Capítulo 10

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O guerreiro da luz contém em si a centelha de Deus.

Seu destino é estar junto com outros guerreiros, mas – às vezes – precisará praticar, sozinho, a arte da espada: por isso, quando separado dos companheiros, comporta-se como uma estrela.


Paulo Coelho

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CAPÍTULO X

AS ESTÓRIAS DA ONÇA

Scylla

Scylla acordou assustada. Algo havia lhe espetado no ombro, e ela ainda sentia uma dor aguda, leve, mas incômoda. Quando abriu os olhos, percebeu que não estava mais na floresta, no local onde havia se deitado. Em vez disso, encontrava-se deitada em uma cama dentro de uma cabana rústica. O teto era feito de sapé e folhas de palmeira, e as paredes de bambu amarradas com cipós de forma simples, mas cuidadosa. Ela se perguntou como havia parado ali, mas, antes que pudesse pensar melhor, percebeu que havia alguém por perto.

— Ela acordou! — disse uma voz feminina, e, logo em seguida, ouviu passos apressados se afastando. — Ceci! Ela acordou!

— Vá trazer água, já! — respondeu uma mulher do lado de fora da cabana.

A cabeça de Scylla doía, e o sonho parecia ter exaurido ainda mais suas forças. Tentou se levantar, mas alguém gentilmente pressionou seus ombros para baixo, fazendo-a se deitar novamente em uma cama macia.

— Onde estou? — perguntou ela, com a voz ainda grogue.

— Fique calma, moça branca. — disse uma mulher de meia-idade, com um tom suave, mas firme. — Está segura aqui. Moça branca estava na mata. Moça branca estava desmaiada.

Scylla olhou para cima e viu uma mulher indígena de longos cabelos negros e pele cor de bronze. Ela usava um manto marrom, adornado com alguns colares artesanais, e havia uma pintura vermelha na região dos olhos. Scylla notou também algumas cicatrizes no rosto, no ombro esquerdo e nos braços, sinais claros de ferimentos passados. Parecia ter sofrido sérios arranhões. Scylla desviou o olhar rapidamente, para não parecer rude.

— Quem é a senhora? Como cheguei aqui? — perguntou, com a voz fraca.

— Sou Anahí, da tribo Apykaeté. E quem é a moça branca?

— O meu nome é Scylla. Sou uma... ah... viajante.

— Ci'la... Nome bonito.

— Muito obrigado, senhora.

— A minha filha a encontrou caída no meio do mato. Depois veio me chamar e corremos para te buscar. Você estava caída aos pés de uma árvore, perto do precipício. Nós duas carregamos você para cá.

— E onde está a sua filha?

— Ela foi ao rio apanhar água fresca. Volta logo.

— Agradeço muito pela ajuda de vocês.

— O que estava fazendo no mato? Longe da cidade e do seu povo?

— Estou em uma viagem, senhora. E então parei para descansar e... acho que acabei dormindo.

— Foi um sono muito pesado. — Anahí caminhou pela cabana e trouxe uma bandeja de madeira com algumas frutas. — A moça branca deve comer. Parece estar fraca.

— Muito obrigado. Para dizer a verdade, estou realmente muito faminta.

— Carregamos a moça branca até a oca e kukoire acordou a moça. Kukoire é esperto. O kukoire é sim!

Os Quatro Guardiões - Livro 1 - O OráculoOnde histórias criam vida. Descubra agora