Capítulo IV - O desenho

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- Nada ainda? – Dylan questionou-me depois que entrei na cabana mais uma vez com o semblante derrotado

- Ela desapareceu

- Você tem ido muito lá, além de perigoso pode ter a assustado

- Já faz semanas que tento reencontrá-la e não tenho nenhum sinal, mas não acho que a assustei

- Então as vezes ela só não quer ser vista

- Acha que tudo pode ter sido um delírio?

- Nunca vi alguém que delirasse descrever outra pessoa com tamanha precisão – suspirei

- Pode-se estar apaixonado por alguém que nem sei o nome?

- Devias questionar se pode-se alguém estar apaixonado por uma selvagem...

- Não tem descrição melhor do que selvagem para ela – sorri

- Isso não é algo bom Zac

- Já disse que ela me ajudou com meu ombro e essa história do xerife que estamos em guerra não me agrada

- Você mesmo disse que saiu correndo quando os viu

- Eu estava espiando e foi meu primeiro instinto correr. Não posso assegurar que seria pego por eles

- Irmão volte ao juízo. Você parece enfeitiçado. Já faz semanas

- Não se corrompa pela opinião de homens gananciosos. Até que me provem ao contrário acreditarei que os nativos sejam vítimas dessa tal civilização e eu não estou enfeitiçado

- Aonde vai?

- Tomar um ar

- Zac

- Não vou longe, não se preocupe – peguei meu tinteiro e rascunhos indo novamente para a cachoeira. Hoje era uma noite quente e por mais que duvidasse que ela estivesse lá resolvi tentar a sorte. Sem surpresa alguma o local estava vazio. Como forma de passar o tempo acendi a lamparina e aproveitei para desenhar seus traços pelo papel. Perdi a noção do tempo e só parei quando a mão doeu denunciando meu esforço. Fiquei satisfeito com o resultado e coloquei meus objetos no chão me preparando para um mergulho refrescante. Tirei as vestes as dobrando e deixando em um lugar elevado para não sujarem e entrei na água límpida e gélida. Submergi chacoalhando o cabelo me surpreendendo ao ter seus olhos em mim. Me senti como uma presa sendo vigiada e sorri gostando de ser sua visão

- Pensei que nunca mais a veria

- Tive que aparecer uma vez que você não vai embora – gargalhei da sinceridade

- Então tem me visto sempre?

- Tomo banho na cachoeira, mas com sua insistência em ficar aqui tem sido difícil – continuei rindo com tamanha espontaneidade

- Não me ocorreu que estivesse atrapalhando - joguei

- Suas coisas – me entregou a carga que á muito havia deixado na mata no dia da correria

- Poxa obrigado – sai da água ao ver ela fazer menção de sair e lembrei da minha falta de roupas

- Agora vai embora? – ela não me olhou com malícia ou se quer pareceu surpresa o que de fato me deixou encabulado – está sem graça? – vi seu sorriso e despistei meus olhos que não conseguiam parar de encará-la

- Desculpe, aparentemente a falta de vestimentas a você é normal, mas eu me sinto um pouco constrangido

- Por quê? – agora sim ela me olhou e eu de fato me senti nu, até vermelho por assim se dizer e foi inevitável não me tampar ouvindo sua gargalhada

- Por favor não transforme o momento em algo mais embaraçoso

- Zac a malícia está nos olhos de quem vê – com toda naturalidade do mundo ela tirou o vestido revelando mais uma vez seu corpo

- Lembrou-se do meu nome – sorri admirado e recebi um sorriso de volta

- Agora podes ir embora em definitivo?

- Não posso ficar?

- Está encabulado, por que quer ficar em um lugar onde está inibido? – vi seu arquear de sobrancelha, mas dessa vez algo como curiosidade era visto em seu semblante

- Não estou inibido – tentei relaxar e parecer normal a sua frente – é que a nudez de onde eu venho é vista de forma mais conservadora

- Mesmo?

- Sim – falei convicto

- Engraçado – sorriu travessa - se diz conservador, mas me põe nua em um papel

- É uma arte – gaguejei sem jeito – e por favor não pense que estou lhe faltando o respeito – me arrepiei com a hipótese e vi ela dar de ombros entrando na água

- Seus receios não se aplicam a mim, mas por vias das dúvidas ficarei com o espelho – sorri com seu jeito de mencionar o rascunho

- Mas é meu

- Estou nele então é mais meu

- Quando vai dizer seu nome? – sorri completamente encantado

- Para que quer saber?

- Seria educado se apresentar

- Educação é um preceito do seu povo

- Desculpe – fiquei sem jeito novamente – mas como vocês se conhecem, digo com seu povo? – ela riu

- Vanessa na sua língua

- Minha língua?

- Aponi na minha

- Aponi – fiz questão de memorizar e ela riu da minha pronúncia – Vanessa de fato é mais fácil – declarei gostando da sonoridade - se quiser e deixar posso fazer um desenho muito mais bonito

- Mesmo? – seu interesse me alegrou

- Sim! Se pousares garanto que ficará muito melhor do que este – me destampei tentando ser menos hipócrita afinal se eu estava a observando e confesso que cheio de desejo não era justo não estar na mesma situação – melhor assim? – perguntei segurando a respiração e ela riu de novo

- Se estiveres confortável – deu de ombros saindo da água

- Vai deixar?

- É bom que fique bonito e não demore

- Você é afiada assim com tudo mundo?

- Só com quem invade minha cachoeira – sorriu

- Se eu soubesse o que tinha atrás dessa mata tinha invadido bem antes – pensei tendo que fazer um esforço enorme para não demonstrar meu fascínio – agora você só precisa me olhar e se mexer o mínimo possível – quando ela dirigiu seu olhar a mim senti as mãos suarem e tremi tentando me conter. Que índia era essa? 

Zanessa - Colors of the WindOnde histórias criam vida. Descubra agora