"O Templo da Lua sempre esteve ali.
As grandes mudanças vieram através das guerras,
as pestes e a fome que assolaram o mundo...
mas não entraram lá".
O Templo era estranho, diferente de qualquer outro. Aparentemente desabitado e geralmente ermo. Sua localização era em uma ilha a cinco milhas náuticas da costa, seguindo a partir do Rochedo da Donzela em direção ao sol nascente. Somente dessa forma pode-se chegar lá sem se perder pelas águas do Atlântico.
A ilha na qual estava localizado este Templo tem a forma meia lua, situada em um pequeno arquipélago composto por mais oito ilhéus. A construção tinha formato circular, com grandes blocos de um curioso tipo de minério que assumia diferentes tons de cor de acordo com a intensidade da luz do sol e da lua. De dia, era como ver uma grande torre escura, e a noite era clara. Nas primeiras horas do amanhecer era prateada, e no crepúsculo assumia o tom dourado.
Olhando bem, o Templo não demonstrava sinais de nenhuma corrosão causada pela maresia e o vento, e era curioso como ele parecia ser uma construção tão bem conservada apesar dos séculos de existência.
Considerado ser uma grande edificação, o Templo possuía cerca de cinquenta metros de altura. Em sua fachada havia a figura de uma meia lua em ouro sobre um disco de cristal azul-índigo. Nas janelas, vitrais com figuras de batalhas entre guerreiros e criaturas míticas. Havia quatro torres solares posicionadas do lado de fora, de modo que refletiam a luz para o interior do Templo através das janelas.
Subindo exatos cinco degraus de mármore, as grossas portas na entrada eram de carvalho e ferro, com pedras de jade, ônix e lápis-lazúli encrustadas. As aldravas eram em forma de cabeça de leão feita de ouro, com olhos de rubi. A impressão que se tinha era que encaravam severamente todos que ali chegavam, como se julgasse quem poderia ou não entrar.
Ao adentrar no templo é surpreendente o que se vê: ao invés de um lugar lúgubre e sombrio, como todos os templos antigos, havia um ambiente extremamente agradável. A temperatura no do Templo é fresca e aconchegante, a luz vinda da grande claraboia no teto, feita do mesmo cristal azul-índigo do disco na fachada, de modo que os raios solares criavam prismas coloridas no chão e nas paredes. Nas paredes, abaixo de cada vitral, haviam textos escritos em linguagem antiga, composta por algo similar a runas e hieróglifos. As pessoas nunca demoravam muito o olhar em cada um dos símbolos estranhos que representavam animais, astros, armas, signos e outros símbolos desconhecidos, pois ninguém entendia o que estava escrito.
O chão era mármore branco, exceto quatro lajes de cobalto localizadas em pontos cardeais. Esculpidas em alto relevo mostrava figuras de estranhos animais: uma ave majestosa, parecida com um pavão, uma tartaruga possante, um enorme felino e um dragão. No centro, porém, estava a principal atração, que fazia compensar a vinda a este curioso lugar.
Havia no interior do Templo, na parte central, um grande e belo jardim. A grama bem cuidada era sempre verde e aveludada. Repleto das mais diversas flores árvores frutíferas e ornamentais. Alguns arbustos com flores e frutas silvestres coloriam ainda mais o cenário. No centro, havia uma fonte de água doce, pura e cristalina. Seus regatos cortavam o jardim, com pedrinhas de várias cores e formatos no fundo.
O barulho da água, o doce perfume das flores e o silêncio, faziam daquele lugar um ambiente extremamente aconchegante. Qualquer um poderia tranquilamente tirar uma soneca à sombra das árvores, ouvindo apenas o som da água corrente e da brisa soprando a vegetação.
– Naquele lugar existia a verdadeira paz.
O Templo da Lua recebia visitas ocasionalmente. Aqueles que buscavam paz interior iam até lá, pois o jardim era um lugar bom para a meditação, energização e descanso. Era muito raro encontrar quatro ou mais pessoas lá. Por estar sempre bem cuidado, subentendia-se que havia algum zelador ou jardineiro, mas o mesmo nunca foi avistado por nenhum visitante. O local, por estar em alto-mar, nunca foi alvo de nenhum tipo de ataque pirata, vandalismo ou pilhagem. Talvez porque a paz e a bondade contagiavam todos que chegavam lá, ou talvez porque se não zarpassem do e seguissem o trajeto pelo Rochedo da Donzela não se podia chegar ao destino.
– Mistérios desse mundo de mistérios.
Entretanto, com todas essas maravilhas e atrações, ninguém prestava atenção em uma estátua localizada bem no centro da fonte. Uma estátua esculpida em jade, representando um rapaz com pouco mais de um metro e oitenta de altura e cabelo arrepiado. Usava um grande casaco, uma espécie de jaqueta, joelheiras cinto e botas. Porém, o que mais intrigava naquela estátua era a expressão: um olhar que misturava alegria e tristeza, determinação e cansaço junto um sorriso zombeteiro. Qualquer um que olhasse entenderia que aquela expressão poderia ser de alguém que veio de um longo e árduo dia de trabalho. Mesmo sendo feito de jade, a obra de arte era perfeita, parecia até que era realmente uma pessoa petrificada.
Mas o que nos chama a atenção é o motivo desta estátua estar ali. Ele não se parecia com nenhum santo ou ídolo conhecido. Não aparece em nenhuma referência de livros ou em banco de dados históricos. Na verdade, o motivo dele estar ali vem de uma antiga história que se perdeu entre as lacunas da linha do tempo e foi esquecida por quase todas as pessoas. É um conto que volta aos primórdios da história, quando o mundo em que vivemos quase acabou. A série de eventos catastróficos que resultou na origem do Templo da Lua e da antiga sociedade guerreira que protege o último registro e a memória de um episódio na história do mundo que ficou conhecido como...
A Lenda dos 4 Guardiões
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Os Quatro Guardiões - Livro 1 - O Oráculo
AdventureO primeiro livro da série. Conta o começo da aventura de SCYLLA, uma jovem professora que reside em um sítio próximo à um vilarejo. Desde bebê ela mora com seu avô, um fazendeiro próspero e excêntrico. Sua vida muda quando seu avô a presenteia com...