Kaolin, Amana e Endi encaravam Tokku com os olhos arregalados, sem piscar. Os lábios de Amana tremiam, como se ela tentasse falar algo, mas sua voz não saía. Tokku pegou o papel que a garota segurava, o virou e o colocou no centro da mesa. De um lado, havia instruções de como selar os espíritos, e do outro, a seguinte mensagem:
"Taîyra é considerada perigosa e fugiu da Cidadela para caçar espíritos por conta própria. Caso a encontrem, reportar imediatamente ao General. Nos arredores do rio Sanozama foi a última vez que alguém com características semelhantes a da Exploradora foi avistada."
As irmãs não acreditavam no que acabaram de ler.
— Olhem a data, é de três anos atrás. — Tokku apontou para o canto superior direito da folha.
— Ela ainda pode estar viva! — Amana exclamou.
— Não sei Amana, já fazem anos... — Kaolin parecia insegura. — E nem afirmam se era ela ou não.
— Quem mais poderia ser? — Amana tinha um leve sorriso em seu rosto.
— Não está escrito que era ela. — Kaolin insistiu.
— Você não quer que nossa mãe esteja viva? — A caçula questionou.
— Como ousa? — Gritou Kaolin.
— O que Kaolin está tentando dizer, — Tokku interveio. — é para ter cuidado e não criar muitas expectativas.
— Além de não darem certeza se era realmente sua mãe ou não, a última vez que a viram foi há três anos. — Endi tentou ajudar.
Amana percebeu que não adiantaria discutir com eles. Ao mesmo tempo que entendia que os amigos queriam protegê-la, achava ridículo eles não estarem tão felizes quanto ela com a possibilidade de sua mãe estar viva. Compreendendo que não realizaria nada de útil naquele momento, resolveu se retirar.
— Preciso ficar sozinha. — Amana disse indo para seu quarto. — Podem ir ao festival sem mim.
— Amana... — Kaolin a chamou em vão.
Os três não tinham muito interesse no festival depois de tudo o que descobriram e conversaram. Além de acharem perigoso deixar Amana sozinha. Eles estavam no andar mais profundo e vazio da Cidadela naquele momento.
— Ainda acho que vai ser mais suspeito se não formos. — Kaolin disse triste. — Não queremos que descubram que invadimos a sala do General e dos anciãos.
— Olá? — Alguém chamou na entrada da casa.
Mostrando apenas a cabeça que passava pela cortina amarela, Potira sorriu para o grupo.
— Ele me chamou aqui. — A garota disse suavemente.
Lin passou pela cortina, se posicionando na cabeça de Potira.
— Vocês estão bem? — Potira perguntou.
A garota notou as expressões tensas no rosto dos colegas. Quando viu Endi, por um momento tentou lembrar se já o havia visto antes, mas como sempre se esquecia das pessoas com facilidade, acreditou que ele devia ser algum amigo de Tokku.
— Sim! — Kaolin agiu rapidamente. — É que a Amana não está se sentindo muito bem, então ela foi se deitar. Você se importa de ficar de olho nela enquanto vamos rapidinho no festival?
— Você está com fome? — Potira imaginou o que Kaolin realmente queria.
— Temos que cumprimentar algumas pessoas. — Tokku tentou disfarçar.
— Tudo bem, podem ir. — Rindo, Potira foi em direção ao quarto de Amana. — Eu cuido dela.
Lin ainda estava na cabeça da garota. Kaolin e Tokku se levantaram, fazendo gestos para que Endi os seguissem.
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Os Últimos Humanos
FantasyMinha intenção é criar um livro de fantasia com elementos da cultura brasileira. O nome de vários personagens são palavras em tupi, língua falada pelas tribos de povos tupis que habitavam a maior parte do litoral do Brasil no século XVI. E os espíri...