— Como pode ser possível? — forcei minha voz a sair, estava perplexa e com coração em pedaços.— Também me perguntei isso quando eles me procuraram. Como podem saber que você é filha deles se o orfanato depois que entrega para a adoção não mantém qualquer vínculo com o adotado, porém, eles contaram que recentemente viram uma publicação no meu Instagram. Eu postei uma foto sua, ainda bebê, que foi tirada por uma funcionária do orfanato quando você chegou lá. Quando te adotei, elas me deram todas as fotos tiradas quando você era bebê. Há sete dias, peguei o álbum de fotos da nossa família e acabei revendo sua foto bebezinha e não aguentei, fiz um post, que acabou chegando até eles, de alguma forma.
Era inacreditável. Sentia que estava começando a ter uma crise de ansiedade, não conseguia respirar normalmente.
— Mesmo assim, por que eles resolveram te procurar? O que falaram?
Minha mãe parecia querer chorar.
— Falaram que eram seus pais e que se arrependem muito de ter te abandonado quando bebê, é que só o fizeram, porque eram muito pobres e não tinham condição de te alimentar, além disso, eram viciados em droga e bebidas. A mulher que afirma ser sua mãe disse que no período da gravidez ela conseguiu ficar sem usar drogas e álcool, pois se internou em uma clínica para dependentes clínicos. Ela não queria fazer mal a sua saúde, após você nascer saudável, sem qualquer sequela, jurou que deixaria de vez as drogas, mas não conseguiu cumprir a promessa e acabou voltando a usar. Seu pai alegou que não era um presente, nem queria ter um filho naquele momento, então quando sua mãe engravidou pediu que abortasse, pois seria um problema a menos, mas ela se recusou e deu à luz a você. Após seu nascimento eles até tentaram ficar com você, fizeram tudo que podiam, porém, cada vez mais as contas apertavam, eles não tinham dinheiro para o leite, nem para te criar e não tinha ninguém que pudesse ajudá-los, dado que seus avós eram mortos e os seus tios não queriam chegar perto dos seus pais por conta do vício deles. — Ela parou um pouco para respirar fundo e completou: — Eu não estava acreditando muito na história que eles me contaram, achei que poderiam estar mentindo e querendo extorquir nosso dinheiro, porém, eles provaram, mostraram fotos suas no berço, recém-nascida e uma que tiraram um dia antes de entregarem você para a adoção...
Meu estômago se revirou, tinha a impressão de que vomitaria ali naquela mesa, naquele momento. As lágrimas começaram a cair dos meus olhos. Uma dor tremenda dilacerou o meu peito.
— Para... Por favor, para... — implorei chorando tanto que chegava a convulsionar. Minha mãe começou a chorar junto.
— Perdão, filha, me dói tanto te ver assim. Eu chorei por dias também, queria ter tido coragem para te contar antes, mas não queria te fazer sofrer assim...
— Eu não quero mais saber dessa história, nem ouvir falar sobre eles. Isto está me fazendo mal. Eles me abandonaram... eu — perdi o fôlego, estava ofegante. — Fiquei durante anos naquele orfanato sendo maltratada pelas minhas colegas de classe, sem amigas, amor materno, sem nada. Até hoje tenho pesadelos com aquele lugar. Até hoje ainda sinto necessidade de ser aceita pelas pessoas por conta do trauma que vivi lá... Eu...
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O FILHO QUE O COWBOY NÃO CONHECIA
Roman d'amourDominic Marques é um fazendeiro do Mato Grosso Do Sul, que vive uma vida agitada, recheada de mulheres e farra. Ele não pretende abandonar sua vida de bon-vivant tão cedo, tampouco se render ao amor. Porém, seus planos vão por água abaixo quando des...