"Hoje é o dia em que eu morro", Kaolin pensou consigo mesma. A jovem alta, de pele pálida, com olhos e longos cabelos castanhos, se encontrava envolta por água. Estranhamente, suas roupas não pareciam estar molhadas. Respirando normalmente, olhando à sua volta, sentia a água em seu rosto. Nada fazia muito sentido naquele momento.
Não havia mais nada ali, apenas água. A garota observava sua mão ferida enquanto se movia lentamente. Ela começou a mexer seus braços e pernas bem devagar, mas notou que não conseguia sair do lugar. Kaolin não entendia como estava debaixo da água e se sentia presa em uma bolha.
A água não era fria nem quente. Ela nem ao menos tinha certeza se aquilo era água de verdade. Parecia que muito tempo havia se passado, mas Kaolin jurava que havia chegado a apenas um segundo. Misteriosamente, a jovem se sentia confortável naquele lugar.
Logo à sua frente, notou algo que parecia se aproximar.
— Syreni? — Kaolin piscou lentamente.
À medida que a figura chegava mais perto, Kaolin foi perdendo a consciência, até adormecer completamente.
— Para o seu próprio bem, acho bom ela estar viva. — Tokku ameaçava Kuruba.
— E viva ela está. — Kuruba debochou da ameaça.
Sinalizando com os olhos, o espírito indicava ao garoto que olhasse na direção da água. Lin, que ainda estava no ombro de Kuruba, desviou de Tokku que bloqueava a visão à sua frente, para observar o que acontecia.
— Kaolin! — Tokku gritou se jogando na água.
O corpo da jovem boiava no meio da pequena gruta. Amana e Endi levantaram suas cabeças baixas e olharam surpresos na direção de Tokku, que nadava rapidamente. Lin pulava agitado nos ombros do espírito, indo e voltando, passando por sua cabeça.
Se aproximando de Kaolin, Tokku a segurou em seus braços.
— Kaolin! — Agora era Amana quem gritava.
Tokku começou a nadar em direção aos amigos, levando o corpo de Kaolin que flutuava na água. Chegando na margem, Endi e Amana ajudaram a tirar a garota de dentro do rio. Foi então que notaram...
— Kaolin... — Endi sussurrou.
Todos a observavam em silêncio. Chocados demais para dizer algo.
— Por essa nem eu esperava. — Kuruba falou baixinho.
O choro de Amana mudou, agora suas lágrimas eram de ódio. Tomada pela fúria daquilo que acabara de ver, a caçula se jogou na água, gritando e chamando por Syreni.
Sem piscar, sem dizer nada, Tokku encarava o corpo de Kaolin. O rapaz não parecia respirar. Olhava fixamente para a amiga desacordada no chão.
Lin desceu dos ombros de Kuruba e foi até o corpo da garota, se aproximando de sua cabeça, encostando sua pequena pata no rosto dela.
— Por que? — Endi perguntou desesperado.
Olhando para Tokku, que nem se mexia, em seguida olhando para Amana que batia na água com raiva, Endi não sabia o que fazer.
— Mas, por que? — O rapaz questionou Kuruba.
— Provavelmente foi a melhor opção. — Kuruba genuinamente parecia chateado.
A verdade era que o espírito não esperava aquele desfecho e ficou constrangido com aquela situação, ao mesmo tempo que entendia a reação do grupo, não sabia qual era a atitude apropriada a ser tomada.
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Os Últimos Humanos
FantasyMinha intenção é criar um livro de fantasia com elementos da cultura brasileira. O nome de vários personagens são palavras em tupi, língua falada pelas tribos de povos tupis que habitavam a maior parte do litoral do Brasil no século XVI. E os espíri...