Andando depressa, se misturando na multidão, o grupo percorreu todo o terceiro andar, até a extremidade sul. Começaram a descer os andares pelos caminhos mais escuros, sempre se mantendo nas sombras. Amana olhava para os lados, garantindo que não estavam sendo seguidos.
Chegaram no fundo do abismo. Ao entrarem na casa, foram em direção a cortina preta. Amana pediu para que a seguissem até seu quarto. O cômodo era do mesmo tamanho do quarto de Kaolin, com uma cama e uma prateleira. Tudo parecia bem comum. Até Amana arrastar a cama para o lado, revelando um alçapão no chão.
Ela pegou alguns cristais que estavam em uma caixa na prateleira, e entregou um para cada colega. Depois abriu a pequena passagem e desceu por uma pequena escada. Tokku e Endi a seguiram em silêncio. Kaolin entrou no buraco, puxando a cama de volta, quando sentiu que estava tudo no lugar certo, fechou a passagem.
Não desceram muito fundo, mas o lugar era definitivamente apertado. Por conta da escuridão, os rapazes acharam que não havia nada ali, apenas paredes. Então Amana puxou uma cortina preta para o lado, revelando uma pequena coleção de livros.
— Não... — Tokku olhou aterrorizado. — Você roubou livros?
— Não roubei nada. — Amana parecia calma. — Eles sempre estiveram aqui.
— Como assim? — Tokku perguntou assustado.
— Eram de nossos pais. — Kaolin revelou.
Amana pegou um caderno, começou a folhear e disse:
— Eu não roubei, mas acho que nossa mãe roubou. Um desses livros conta sobre o mundo antes dos espíritos. Este aqui é um caderno com anotações. Nunca descobri se eram livros reais ou de fantasia. Mas as anotações são de nossa mãe, disso tenho certeza.
— Ficamos com medo de contar sobre eles, por isso guardamos em segredo. — Kaolin não se sentia bem.
— Quando nossos pais morreram, — Amana explicava para Endi. — Kaolin tinha sete anos, Tokku nove e eu apenas dois. Por isso a família do Tokku cuidou de nós. Três anos atrás, quando completei dez anos, voltamos para esta casa e começamos a morar sozinhas. Foi então que descobri esta sala e os livros.
— Por que não me contaram? — Tokku interrompeu.
— Não sabíamos o que era exatamente e não queríamos nos meter em encrenca. — Kaolin disse chateada. — Nosso lar ficou abandonado por anos, temíamos perdê-lo de novo.
— Nosso pai trabalhava nas plantações, — Ignorando a interrupção, Amana prosseguiu. — por isso as pessoas acharam melhor que eu estudasse para seguir esse ramo. Já a nossa mãe, era uma Exploradora, mas como ficou grávida da Kaolin, permitiram que ela não fosse em missões por um tempo. Logo quando ela voltou a ativa, engravidou de novo.
Amana iluminava as anotações que segurava com seu cristal, dizendo:
— Acredito que nossa mãe, por ficar muito tempo aqui cuidando de dois bebês sem ir em missões, foi designada para outros trabalhos. Onde ela descobriu esses livros e os trouxe para casa. Segundo essas anotações, tem algo de errado com a Cidadela. Imagino que ela tenha chegado muito perto da verdade, e por isso, a assassinaram. Claro que é apenas uma teoria que montei ao longo dos anos, mas provavelmente mataram meu pai pelo mesmo motivo.
— Isso é um absurdo. — Tokku se recusava a acreditar.
— Absurdo é o que nos contaram. — Amana retrucou. — Nossa mãe morrer em uma missão é aceitável, mas dizer que nosso pai morreu em um acidente na plantação? Nunca houve acidente nenhum em todos esses anos. Estou estudando desde os dez anos de idade para trabalhar lá e te garanto, não há como acontecer algo ali que tire uma vida. Já confirmei com seus pais e vários outros moradores, ninguém nunca viu os corpos de nossos pais.
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Os Últimos Humanos
FantasíaMinha intenção é criar um livro de fantasia com elementos da cultura brasileira. O nome de vários personagens são palavras em tupi, língua falada pelas tribos de povos tupis que habitavam a maior parte do litoral do Brasil no século XVI. E os espíri...