinco, vocês me encontram lá fora – falo subindo as escadas na pontinha dos pés para não acordar ninguém.
Com todo cuidado entrei no meu quarto vendo Lyra ainda espalhada na cama com Juni disputando espaço com a cabeça dela no travesseiro, toda vez que eu acordo e ela vê que ainda tem outra pessoa na cama ela me trai e vai com qualquer um para poder dormir mais um pouco. Rapidamente peguei tudo que eu precisava e me troquei, ainda estava vestindo um pijama de Heather que tinha um gato estranho e todo colorido, mas era confortável acima de tudo. Quando já estava pronta cutuquei de leve Lyra que deu uma resmungada mais abriu um olho.
- Lyra, tô saindo, cuida das coisas por aqui e pelo amor de Deus não deixa Conrad fazer besteira.
- Como seu conseguisse não é mesmo?
- Tchau, até mais tarde e se eu não voltar para o almoço tenta guardar alguma coisa para gente.
- Vou tentar – resmungou me dando as costas e apertando Juni como um bichinho de pelúcia.
Exatamente cinco minutos depois eu estava saindo para encontrar os dois com uma maçã para cada um, já que não conseguiríamos ter o café da manhã, entreguei as frutas para eles e fiquei esperando o que faríamos hoje.
- Então meninos, o que faremos? – pergunto mordendo minha maçã.
- Vamos dar uma volta na área norte da floresta, você ainda não foi para lá. Quando chegar terá que nos falar os nomes que você sabe das árvores e animais.
- Essa é a parte fácil, depois disso você terá que elaborar como iria caçar naquela região e diremos se daria certo ou você dormiria com fome.
- Como vocês irão saber se vai dar certo ou não?
- Caçamos aqui há mais tempo que você, além disso, Ezra era um lobo selvagem até sete anos atrás e pode te dizer com certeza do que dá certo ou não – fala Yuri indo na frente.
- Sério?
- Sim, eu quase nunca saia da pele de lobo, às vezes quando eu precisava muito de comida, mas nunca dava certo, eu parei com isso quando Jake e Lena me acharam em uma missão de reconhecimento para Heidi. Foi difícil, mas acabei me acostumando e aqui estamos – fala dando um sorriso triste e abrindo os braços como se não fosse nada.
Sem pensar e usando meu lado um pouco maternal que estava aparecendo vivendo com aquelas pessoas, abracei apertado o azulado que me abraçou com força de volta, demoramos um pouco para nos separar e vimos que Yuri estava parado perto da gente sem saber o que fazer. Olhei para o mais novo e sabíamos o que tínhamos que fazer, nesses tempos que fiquei por lá entendi que Yuri não gostava de contato humano e corria de abraços igual o diabo corria da cruz, ele também se desentendia quase sempre com seu pai mais em compensação era filhotinho da mamãe.
Eu e Ezra fomos para o lado dele o cercando e fizemos um abraço coletivo com toda nossa força querendo esmagar ele, o coitado ficou se contorcendo tentando sair do nosso aperto e Ezra ria do desespero. Depois de um tempo o soltamos e seguimos para o lado norte, a região era um pouco mais montanhosa e sem muitas árvores para encobrir qualquer animal que pudesse tentar chegar de fininho, ao que parece os dois não estavam nem tentando facilitar para mim.
- Então Kira pode começar – fala Yuri com um sorriso diabólico.
Já estava escurecendo quando eu finalmente desisti de tentar fazer o que eles queriam, só uma das minhas ideias daria certo e eu já estava ficando irritada, tentei argumentar que com alguma sorte daria certo mais eles me ignoraram e mandaram eu fazer tudo de novo. Fiquei pensando se seria melhor se Alexei e Ani tivessem vindo com a gente, pelo menos assim eu não me sentiria tão frustrada, talvez minha frustração se devesse pelo fato de que não tínhamos comido nada, além das maçãs e não tinha nem um pássaro naquela região para eu esfregar na cara deles que daria certo sim.
O cheiro de comida impregnou nas minhas narinas quando Ezra abriu a porta da frente, nós três rosnamos e brigamos para ver quem ia chegar primeiro na panela, nesse tempo eu estava me surpreendendo em como parecia que eu tinha fome a cada cinco minutos, ouvimos Heidi gritar para os meninos me deixarem passar na frente, mas foi devidamente ignorada e como Yuri era maior e mais forte entre a gente, apenas segurou a parte de trás da minha blusa e do azulado e passou na nossa frente.
