[21] 22 a 23 de Março

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22 a 23 de Março

Dia 175, Segunda

Snape olhou para o relógio, esperando que o nervosismo que sentia não estivesse evidente em seu rosto. Olhou para Draco, que parecia meio nauseado, e com bons motivos para tanto. Essa reunião...

Aquela era uma das posições mais delicadas e complicadas em que Snape já estivera em todos os seus anos trabalhando para a Ordem. Porque, por um lado, ele deveria ser o Comensal da Morte que tinha que se certificar que Draco não fizesse nada idiota, como tentar salvar Potter. Isso era o que todos - incluindo Draco - esperavam que ele fizesse.

Mas, por outro lado, ele deveria ajudar o Garoto-Que-Sobreviveu a manter seu ridículo título. Dar um jeito de fornecer polissuco para Granger e Weasley já tinha sido bastante desagradável, ainda mais sabendo que Draco iria usá-lo para estar perto de Potter sem ninguém descobrir. O simples pensamento de tentar induzir Draco a se associar com Potter era... bastante revoltante. Não importava o que Draco sentisse pelo garoto.

Felizmente, seu trabalho tinha sido facilitado bastante pelo próprio Lucius Malfoy, maldito fosse. Sua maneira de lidar com as coisas tinha servido apenas para entregar Draco embrulhado para presente a Potter. Só estava faltando o laço no topo do embrulho, e Snape tinha a sensação de que ele seria providenciado naquele dia. Ele ainda estremecia pela lembrança dos olhos cinzas de Draco arregalados no Grande Salão, fixos no Berrador que o destruía pedaço por pedaço. O próprio Snape ficara com o coração na mão o tempo todo, conforme Lucius transformava em verdade todos os piores medos de Draco de uma vez só. Deixando-o envergonhado muito além da redenção diante de seus colegas, tirando quase tudo que tinha alguma importância para ele e o ferindo até o osso com sua rejeição.

E então, a marca que ele fizera em Draco... Snape se sentia fisicamente enjoado quando pensava naquilo. Mesmo sendo um Comensal da Morte, ele não podia imaginar fazer uma coisa daquelas com um ser humano. Especialmente um que confiasse nele e o admirasse, como Draco tinha confiado e admirado Lucius, sem razão alguma para tanto, na opinião de Snape.

'Tinha' sendo a palavra que importava. Qualquer confiança e admiração que existiu fora destruída, pelo que Snape podia dizer. E isso não era tudo que Lucius tinha destruído. O próprio Draco estava... despedaçado desde então. Uma não-entidade entre os outros sonserinos. Excluído, reservado, quase indiferente ao mundo ao redor de si. E ele tinha voltado para Potter imediatamente, se arriscando ao desgosto do seu pai sem se importar. Não poderia haver prova maior da perda da devoção filial de Draco do que aquela.

E agora Draco queria ajudar Potter, e estava disposto a se arriscar à ira de Lucius de novo, se necessário, para fazê-lo. Não deveria ser surpresa para ninguém. Exceto para Lucius, é claro. Lucius provavelmente nunca entenderia isso, e também nunca entenderia que foram suas próprias ações que levaram Draco a fazer o que estava fazendo.

Lucius nunca entenderia o próprio filho, nunca entenderia que as semelhanças entre eles eram apenas nas aparências. Draco nunca seria tão inteligente, perspicaz, forte ou sem coração quanto seu pai, e Lucius nunca o conseguiria perdoar por isso. Mais uma vez, Snape amaldiçoou Lucius por não ter tido o bom senso de ter transferido o garoto para Durmstrang, já que ele iria usar o vínculo para matar Potter. Porque era preciso muita frieza para assistir a alguém que se gosta morrer lentamente enquanto você tem a salvação em suas mãos, e Draco simplesmente não era assim.

Snape olhou pensativo para Draco, sentado sofá, nervoso, esperando por seus pais. Notou sua respiração rápida e falha, seu olhar colado no chão, e ficou surpreso por perceber que ele estava quase tendo um ataque de pânico só de pensar em encarar o próprio pai. E, mesmo assim, enfrentava teimosamente seu medo, obrigando-se a se controlar para o confronto pelo bem de Potter.

Bond | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora