Tobias deu um passo para trás, obedecendo ao patrão de pronto. Não sabia se agradecia Dominic ou se o esculachava, pois sabia me defender sozinha e quem garantiu que eu não estava querendo o toque de Tobias?
— Desculpe, patrão — pediu Tobias. — Vou pegar a minha comida — avisou antes de se retirar, deixando-me sozinha com Dominic.Ele veio até mim, olhando-me superirritado.
— Você sabe que aqui na minha fazenda tem regras, não é? — rugiu, em frente ao meu rosto. — Não é permitido que funcionários fiquem de namorico em horário de serviço.
— Eu não estava de namorico com Tobias e mesmo que estivesse, estávamos em nosso horário de almoço, ou seja, poderíamos fazer o que quiser, pois não estávamos em serviço!
— Isso é uma desculpa fiada, mas se quiser ficar de enrosco com os funcionários da fazenda, tudo bem, faça o que quiser, mas depois não fique chateada se ficar com o nome na boca do povo...
Quase não acreditei no que ele tinha acabado de falar. Que pensamento mais antigo!
Dominic era mesmo um cavalo xucro, não tinha jeito não.
— Eu não ligo para o que possam falar de mim. Que pensamento mais antigo, digno de um cavalo xucro e burro. Hoje em dia não tem mais isso não, Dominic. Nós, mulheres, podemos ficar com quem quisermos e quando quisermos, igual aos homens, e nem por isso devemos ser consideradas putas ou biscates. Já ouviu falar de direitos iguais? — vociferei, furiosa, também em frente ao seu rosto, ele me olhou com indignação e implicância, então cruzou os braços.
— Você é muito moderninha. Eu sei que mulheres hoje em dia devem ter os mesmos direitos que os homens, não sou machista como deve estar pensando, diacho. Mas nem todos pensam como eu ou você, só estou te alertando, já que pretende ficar aqui deve saber que muita coisa não mudou, muito menos a língua do povo. Se virem você de agarração com um, depois com outro, como costuma fazer na sua cidade, vai ficar malfalada e não desejo isso a você.
Ele parecia sincero, mas isso não mudava o fato de querer mandar no que devia ou não fazer. E como assim "como costuma fazer na sua cidade", ele estava me chamando de rodada na cara dura?
— Olha só, Dominic, já disse que não me importo com o que os outros pensam de mim, está bem? E saiba que eu não costumo sair beijando qualquer um, nem aqui ou em canto nenhum.
— Se você está dizendo... — Sorri com cinismo. — Agora se me der licença, vou almoçar.
— Por que tem que ser tão sarcástico e grosseiro? Fica tentando me dar lição de moral, mas não sou eu que estava de agarração com uma desconhecida, quase trepando em uma árvore. Você é nojento!
Não aguentei segurar isso para mim, joguei na sua cara mesmo. Dominic arqueou uma sobrancelha e deu um passo à frente, ficando com o rosto ainda mais próximo do meu. A íris de seus olhos verdes brilharam.
— Então quer dizer que você andou me espiando? — Abriu um sorriso de canto e passou a mão pela barba rala. — Olha em volta, Heloíse, esta fazenda inteira é minha. Posso fazer o que eu quiser dentro dela. Se eu quiser foder uma mulher contra uma árvore, na varanda ou até em um curral, eu vou.
Consegui sentir seu hálito quente na minha pele.
— Difícil é achar alguma louca que queira foder mais de uma vez com você, não é? Porque deve ser decepcionante na cama, tanto quanto fora dela — retruquei de forma bruta, Dominic riu de forma raivosa.
— Você não deveria pensar sobre como sou na cama, se está pensando deve ser porque, no fundo, nutre algum desejo por mim e quer experimentar a pegada do cowboy aqui.
Fiquei vermelha, de raiva e vergonha, patife descarado! Nunca iria querer transar com ele, nunca!
— Você se acha! Coitado. Nunca que desejaria transar com você, eu te acho um porco nojento.
Dominic fitou minha boca e molhou a sua, olhando-me com malícia. Inesperadamente, agarrou minha cintura e inclinou as costas, sua boca ficou na altura do meu ouvido.
— Posso levar sua recusa como um desafio, Heloíse — murmurou, contorci-me e me arrepiei de cima a baixo. — E pela forma que seu corpo reagiu a mim, é óbvio que te seduzir seria mais fácil que tirar doce da boca de uma criança.
Ele me soltou após falar. Senti meu coração bater mais rápido e minha respiração ofegante sem nem mesmo ter dado um passo. Que droga, ele me deixou excitada?
— Não encoste em mim nunca mais, maldito! — Fuzilei-o com o olhar, o cavalo xucro riu de mim. Fiquei furiosa, por ele ter tentado me excitar e pior, ter conseguido.
— Desculpa, mas nunca fujo de um desafio.
Ele piscou para mim antes de sair andando na minha frente.
Quem esse bruto pensa que é? Eu vou matá-lo. Juro que vou!
Esperei as batidas do meu coração se acalmarem, só então fui até a casa grande.
Encontrei Maria com o bebê no colo, na sala de jantar, enquanto Dominic estava sentado na mesa, fartando-se de comer.
— Já deu oi para o seu filho? — provoquei ao me sentar na cadeira à sua frente. Ele primeiro engoliu a comida antes de me responder.
— Filho? — Maria falou primeiro, olhando de mim para Dominic, assustada.
— Você tinha que abrir a bocona, né? Linguaruda! — Dominic ralhou, sorri arqueando a sobrancelha. — Maria, depois eu te explico tudo, só espere eu acabar de almoçar.
— Está bem — respondeu Maria.
— Se eu fosse você, Dominic, começava a aprender a trocar fraldas desde já. O filho é seu, não é justo a Maria ter que cuidar dele — dei minha singela opinião, Dominic bufou e passou a mão pelo rosto, de forma exasperada.
— Graças a Deus você não é eu. Posso muito bem pagar uma babá para cuidar do meu filho. Larga a mão de ser enxerida!
— Coitado desse menino, que belo pai ele arrumou — praguejei antes de servir comida para mim.
— Vocês dois brigam mais do que cão e gato, diacho — reclamou Maria. — Nunca ouviram falar naquele ditado, que duas pessoas que brigam muito se gostam?
Dominic e eu fitamos Maria com raiva.
— Eu, hein, Deus me livre de um cavalo xucro!
— Implica, implica, comigo, mas não aguenta um cheiro no cangote que se desmancha toda.
Quase engasguei, Maria arregalou os olhos, olhando-nos com desconfiança. Além de tudo, o burro falante não aguentava segurar a língua dentro da boca!
— Não vou nem responder você mais para não me estressar. — Revirei os olhos.
— Que bão. Caladinha você fica mais bonita — implicou. Mantenha a paciência, Heloíse. Tente se lembrar de que apesar de ele ser seu primo, agora também é o seu patrão.
Mas era óbvio que não perderia a oportunidade de alfinetá-lo.
— Você viu só, Maria? Ele acaba de confessar que me acha bonita, mesmo que calada. — Primeiro olhei para Maria e depois meneei a cabeça em direção ao Dominic, fitando-o com desdém. — Então, você me acha bonita?
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O FILHO QUE O COWBOY NÃO CONHECIA
RomanceDominic Marques é um fazendeiro do Mato Grosso Do Sul, que vive uma vida agitada, recheada de mulheres e farra. Ele não pretende abandonar sua vida de bon-vivant tão cedo, tampouco se render ao amor. Porém, seus planos vão por água abaixo quando des...