PRÓLOGO

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Julia entedia-se com sua leitura atual e deixa o livro ao seu lado no sofá. Arrepende-se por ter jogado dinheiro no lixo por ter comprado o livro por sua bela capa. Será que o antiquário onde ela havia comprado ainda estava aberto. Será que teria tempo de devolver? Ela sabia que a loja escura no final da rua estava prestes a fechar as portas definitivamente e que entrara lá apenas por curiosidade, afinal um livro idiota sobre auto-ajuda a intstruíra a visitar um lugar que nunca tinha ido.

Ela deu um suspiro mais alto que o normal e esticou-se para espantar a preguiça. Julia sabia que tinha tanta coisa a fazer mas a força procrastinadora dentro dela ainda mantinha sua bunda colada ao sofá. Casa. TCC. A bicicleta ergométrica empoeirada em frente a tv implorando por ser usada.

Julia era assim. impulsiva e com uma força de vontade ridiculamente fraca.

Seu olhar ainda estava perdido sobre os dois livros que comprara no antiquário , junto com a porcaria que estava a seu lado.

— Espero que eles não sejam tão ruins! — Ela reclamou sozinha.

Sozinha não! Piolho o gato preto com rabo meio torto que morava na cobertura acima dela estava sentado a encarado, como se também esperasse por algo.

Esticou-se para frente até o braço alcançar o primeiro livro, moveu-se o suficiente para não levantar do sofá. O corpo pesava um pouco. Ela jogou-se para trás e deu uma olhada desconfiada para o livro de capa dura, todo vermelho. Não havia título apenas o desenho do símbolo do signo de escorpião.

"Mais um livro comprado pela capa", pensou ela torcendo para que não fosse ruim. "Um livro todo vermelho, sem sinopse na contra capa, sem título... talvez seja um livro pornô" Ela se animou com a ideia. Se havia algo pelo qual a jovem de trinta anos era fascinada eram pesados e romances, e se tivessem algumas cenas mais picantes melhor.

Seus dedos tocaram o símbolo da capa e então ela resolveu o abrir logo. Fechou os olhos pouco antes de levar o livro próximo ao rosto. Sentiu um cheiro diferente, não era de livro novo, que por sinal era o melhor cheiro da vida para ela. Também não era de livro velho. Ela inspirou de novo querendo reconhecer tal odor que ela ainda não sabia ao certo se lhe agradava ou não.

Gotas pesadas de chuva começaram a bater na janela. Não se incomodou com o barulho, até preferia ler quando chovia. A quem ela estava enganando . Ler era seu vício e ela cedia a esse prazer sempre que podia, as vezes até quando não podia. A luz piscou. Assim que passou pela folha de rosto vermelha.

— Ah não! — Reclamou olhando para a lâmpada oscilante.

"Vai faltar luz." Deixou o livro no sofá e correu para a cozinha. Abriu a terceira gaveta, a primeira era de talheres, a segunda continha panos de pratos limpos dobrados em pequenos rolinhos. Na quarta encontrou fósforos e uma vela decorativa robusta.

Se preparou para a falta de luz, não seria uma chuvinha que atrapalharia sua nova leitura. Estava realmente curiosa para saber se durante a leitura lhe viria a mente o que encontraria a resposta sobre o cheiro que tanto lhe intrigara.

Voltou para o sofá. Colocou a vela sobre um pires e a acendeu. Colocou o palito queimado do fósforo ao lado da vela e voltou a se acomodar no sofá.

"Agora sim!" Abriu mais uma vez o livro, folheou a primeira página, na segunda, de forma bem centralizada leu a primeira mensagem.

"Eo amore, paulo dum ero tecum"

— Que? — "Latim?!"

Releu a mensagem dessa vez não apenas em pensamento.

— Eo amore, paulo dum ero tecum.

Na infância sua avó a ensinou a língua morta, afim de distraí-la do luto. Porém ela não se lembrava de mais nada, fazia mais de vinte anos.

Esforçou-se tentando lembrar. Leu mais uma vez.