Derrotada fiquei ao lado de Adrian que ria da situação, ele se levantou e tirou do micro-ondas um prato que estava cheio, agradeci aos deuses por ter amigos assim, Lyra deve ter se lembrado e com um sorriso de vitória para os outros dois sentei na mesa ao lado de Heidi.
- Kira querida, você quer que eu conte as notícias sobre o resgate agora ou em particular quando estivermos no meu escritório.
Parando o garfo a caminho da boca, olhei para Henry tentando ver se as notícias eram boas ou ruins pela sua expressão, infelizmente não consegui tirar nada mais recebi um pequeno aceno de volta.
- Pode ser para todo mundo, tenho certeza que eles também estão curiosos.
- Certo, pelo que disseram o plano deu certo, Banks não desconfiou de nada e as meninas ao que parece estão se adaptando bem, algumas até perguntaram de você. Mas ele também falou para ficarmos atentos, pois ele pode juntar 2+2 e vir atrás da gente, então todos em estado de alerta até a poeira baixar.
- Sim senhora general – falou Conrad de boca cheia batendo continência.
- Engole primeiro antes de falar seu mal educado – responde Lyra resmungando.
- Me obrigue.
- Crianças se comportem à mesa, além disso, precisamos passar uma boa imagem para Jacen não os copiar.
- Eu não me importaria se o baixinho fosse igual a mim, porque sou incrível, charmoso e bom com as pessoas.
- Nem se acha né – retruco engolindo a comida para não fazer igual a ele.
- Eu me importaria – exclama Jacen do nada.
- Como assim baixinho? Assim você me machuca – fala tentando parecer ofendido.
- Eu quero ser eu mesmo – responde cruzando os bracinhos.
- Por isso eu amo essa criança – fala Ezra animado abraçando o pequeno.
- Ele te derrotou Conrad, você poderia ter ido dormir sem essa.
- Cala a boca – resmungou ele.
- Modos Conrad – fala Heidi dando um tapa na cabeça dele.
- Como foi o teste hoje? – pergunta Ani.
- Vimos que saíram mais cedo para não levar a gente – Alexei murmura parecendo quase magoado.
- Deveríamos ter esperado vocês, acredito que seria muito melhor. Pelo menos assim eu tenho quase certeza que conseguiria acertar mais de um.
- Só um?
- Ela vivia apelando para a sorte, mas em uma caçada real isso nunca daria certo.
- Deixe a menina, vocês a mandaram caçar na montanha não é mesmo, esqueceram que ela aprendeu a caçar há pouco tempo?
- Foi onde você mandou a gente ir mãe – responde Yuri.
- Era uma ideia para quando ela já estivesse melhor.
- Pelo visto vou ter um bom trabalho com ela, não é? – pergunta Anika.
- Bastante, mais pelo menos ela aprende rápido – responde Ezra.
- Eu só errei hoje porque vocês não facilitaram – retruco fazendo uma cara irritada.
- Se sofrermos um ataque e você não estiver preparada vai morrer e nós seremos os culpados então é melhor ser bruto e chato com você agora do que lamentar a perda depois – fala Ezra irritado saindo da mesa e indo para seu quarto, ainda segurando o prato e conseguimos escutar o barulho da porta fechando com violência.
- O que deu nele? – pergunto perdida com o ataque do nada.
- Querida, precisamos conversar, quer vir Henry?
Ele apenas concordou com a cabeça e se levantou junto com a irmã, eu ainda não tinha terminado a comida e olhei um pouco triste para o que restava no prato, nunca gostei de desperdiçar, mesmo sabendo que teria comida de novo depois da conversa, meu lado animal ainda insistia de comer tudo que podia o mais rápido possível, um trauma de viver com aquele estorvo.
- Pode ir lá, deixaremos sobremesa para você - fala Heather apontando com a cabeça para o bolo meio escondido que estava no forno.
Murmurei um obrigado encolhendo os ombros e seguindo os gêmeos para o quintal, mais precisamente para a área da piscina, Heidi tirou seus sapatos e pôs seu pé na água que deveria estar gelada, Henry fez a mesma coisa, e com as pontas dos dedos ficou brincando com ela, me sentei no espaço que eles deixaram que era entre os dois.
- Você conta ou eu? - pergunta Heidi para o irmão.

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Pakke
Genel KurguKira é uma licantrope sem matilha que fugiu de casa após algumas coisas darem errado. Correndo o enorme risco de ser atacada por alcateias já estabelecidas ela sai mundo a fora tentando encontrar onde pertence, depois de alguns problemas ao longo do...