Capítulo 5

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Eles a desobedeceram.

Na manhã seguinte, quando Celeste acordou, ela não estava sozinha em seu quarto.

Bomami e Ayo estavam sentados em sua cama, seus tios (inclusive Dori, que não saia do laboratório desde a tarde anterior) e os elfos estavam ao seu redor a olhando atentamente. Haviam algumas caixas pequenas empilhadas sobre a mesinha ao lado da janela e um pequeno bolo azul decorado com uma vela que queimava soltando faíscas flutuava a alguns palmos em cima de sua barriga.

Ah, ela pensou. Então havia sido aquilo que a acordou. Mesmo durante o sono estava sentindo sequencias de arrepios passando por seu corpo.

Celeste bocejou enquanto se sentava na cama esfregando os olhos, não ligando para estar esquisita com o rosto amassado, pijama torto e com aquela touca de cetim preta que lhe cobria os cachos. Era apenas sua família ali, afinal.

ㅡ Achei que tinha dito para não se preocuparem com isso. ㅡ ela disse com a voz rouca, outro arrepio varrendo seu corpo.

ㅡ Bom dia para você também, Celeste. ㅡ Aren falou em um tom descontraído. ㅡ  Você ainda não é nossa Senhoria, então ainda não temos que obedecer suas ordens.

Celeste arqueou uma sobrancelha e o tio a retribuiu com um pequeno sorriso. Outro arrepio.

ㅡ Você está bem? ㅡ Zuri perguntou se aproximando e pondo a mão sobre a testa da menina. ㅡ Desde a hora que entramos você está tremendo. Está com frio?

ㅡ Só estou sensível. ㅡ a garota murmurou com preguiça de explicar sobre seu núcleo. Um olhar para Aren e ele soube que seria dele essa tarefa.

ㅡ Você tem que assoprar a vela logo, Tata. ㅡ Bomami falou. Ele segurou Ayo que estava se arrastando pela cama para chegar a fonte das faíscas enquanto repetia “Tatatata" continuamente.

Celeste retirou a mão da tia de sua testa antes de se aproximar do bolo bonito. Ela não fez um pedido antes de assoprar. No instante seguinte haviam Carolinos e elfos de todos os lados a abraçando e desejando feliz aniversário.

ㅡ Agora abra os presentes. ㅡ foi Jawari quem falou, os lábios escuros sujos pelo corante azul do bolo recém comido. Mimi, que estava sentada na poltrona ainda comendo seu pedaço de bolo, estalou os dedos e as caixas flutuaram até a cama. Celeste conseguiu não tremer dessa vez.

Eram quatro caixas pequenas embaladas com papeis de presente coloridos e laços escandalosos.

Aren lhe deu Espelhos de Dois Sentidos, Zuri e Dori lhe deram uma saga de livros de romance veela japonês, Jawari e Bintu lhe deram um conjunto de esferas de cristais e um pequeno guia de uso, e Mimi, Jiwi e Dowo lhe deram uma caixa repleta de seus doces favoritos.

Quando os adultos e elfos saíram do quarto após o agradecimento, Bomami lhe entregou um grande pergaminho enrolado. Era um desenho de Celeste – ela tinha uma expressão furiosa em seu rosto, seu corpo estava curvado de uma forma estranha, seus joelhos tocavam o chão sujo, uma mão parecia fazer força segurando uma grande pedra e a outra era usada para manter o que quer que aquele borrão fosse no chão. Ela parecia mais velha, os cabelos em tranças boxeadoras, vestia roupas de combate rasgados e manchados de sangue, mas o que mais chamava atenção eram seus olhos, serrados de ódio e com um fogo tão intenso que era como estar olhando diretamente para o mal.

Celeste olhou para Bomami e ele a olhou de volta. Nenhum dos dois disse uma palavra.

Após o café da tarde os adultos se reuniram no escritório, Celeste optou por não ir, afinal como seu tio Aren falou ela ainda não era (oficialmente) uma senhoria. Sua presença, apesar de bem vinda, ainda não era necessária, além disso sua cabeça ainda estava muito bagunçada o que a fazia ficar distraída – haviam episódios até mesmo que ela sentia como se estivesse fora do próprio corpo –, então apenas assumiu que não seria de grande ajuda. Ao invés disso pegou seu exemplar de “A Arte Da Legilimência e Oclumência”  e se juntou ao irmão e a prima no jardim traseiro. Enquanto ela lia, Bomami brincava com Ayo.

Celeste - Resgatada da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora