Capítulo V - Enfeitiçado

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Dei tudo de mim em cada traço e cor para dar veracidade ao que via e expor sua beleza inigualável no desenho que quando entregue tive certeza de sua satisfação. Parecia ter dado todo ouro que não tinha tamanha sua felicidade com o rascunho

- Obrigada – seu fascínio era gratificante

- Eu que devo-lhe agradecer. És linda – olhei em seus olhos âmbar me certificando que ela compreenderia o elogio

- Preciso ir – sussurrou

- Por quê?

- Já devem estar me procurando, não costumo demorar muito e com a aldeia tensa não posso me dar ao luxo de ficar por aqui – foi ela dizer para ouvirmos conversas que eu não entendia próximo de onde estávamos. Fiquei tenso – o que há?

- Meu último encontro com uma tribo não foi dos mais amigáveis – olhei atento a todos os lugares já cogitando esconder-me

- O que aconteceu? Te machucaram? – tive sua atenção e achei reconfortante

- Não... em certo ponto o errado fui eu, fui tomado pela curiosidade e me viram espiando. Por instinto sai correndo dando a imagem de que estava fazendo algo errado. Em seguida cai penhasco abaixo e acabei te encontrando

- Por que saiu correndo?

- Me assustei e por momentos me recordei das lendas que contam na cidade

- Lendas?

- Que os colonos somem mata adentro – vi seu revirar de olhos

- Se somem te garanto que não temos nada a ver com isso

- Eu acredito – fui rápido na reposta – só estou supondo que possam ter interpretado mal e venham atrás de mim

- Não tenha medo se não tens intenção de nos prejudicar ou prejudicar a natureza – prestei atenção aos seus dizeres - A natureza só devolve o que jogam nela. Homens entram aqui desmantando e caçando animais para vender. Nós só queremos garantir que os danos que seu povo tem feito a nossa fauna sejam menores. Assim como queremos assegurar a liberdade dos animais que não podem defender-se das ganancias de seus egos. Se no meio do caminho alguns de vocês somem é por puro despreparo. A mata tem seus perigos e garanto que meu povo não interfere no sumiço de ninguém

- Não quis ser indelicado – ela suspirou

- Vamos

- Aonde?

- Não podem me ver com um yank

- Yank?

- Homem branco – me puxou para outra margem da cachoeira

- E minhas coisas?

- Não dá para pegar

- Não posso abandoná-las – não quis deixar meu caderno com diversos rascunhos seus para trás – vou voltar – ela me segurou olhando seriamente para o pessoal que se aproximava e ainda não tinham nos visto

- Dou um jeito de pegá-las depois, mas se insistires nisso será difícil ajudá-lo – aceitei a seguindo e vendo de longe tochas

- Mas você disse que eu não teria nada a temer

- De fato não tens – suspirou – eu que vou ter problemas se me virem com você

- Seria tão ruim assim? E por que andam com flechas?

- Como andaria quando se é caçado por homens que te escravizam? – fiquei quieto – nossa aldeia tem tido dificuldades em mantê-los longe e já perdemos muitos de nós. Se me virem contigo podem entender errado

- Sinto muito se estou te causando problemas – a seguia entre a vegetação

- Os trilhos da rodovia estão logo a frente. Siga por eles que chegará na cidade - sussurrou

- Não posso aparecer nu por lá

- Por que não? – quase ri da sua inocência

- Me prenderiam

- Mas te encontrei sem roupas – riria disso se ela não estivesse falando tão sério

- Estavam na margem – me defendi

- Não dá para voltar agora

- Por favor? – Implorei – pode ser qualquer pano ou tecido – ela olhou a volta e pareceu pensar

- Folha de bananeiras

- Acha que vai dar certo?

- É o que dá para pegar – ela sumiu por alguns instantes voltando com folhas grandes que me ajudaram a me sentir menos vulnerável

- Agora vai – sussurrou

- Como posso agradecer?

- Não volte – ela sorriu e se retirou sumindo na folhagem

- Sabe que é impossível – falei baixo olhando as folhas se moverem e ela se distanciar

Zanessa - Colors of the WindOnde histórias criam vida. Descubra agora