Capítulo 16

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Steve

— Que nem as luzes de Natal... — Nancy comenta encarando o lustre velho da sala principal da casa dos Creel piscando de uma forma esquisita e assustadora.

A questão é que Max nos chamou e contou sobre ter energia na casa, o que até então era algo impossível, porque verificamos todos os interruptores e abajures e nada de luz. Mas então um brilho avermelhado começou a aparecer entre velas, luminárias e outros objetos, tornando a surgir mais um mistério para nossa lista de investigação.

— Que luzes de Natal? — Robin pergunta atrás de Wheeler.

— Quando Will ficou preso no mundo invertido, as luzes ascendiam.

— O Vecna está aqui — Sinclair suspeita —Nessa casa. Só que do outro lado.

— Acho que ele saiu da sala — Munson diz

— Ele ouviu a gente? — Max me pergunta

— Ele está vendo a gente? — replico com outro questionamento.

— Põe o fone — Lucas manda a Max.

— Espera aí — Wheeler começa a se movimentar — Todo mundo apaga a lanterna e se espalha — e é o que fazemos.

Ando vagarosamente pelos cantos, olhando, bem, tentando olhar, por onde piso.

— Achei! —Robin grita de algum lugar da casa — Achei o Vecna! — Corremos até o som de sua voz, mas quando a alcançamos não há mais luz— Eu tinha achado — ela se explica e levei um susto ao perceber que dessa vez o brilho desconhecido está na minha lanterna

— Opa, ô... Acho que está se mexendo — suspendo minha lanterna para todos verem e seguimos a luz vermelha. Chegamos até o segundo andar, depois de subir e descer as escadas várias vezes. Ao chegar no topo a luz desaparece. — Caraca!  Perdi... — lamento

— Perdeu não — Henderson comenta indo em direção à uma porta entreaberta e mostrando-nos a luz irradiar em tons de escarlate por lá.

— Ah, é o sótão. — Eddie comenta — Claro que é o sótão.

— Espera aí gente, e isso for uma armadilha? — Sinclair comenta, mas o ignoramos.

Quando chegamos ao local exato em que a luz era emitida, percebemos algumas poeiras ao redor da lâmpada, e o brilho ressoa cada vez mais irregular.

— Lanternas — Henderson fala ao perceber que o seu objeto está emitindo a mesma luz que a lâmpada do sótão. Juntamos as nossas lanternas ao redor da lâmpada.

— Vem cá, o que está acontecendo? — pergunto.

Então a luz começa a crescer e ser potente, algo diferente de tudo o que já tinha visto, e olha que eu já vi muita coisa. Ninguém ousou falar, só havia rostos tensos e medrosos. Então de repente o brilho foi tão forte, mas tão forte que quebrou a lâmpada, fazendo todos recuarem e saírem de perto.

Quando o acidente catastrófico cessa, decidimos que o melhor a se fazer é deixar a mansão o mais rápido possível por conta de Max, e também porque já está escurecendo e talvez nenhuma pista a mais poderá ser encontrada por aqui.

— Estamos ferrados não estamos? — Robin pergunta no carro a ninguém em específico

— Bem, nós estamos a um passo mais próximo do Vecna... — Wheeler tenta ser positiva.

— É, encontramos o Vecna. Mas adivinha? Ele está em outra dimensão escura e sinistra. Só que o portal está fechado, não tem como chegar lá, o cara está todo blindado então meio que não temos saída. — Ela dispara freneticamente.

— Nossa, isso ajuda muito, Robin. — Digo — Estou até mais feliz agora. — Robs revira os olhos para mim.

Passamos o resto do percurso jogando teorias e ideias de como conseguir superar esse desafio. Munson indo no porta malas num completo silêncio.

— E agora, o que faremos? — Max pergunta assim que estacionamos na garagem dos Wheeler.

