Em busca do Éden

Capitulo IV: Neblinas, montanha e... Um cachorro?!

Alexander

Eu já morri mais de uma vez pra ser sincero. E em todas essas mortes a sensação é a mesma. Boiando, sem controle do corpo, mas o difícil para mim é quando sou soterrado pelas minhas memórias do passado.

Há muito tempo atrás, enquanto eu ainda era um garotinho, mesmo já fazendo tanto tempo ainda consigo me lembrar perfeitamente de tudo. Só tinha os meus pais, vivíamos afastados de tudo e todos em uma pequena cidade fantasma em que nós tomamos posse de tudo lá, meu pai era um homem espirituoso e divertido que sempre me levava para vasculhar as ruínas do velho mundo.

Ele foi o homem que me ensinou as línguas mortas desse mundo. Foi dele que herdei meu sorriso, criatividade e paixão, paixão pelo velho mundo, paixão pela liberdade. Minha mãe era uma mulher forte, honesta e boa. Sempre me deu muito amor e me educou para ser um bom homem. Justo, bom, humilde e nobre, mesmo que muito desses ensinamentos eu tenha abandonado para poder sobreviver nesse mundo pós apocalipse, ainda prezo por cada lição.

Ela que me ensinou a pilotar velociraptors veganos, a cultivar e lutar com espadas, foi dela que herdei meus olhos violetas, cabelos louros como grãos de areia, meu amor pelo campo e pelos animais.

Quando eu tinha cinco anos, em uma noite de verão qualquer, estávamos no campo poucos metros da cidade que chamávamos de casa, voltando de uma bela pescaria quando nos deparamos com um rebanho inteiro de vacas carmins, ainda me recordo perfeitamente de cada, traumático, detalhe.

Meu pai parou bruscamente e eu bati nele e logo olhei na direção em que ele olhava com tanto pavor. Continuei parado, não conseguia entender o motivo de todo seu pânico, naquela época eu nem imaginava os perigos daquelas coisas.

Minha mãe se coloca ao lado do meu pai com sua espada em mãos. Com a voz apreensiva perguntou: — O que elas fazem aqui?

Meu pai engoliu em seco com a voz trêmula, respondeu baixo: — Temos que tirá-lo daqui rápido.

Minha mãe rapidamente me pegou no colo.

— Você acha que consegue cuidar delas? — pergunta esperançosa.

— São muitas... Proteja-o a todo o custo. — foi tudo que ele disse.

Mamãe hesitou, mas assim que as vacas começaram a se mover, começou a se afastar devagar. Eles trocaram olhares pela última vez e ela correu comigo, nós estávamos próximos da floresta quando elas alcançaram meu pai, se jogando sobre ele começaram o devorar. Seus berros de agonia ecoavam por todos os lados, tudo que pude fazer foi chorar. Em meio aos choros, mamãe continuava correndo e tentando abafar o som segurando minha cabeça e sussurrando coisas boas.

Estava completamente paralisado, enquanto passávamos por uma ponte velha e quebradiça, que ligava uma extremidade a outra da floresta. Seus sussurros positivos agora tinham um tom de despedida melancólico. Um passo em falso fez com que a ponte cedesse, eu fiquei pendurado enquanto ela continuava me segurando do alto.

— Alex, você é um bom menino, continue assim. - ela disse com um sorriso no rosto, e olhou lá pra baixo, a distância não era tão grande e havia um rio. O rosto dela se contorceu de dor e suas últimas palavras: — Você é único Alex, você pode ajudar a curar esse mundo...

Assim que ela me soltou foi puxada pelas feras carmins. Foi uma queda mediana que durou uma eternidade, pelos gritos, pela dor e pelos membros decapitados e mutilados que despencaram rapidamente em minha direção. No momento em que toquei a água morri, por mais que eu não soubesse disso na época, quando recuperei meus sentidos subi a colina á escalando para comprovar o que eu já sabia e temia. Minha mãe se foi, tudo que sobrou foi algumas poucas partes mutiladas, poucos tecidos de roupa incluindo seu lenço. E a espada dela, que peguei para mim e parti sem olhar para trás, não havia mais o que olhar, não havia mais nada para mim naquele lugar.