Capítulo 20 - O GATINHO

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Quando  saiu com o carro, não percebeu que um gatinho bebê entrou em sua garagem. Os vidros de seu carro são bem escuros, bem mais que os vidros do meu carro. 

Saiu, o portão fechou e fiquei ouvindo os miados do gatinho, fui ver mais de perto e lá estava.  Peguei o bichano no colo e levei para dentro. Kiraz ainda estava dormindo, nem sei se gostaria do novo amiguinho.

Ela chorou a primeira vez que viu o gatinho porque ele pulou, talvez tenha se assustado. Logo se interessou e ficava virando para verificar onde ele estava toda vez que saia do seu campo de visão. Mas não se aproximava dele e eu também não quis que ficasse muito perto dela, primeiro porque não sabia se poderíamos adotá-lo, melhor seria consultar o dono da casa antes, também seria necessário dar vacinas, castrar, dar banho. 

Mas  era uma gracinha e acho excelente a convivência dos seres humanos com animais desde tenra idade.

Tomou todo leitinho que dei, era pequeno ainda, cresceria junto com ela.

Gostei dele ou dela, não sei como saber o sexo do gatinho. Olhei bem de cima a baixo procurando algo que esclarecesse o sexo mas não achei nada. Se ele pudesse ficar iria se chamar pequeno ou pequena. Apesar que iria crescer.

Seu pelo era cor de mel, lembrei que minha amiga da Universidade, uma brasileira chamada Anna, tinha uma gata da mesma cor, e morava clandestinamente no alojamento de estudantes. Acho que o nome era Margherita, tinha  cor de mel, e o pequeno ou pequena era bem parecido. tomara que pudesse ficar.

O dia transcorreu bem, procurei manter o gatinho um pouco distante de Kiraz, mas ela  já estava gostando dele. Estavam na fase do namoro, um conhecendo o outro, lembrei do pequeno príncipe e a raposa dele. "Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa". 

Se ele pudesse ficar, iria dar mais alegria a nossa vida, tudo aqui era rotineiro, um pouco cinza, com o gatinho ficaria mais colorido. 

Quando ele retornou a casa percebi que não era o momento para falar do novo morador, não estava tão leve, havia um nevoeiro em seu olhar. Não falou nada, não perguntei. Esperei sua manifestação.

Perguntei se iria jantar, disse que sim.

Kiraz estava no carrinho dormindo, o pequeno estava no apartamento, sentamos e jantamos silenciosos. 

Aos poucos ele foi relaxando, perguntou como havia sido nosso dia, arrisquei saber como havia sido o encontro com seus pais, se estava tudo bem com eles. Respondeu que sim, estavam bem, recém retornaram da Grécia, onde foram visitar amigos, porisso queriam vê-lo. Trouxeram um jogo novo para ele, amanhã iriamos jogar.

Perguntei se gostava de gatos, cachorros, disse que sim, mas nunca teve por não ter tempo de cuidar.  Desde pequeno era muito ligado aos estudos.

Contei que quando saiu com o carro um gatinho entrou na garagem e eu o resgatei, é um bebê, está lá no apartamento. Se pudesse ficar eu o levaria para tomar banho, vacinas, passar pelo veterinário, talvez castrar. O que ele achava?

Ele perguntou se seria bom para Kiraz, será que ela não era muito novinha para ter um gatinho?

Respondi que não fui em busca do bichinho, ele surgiu, nos escolheu. Eu não tinha idéia se seria bom ou não, mas nos filmes, nas séries as pessoas tem animalzinhos e depois tem filhos. Perguntei se ele gostaria de conhecer o gatinho. 

Respondeu que não, não gostaria de conhecer.

Para um bom entendedor meia palavra basta, entendi que não gostou da idéia. Decidi então que iria soltá-lo. Agora era muito tarde e o gatinho era bebê. Seria cruel fazer isto a noite. 

Limpei a cozinha, ele foi trabalhar na sala, voltei para o apartamento junto com ela. Pensei que as coisas não estavam bem. Alimentei o gatinho e fomos dormir. Eu estava triste.

A noite fiquei pensando como havia sido bom guardar todo o dinheiro que ganhei trabalhando e também o presente de Kiraz, era tranquilizante ter a casa de meus pais, ter minha prima, poderiamos criar Kiraz juntas e minha vida ia seguir o caminho que eu direcionasse. 

Ele voltou diferente, não sei se para melhor ou não.

Pensei que devia ser muito difícil a vida dos casados, parece aquelas massinhas de modelar que as crianças usam na escola. As mulheres procuram se moldar ao humor do companheiro todos os dias, decifrar qual a cor do dia, que forma você tomará para agradar.





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