Capítulo 1 - O Intruso (PARTE 3)

23 3 2
                                    


Caminhando pelos corredores da Cidadela, Kaolin enfim chegou em seu destino: um local que funcionava como uma espécie de prisão. Rapidamente pensou em um plano para distrair o único guarda que se encontrava na entrada.

— Uma senhora precisa de ajuda no andar inferior! — Kaolin gritou em desespero. 

O homem a olhou assustado.

— Ela caiu, tentando segurar uma sacola e um bebê, — Se agarrando nas roupas do guarda, chacoalhando suas vestes, a garota continuou. — e ela está gritando muito, eu não sei o que fazer, por favor!

Chorando, Kaolin se joga no chão e finge estar sem forças. Sem entender direito a situação, o guarda correu na direção em que ela apontava.

Amana sempre odiou o talento de atuação da irmã mais velha, que conseguia fingir convincentemente as mais variadas situações, sempre pregando peças nos colegas.

Kaolin olha disfarçadamente, verificando se o guarda já se foi, então se levanta e entra na prisão. Não era um lugar muito grande, haviam apenas três celas pequenas. Também não era muito vigiado, como não ocorriam crimes na Cidadela, raramente usavam o local.

Lá no fundo, na última cela, se encontrava o misterioso rapaz deitado no chão. Kaolin se aproximou lentamente. Segurando as grades com as duas mãos, espremendo o rosto entre elas, como se tentasse entrar para observar melhor o jovem no escuro.

— Ei! — Sussurrou Kaolin. — É você quem me achou na floresta?

Ele não se moveu.

— Eeeiii... — Kaolin espremia ainda mais o rosto entre as duas barras. — Você sabe o que aconteceu?

O rapaz parecia nem respirar.

— Eeeeeiiiii!!! — Ela gritou sem paciência.

Kaolin o observou por alguns instantes. Ele parecia ser pouca coisa mais alto do que ela. Era a pessoa mais bronzeada que já tinha visto! "Realmente veio da superfície", pensou a jovem. Ele não tinha sapatos e suas roupas estavam imundas e em péssimas condições. Não conhecia ninguém com cabelos tão escuros quanto os dele.

Suspirando lentamente, sem saber o que fazer, a garota começou a se afastar da grade. Quando em um piscar de olhos, o rapaz já estava de pé e puxava Kaolin pela gola da camiseta, aproximando seu rosto entre as barras novamente.

— Se você quer respostas, me tire desse buraco. — Ele disse encarando fundo nos olhos dela.

— Só se você me soltar! — Kaolin enfiou um pé na cela, tentando chutá-lo.

O rapaz se afastou rapidamente, voltando para a parte escura do cômodo. Agora de pé, encostado da parede, cruzou os braços aguardando. Kaolin sussurrou:

— Olha, eu posso te tirar daí, mas primeiro você tem que me dizer quem é ou de onde veio... Não posso soltar um lunático na Cidadela.

Ele não respondeu.

— O que aconteceu ontem? — Kaolin insistiu. — Você viu algo durante o ataque?

O rapaz continuou em silêncio.

— Você pode ser perigoso... Como posso confiar em você?

— Eu salvei sua vida, não salvei? — Ele disse seriamente.

Os dois se encararam por um momento, e estranhamente, Kaolin sentiu que podia confiar nele. Ela tinha fama de ser impulsiva e às vezes até imprudente. Então resolveu arriscar.

— Meu nome é Kaolin. E o seu?

— Endi.

Sorrindo, Kaolin tira as chaves das celas de seu bolso. Havia pego elas enquanto chacoalhava as roupas do guarda fingindo desespero. Ela abre a cela e deixa as chaves penduradas na fechadura. Devagar, os dois se aproximam da entrada. O guarda ainda não tinha voltado. Fazendo um sinal para que Endi a seguisse, os dois correram.

Os Últimos HumanosOnde histórias criam vida. Descubra agora