—Buscamos reforços? — Henderson sugere — Vamos entrar e ver se conseguimos contatar os garotos em Califórnia, explicamos tudo a eles e talvez possam nos ajudar

— É, se eles atenderem...

— Se pudéssemos ir até o local em que Chrissy e Fred foram mortos... — Wheeler devaneia — Sei lá, talvez alguma coisa poderíamos achar, não? Vecna também esteve por lá. E se encontrássemos novamente aquela luz?

— É. Mas e o Eddie? — Henderson pondera.

— Verdade, ainda temos esse problema — sussurro — Não podemos andar com ele para todos os cantos, ele ainda está sendo procurado.

— É...

— Bem, vamos tentar conversar com Joyce por telefone, depois vemos o que faremos com esse pequeno probleminha — Digo saindo do carro de Nancy.

***

— E aí? Atendeu? — É a quarta vez que Robin pergunta a mesma coisa e a quarta vez que Max tenta ligar para o grupinho de Califórnia.

— Nada ainda— ela anda de um lado para outro com a linha do telefone a acompanhando. Tia Karen deixou sanduíches na mesa e Sinclair e Henderson estão devorando a comida. Eu, que me alimento civilizadamente, experimento um e lembro de guardar outro para Munson, que ainda está no porta malas do carro.

— O que faremos, então? — Henderson questiona de boca cheia.

— Não sei, ainda temos que resolver o que acontecerá com Eddie. — Wheeler pensa— Não sei se é uma boa ideia deixá-lo no porão. Ele nunca fica quieto e a minha mãe está desconfiando de um barulho esquisito vindo lá de baixo. E também sobre as comidas da geladeira estarem acabando muito rápido.

— Por falar em comida— Robin se lembra— Você já foi deixar o lanche de Eddie, Steve?

— Ah, sim— levanto-me da cadeira e vou em direção à garagem.

A rua dos Wheeler, como sempre, está vazia. O vento quente em Hawkins comum na temporada de recesso penetra furiosamente em meus cabelos, mesmo estando para escurecer.

— Munson Balonfo, só tinha sanduíche para encher a pança — digo enquanto chego perto do carro. 

Nenhum barulho.

— Munson? Você dormiu? — pergunto desconfiado pelo silêncio profundo. Espero mais um segundo até abrir o porta malas.

Eddie não está lá.

Largo o sanduíche no chão e o procuro por toda a garagem e no quintal. Ando pela rua e pelos quarteirões próximos. Entro nos becos um pouco escuros do bairro e me seguro para não perguntar para cada senhora que passa caminhando na rua se o viu. Porquê como eu perguntaria? "Ah, boa tarde senhoras, alguém viu um cara todo de preto com cabelos grandes? Ele está sendo procurado pela polícia, então provavelmente vocês já viram o rosto dele em algum lugar da cidade". Tento perguntar para as crianças brincando na rua, mas não dá em nada.

Droga!

A sensação de medo e pavor é o que mais me irrita. Sim, me irrita. Porquê Munson não deveria ser tão especial ao ponto de me enlouquecer por perdê-lo de vista. É tão estranhamente desesperador. O meu peito dói e quase consigo afundar minhas mãos no buraco estrondoso no meu coração.

É aquele sentimento que você tem quando perde a final de um jogo, ou muito pior, como quando seu pai te dá um murro na cara por você ser imprestável, ou a sensação de perder uma pessoa que é importante para caralho. A última vez que me senti assim foi quando vi Nancy e Jonathan se abraçando no quarto dela. Aquilo doeu. E agora está doendo de novo. Tipo, de verdade.

Arhg! Que porra está acontecendo comigo?

Aquele idiota deveria ficar quieto! Eu vou matá-lo por isso! Ah se vou!

Sem respostas, entro desesperado pela casa e interrompo a conversa do pessoal. Minha respiração tão alta e irregular que deixa todos já ciente de algo muito sério aconteceu.

— Eddie fugiu. 

Uma dupla caótica (Steddie)Onde histórias criam vida. Descubra agora