Alguns dias haviam se passado. Tudo foi explicado em detalhes para os anciãos, que tiveram dificuldades em aceitar a traição de Marã, mas foram obrigados a acreditar nos jovens, não podendo negar os corpos dos espíritos jogados na plantação.
Tokku havia voltado para casa dos pais, explicando para eles o que tinha acontecido e ficando lá até se recuperar, o que aconteceu bem rápido graças a água curativa. Amana visitou Potira e contou sobre sua aventura, pois sentia que devia uma explicação para a amiga. Kaolin e Endi se encarregaram de contar a verdade para pessoas próximas, como Katu. Mais moradores foram chamados naquela noite para ajudar com os feridos e para apagar o incêndio. Logo, a história rapidamente se espalhou por toda a Cidadela.
Os anciãos decidiram que continuariam na Cidadela. Era onde se sentiam mais confortáveis e seguros. Mesmo deixando claro que todos eram livres para escolher onde iriam viver, grande parte dos moradores escolheu permanecer ali. O restante iria para a superfície, construir um novo lar.
Sem Rhombeatus, não tinham mais o que temer. Os espíritos não viam necessidade de continuar atacando os humanos, sem contar que foram enfraquecidos pelas perdas de tantos do seu tipo em uma única noite.
Após terem visto o que o mundo exterior tem a oferecer, não conseguiriam viver novamente na escuridão. O grupo resolveu se juntar aqueles que começariam uma nova vida na superfície.
Depois de resolverem tudo que tinham para resolver na Cidadela, e de fazer as preparações necessárias, cerca de um terço dos moradores foram para a floresta. Os jovens guiavam a todos, indo na frente.
— Kuruba! — Kaolin exclamou.
— Resolvi ficar nos arredores, esperando pelo dia em que saíssem. — Ele disse.
Para sua surpresa, Kaolin o abraçou. Lin, que estava no ombro dela, pulou na cabeça do espírito. Amana e Endi se juntaram ao abraço. Sorrindo, Tokku manteve distância, mas parecia feliz em revê-lo.
— Há algo que preciso lhes contar. — Kuruba falou com pesar.
Ele queria que o grupo soubesse o que realmente aconteceu com Syreni, e os contou sobre a noite em que ela desapareceu.
— Então ela nos salvou. — Lágrimas escorriam pelo rosto de Amana.
— O preço que toda a região pagará será alto. — Kuruba acariciava Lin. — Não podemos apagar todo o mal que Rhombeatus causou, só podemos esperar que todos aprendam com seus erros, na esperança de que isso não se repita.
Após ouvir o que ocorreu na Cidadela, Kuruba se despediu:
— Não nos veremos mais. Estamos voltando para o mundo espiritual. Precisamos nos recuperar e restabelecer nossas forças. Cuidem dos outros humanos.
Eles o abraçaram novamente, até Tokku se incluiu dessa vez. Endi e Amana choravam vendo o espírito partir. Kaolin entendia que não podia pedir para ele ficar. Kuruba já havia feito o que podia para ajudá-los. Precisavam o deixar ir.
Tudo que lhes restava agora era continuar, reconstruir, e enfim, viver.
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Os Últimos Humanos
FantasyMinha intenção é criar um livro de fantasia com elementos da cultura brasileira. O nome de vários personagens são palavras em tupi, língua falada pelas tribos de povos tupis que habitavam a maior parte do litoral do Brasil no século XVI. E os espíri...