O dia passou rápido. Antes que percebesse, já estava quase na hora de começar o festival. Kaolin aguardava prontamente em sua casa. Havia feito duas longas tranças em seu cabelo e usava um vestido azul celeste comprido. Sentada no tapete, brincava com Lin alegremente, quando Endi chegou.
— Endi! — Kaolin estava animada como sempre. — Encontrei Tokku mais cedo e ele me contou que você vai trabalhar com o chefe Katu. Que sorte!
— Ele é muito divertido. — Endi sorriu constrangido. — Seus óculos, eles mudaram de cor? — Perguntou observando a garota.
— Peguei emprestado no quarto da Amana. — Kaolin fez uma expressão de culpada. — É que azul combina mais com o festival... E com meu vestido...
Endi riu.
— Falando nela, — Kaolin parecia um pouco preocupada. — você viu a Amana em algum lugar?
— Acredito que não. — Endi respondeu.
— Não a encontrei hoje o dia todo. — Kaolin suspirou.
— Quer que eu ajude a procurá-la? — Ofereceu o rapaz.
— Não, tudo bem. — Kaolin entortou a boca. — Ela faz isso às vezes. Deve estar lendo um livro em algum lugar.
— Espero que ela volte logo. — Ele disse.
Agora encarando o macaco, Kaolin falou séria:
— Lin, tenha cuidado hoje no festival. Aproveite para curtir o resto da Cidadela que vai estar vazia. Se proteja!
Kaolin passou a mão com carinho na cabeça de Lin.
— Ah! Endi, tenho uma surpresa para você! — Ela se encheu de euforia.
Segurando-o pelo braço, a jovem o arrastou até a casa ao lado.
— Espero que goste. — Ela disse abrindo a cortina marrom da entrada.
Era exatamente igual à casa das irmãs, apenas com menos objetos. Havia um grande tapete verde escuro com uma mesa no centro. No quarto, uma cama com dois cobertores. Notou também algumas peças de roupa em uma prateleira ao lado da cama. Os olhos de Endi se encheram de lágrimas que ele secou rapidamente, antes que Kaolin percebesse. Os cômodos não tinham cortinas nas entradas, então Endi podia ver com clareza o banheiro e o outro cômodo ainda vazio.
— Não se preocupe, depois arrumamos o resto! — Kaolin sorriu. — Agora vá se preparar para o festival! Não precisa vestir o poncho. Vou te esperar lá fora!
Endi acenou com a cabeça. Seu peito se encheu de felicidade. Era só aquilo que ele precisava. O rapaz foi se banhar e vestir as novas roupas. O dia tinha sido perfeito. Não precisou voltar para a prisão, conseguiu um bom emprego com pessoas interessantes, tinha sua própria moradia e iria a um festival. Ele não conseguia tirar o sorriso do rosto.
Vestindo uma camiseta azul escuro com calças que tinham uma cor estranha, algo como uma mistura de azul com cinza, Endi foi ao encontro de Kaolin. Ela o aguardava perto do rio, observando a água que batia nas pedras da margem.
— Quer ver o que tem no final? — Kaolin disse com um sorriso travesso assim que o rapaz se aproximou.
— No final? — Endi a encarou.
Kaolin apontava para o sul, na direção do rio. Endi acenou com a cabeça concordando. Os dois começaram a caminhar.
Durante o dia, enquanto trabalhava, Endi notou que a grande maioria das coisas aconteciam no centro da Cidadela. Era o local com a maior concentração de pessoas, mesmo em dias sem festivais, segundo Katu. Quanto mais afastado do cristal central, menos movimento havia.
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Os Últimos Humanos
FantasiaMinha intenção é criar um livro de fantasia com elementos da cultura brasileira. O nome de vários personagens são palavras em tupi, língua falada pelas tribos de povos tupis que habitavam a maior parte do litoral do Brasil no século XVI. E os espíri...