— Eo amore, paulo dum ero tecum

A luz se apagou logo depois do relampejo. Pensou em pegar o celular e usar o tradutor, mas logo desistiu quando lembrou que o aparelho estava sem bateria.

"Eo amore deve ter alguma coisa a ver com amor" Pensou sentando-se mais perto da vela para conseguir enxergar o enigma.

— Paulo dum... — Repete trechos exigindo da memória respostas.

— "Eo amore, paulo dum ero tecum" — Repete uma terceira vez.

Uma brisa fria faz apaga a vela e a escuridão vem na mesma fração de segundo que a resposta.

"Estou indo amor, em pouco tempo estarei contigo."

No escuro Julia sorri e tateia a procura dos fósforos para reacender a vela.

O cheiro do livro se torna mais acentuado. Cega pela falta de luz suas mãos buscam as formas conhecidas da mesa de centro. Ela não encontra o móvel e continua engatinhando a procura de qualquer forma que lhe seja familiar.

— Os fósforos tem que estar em algum lugar.

Batidas violentas na porta a fazem estremecer. Não consegue imaginar ninguém do condomínio batendo com tamanha brutalidade em seu apartamento. Abrir e tirar satisfação nem lhe passa pela mente. Ela engatinha até sua cabeça bater de leve contra a parede.

— Ai droga! — Ela reclama e se assusta quando toca na rigidez fria da parede.

Seu apartamento não tinha paredes assim. Mesmo sem enxergar ela sabia que havia batido em algo de pedra.

"O que está acontecendo? Será que eu caí quando acabou a luz?"

Batidas violentas e urgentes foram desferidas contra a porta. Julia soltou um gritinho e logo o sufocou cobrindo sua própria boca com as duas mãos.

— Eu estou sonhando. — Disse baixinho querendo se consolar buscando qualquer razão para o inexplicável.

— Abra a porta Lisaveta! — Uma voz masculina furiosa bradou.

Lisaveta?

— Ela não mora aqui não. — Julia gritou sem muita coragem.

O coice violento e certeiro foi o suficiente para derrubar a porta.

Julia gritou quando viu o homem invadir seu apartamento. Não reparou que já não estava mais na segurança de seu lar.

Ela encolheu-se de medo e apertou os olhos querendo acordar do pior de seus pesadelos.

— Pai nosso que estás no — ela reza baixinho, era sua tática para despertar de sonhos ruins.

— Levanta criada! Diga-me onde está Lisaveta!

As palavras da oração se enrolam e Julia já não sabe mais se está rezando pai nosso o ave maria.

Julia sente o agarrão em seus cabelos e o homem bárbaro a puxa forçando-a ficar de pé.

— Estás conjurando um feitiço criada?

Julia abre os olhos turvos pelas lágrimas deparando-se com o gigante loiro e bruto. Ela não consegue evitar o choro.

— Só perguntarei mais uma vez. — Ele se inclina e a olho bem nos olhos.

O corpo dela treme inteiro.

— ONDE. ESTÁ. LISAVETA!?

— Eu não sei! — Ela berra de volta chorosa.

— Ragnar — Outro chama pelo bruto — Os guardas foram alertados. Logo todos no castelo estarão aqui.

O gigante solta o cabelo de Julia e a atinge com um tapa no rosto. A força bruta de seu golpe a faz desmaiar.

— A criada vem comigo. Ela sabe de algo.

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Gurias... esse é um exercício que  estou fazendo e como acabei gostando do resultado quis vir aqui mostrar para vocês. 

É um romance , não sei o tamanho, já tenho os avatares na minha cabeça mas ainda não pensei em modelos reais para eles, vocês podem colocar sugestões nos comentários?

Sobre como é escrito,  os próximos serão em primeira pessoa. Apenas esse prólogo foi em terceira. rsrsrs

Frequência das postagens... ainda não sei. Provavelmente vou começar depois que terminar MJS, ou talvez eu faça paralelo, ainda não sei, o que acham?

Escorpião - Degustação História Ficou Completa Até 16/02/2023Onde histórias criam vida. Descubra agora