Capítulo 10 - O Retorno

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A volta para a Cidade foi muito mais rápida, segura e tranquila do que toda a jornada até agora. Kuruba era um excelente guia, sempre indo pelo caminho mais fácil, além de fornecer proteção, impedindo que outros espíritos se aproximassem.

O grupo caminhou em silêncio a maior parte do tempo. Às vezes sentindo que seu plano era simples demais e muita coisa poderia dar errado. Em outros momentos tinham a certeza de que o que estavam fazendo era estúpido e todos acabariam mortos. Ninguém parecia muito confiante. Havia apenas uma certeza: alguma coisa devia ser feita.

Ao longo da viagem, Kaolin tentava se acostumar à vida sem sua mão direita. Graças aos anos de treinamento para ser uma Exploradora, a jovem estava habituada a usar armas com ambas as mãos, então não tinha tanta dificuldade assim em usar apenas a mão esquerda, mesmo sendo destra. Ela conseguia se virar bem durante as refeições e não parecia sentir mais dor alguma, o que deixou todos muito mais tranquilos.

Lin pulava nas árvores, aproveitando bem o mundo exterior. O macaco passou a maior parte do tempo com as plantas, se juntando ao grupo apenas na hora de dormir. Ele parecia entender que estavam voltando para a Cidadela, resolvendo usufruir ao máximo da natureza.

Conversando com Endi, Kuruba estabeleceu que os levaria até aquela região em que o garoto cresceu e conhecia bem, os deixando seguir sozinhos a partir de lá. Endi garantiu saber chegar até a Cidadela sozinho. Era claro para todos que o espírito queria ficar o mais longe possível do local e preferiria evitar se aproximar demais.

A confiança que Endi tinha em guiar o grupo pela região em que passou toda a sua vida era a única certeza que ele tinha. Provavelmente o garoto era o mais desesperado do grupo, fazendo de tudo para suprir o crescente pânico. Ele não tinha mais ninguém no mundo exterior, seus únicos amigos estavam ali com ele e as únicas pessoas que conhecia se encontravam na Cidadela. Endi queria ajudar, genuinamente queria o bom de todos, mas estava completamente inseguro com o plano.

Amana sentia isso. Ela conseguia ver o medo nos olhos dele. Acreditava que todos ali sentiam o mesmo, mas por terem uma relação muito mais forte com a Cidadela e seus moradores, conseguiam controlar melhor do que Endi todo aquele receio com o que viria a seguir.

A caçula se segurava para não ficar perto demais da irmã. Ela entendia bem que Kaolin gostava de ser independente e que era importante para ela se sentir forte. Amana gostaria de ajudar mais, apoiar mais, fazer mais pela irmã, mas achou melhor respeitar o espaço da jovem, a deixando livre para fazer tudo sozinha.

Tokku se sentia da mesma forma. Sempre de olho em Kaolin, garantindo que ela estava bem, mas sem se intrometer. Era difícil para eles se segurarem, pois conheciam ela muito bem e sabiam que mesmo quando a garota precisava de ajuda, tentava fazer tudo sozinha.

Ao mesmo tempo, o Capitão pensava com todas as forças, fazendo de tudo para bolar um plano melhor. Lembrava e relembrava de todos os detalhes, todas as informações adquiridas até ali. Do diário de Taîyra, dos livros de Amana, da história de Syreni. Se esforçava procurando algo que deixaram passar, algo que poderia salvar a todos do que estava por vir.

Infelizmente, o rapaz não tinha a menor ideia de como encontrar Rhombeatus. Para começo de conversa, não entendia como viveram juntos com o espírito sem nunca notarem sua presença ou verem algo suspeito. Pelo jeito teriam que ir com a ideia absurda de pedir ajuda aos anciãos e esperar pelo melhor.

— Chegamos. — Kuruba disse. — É aqui que nos separamos.

— Reconheço o local. Sei onde estamos. — Confirmou Endi.

— Vocês ainda tem tempo de reconsiderar. — O espírito falou sorrindo sem graça.

— E ir para onde? — Kaolin perguntou. — Viver sabendo que deixamos todos para morrer? Não, obrigada.

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