Kill and Bury

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AVISO: Capítulo sem revisão‼️

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Os homens são como os animais, cada homem se identifica e é atraído pelo cheiro que lhe é peculiar. A que animal te assemelhas, a que grupo pertences?

Aos abutres e às hienas que vivem a comer carne podre de animais mortos?

(Evan do Carmo)

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Ela chega como um abraço quente em uma noite fria. Enquanto as gotículas escorriam pela janela e a chuva batia forte contra o chão, o vento tocava sua melodia silenciosa e o coração se derretia em solidão. As sombras enchiam o quarto, com suas balbúrdias e lástimas. O paladar amargo à vida. A lua sorriu ao contrário, iluminando um triste vaso rachado de murchas flores sobre o parapeito. Ela vem, sorrateira como adormecer. Então ela prende em uma paralisia do sono. A coberta se enrola entre as pernas, sobe até o pescoço e sufoca. As gotículas agora escorriam pelos olhos, molhando o travesseiro. A ponta do nariz vermelho, gélido como um cubo de gelo. As pontas dos dedos se dobrando em agonia. A voz que se engasga na garganta. O céu coberto por cinzentas nuvens, furiosas e tristes. Ela veio, a única que nunca abandona. Ela oferece colo e ela aconchega. Abraça até que não tenha ar. Esmagando o peito, mutilando a pele. Ela nunca diz adeus, apenas um até logo. Chacoalha a linha tênue entre realidade e ficção, mas uma coisa se há certeza, ela sempre volta duas vezes maior do que antes.

O corpo não se ergue, não se move, não se alimenta. A semente cai no umbigo, o sangue molha e nasce um broto. Passa-se a semana, o broto cresce. Os ramos subindo pela barriga e descendo pelas coxas, enroscando a garganta, adentrando a boca, os ouvidos, as narinas e os olhos. Logo, há um tronco, um espesso caule sobre o corpo. Não há volta, não há como se erguer só. O cobertor cobre a árvore, o colchão engole o corpo. Não há distinção, é uma coisa. A chuva não cessa, inunda. Enche as ruas, invade a casa. A coisa resiste o quanto pode, mas afoga. Afoga como esteve desde o princípio: só. Não há funeral, não há parentes para lamentar, não há polícia para investigar, nem mesmo abutres para saciarem a fome de carne podre. E então ela se vai. Em um último suspiro de adeus. Ela finalmente se foi, e junto a ela: a coisa.

『••✎••』

Parecia ainda ser noite quando um despertador tocou, remexi na cama tapando os ouvidos com o travesseiro, mas o despertador apenas pareceu ficar mais alto. Levantei-me ainda sonolento procurando pelo objeto infernal nas gavetas da mesa de cabeceira, no guarda-roupas, no banheiro, debaixo do tapete, em todo lugar possível, mas não encontrei em lugar algum. Sentei-me no chão, sendo vencido pelo sono com um dos braços sobre o colchão da cama. O barulho infernal parecia que estava vindo de debaixo da cama. Quando olhei debaixo dela, não vi nada. Mas logo ficou claro que o som vinha do chão. Pus o ouvido na cerâmica ouvindo o despertador reverberar sob o piso. Subitamente uma das cerâmicas se moveu sozinha revelando um buraco. Lá havia uma pequena criaturinha que parecia uma gárgula bebê. Era rosado com algumas partes mais vermelhas, gordinho, seu rosto era meio quadrado, possuía olhos grandes verdes, um par de orelhas pontudas, um nariz achatado, um par de asinhas semelhantes às de morcego, garras afiadas e um rabinho com a extremidade no formato de ponta de flecha. Ele sorriu para mim expondo seus dentinhos separados e afiados de tamanhos diferentes destacando suas maçãs do rosto. Ele segurava, deitado, o despertador sobre sua barriga saliente desligando-o ao me ver acordado.

Gritei assustado, subindo na cama e me protegendo inutilmente com um travesseiro. Ele deixou o buraco voando baixo, seu peso parecia ser quase demais para suas asinhas. Em determinado momento suas asas falharam e ele caiu rolando na minha cama, deixando seu despertador cair, se embolando nos lençóis. Aproveitei a deixa para prendê-lo.

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