Começando de novo.

107 7 2
                                    

Chegar em casa depois de tudo, era o que eu mais queria e quando isso finalmente aconteceu, não foi tão bom quanto eu esperava.

- Filha, você não ia passar o dia com Will? - perguntou surpresa minha mãe.
- Estou com uma dor de cabeça enorme, vou subir para meu quarto.
- Boa tarde Sophie - papai falou vindo da cozinha com uma xícara de café na mão - falando em dor de cabeça...
- Pai, não to com paciência agora - o interrompi- se é sobre a matéria Chelsen's, podemos falar em outro momento.
- Não podemos, fique ai e me escute mocinha! Você sempre teve todos os privilégios do mundo por ser minha filha e agora quer jogar tudo no lixo? Sabe quantas garotas dariam tudo pra trabalhar naquela revista e estar no seu lugar? A cidade toda de San Francisco venderia a alma pra isso! - gritou.
- Eu nunca pedi privilégio nenhum, nunca! Pelo contrário, eu só queria trabalhar como uma pessoa normal, mostrar a minha capacidade, sem o seu nome na frente, será que é pedir muito?
- Você não pode confrontar a sua chefe pelo fato de te tratar bem, ela me ligou e falou que está decepcionada e que você se negou a trabalhar na matéria sobre a empresa da nossa família!
- Tratar bem? Não diga isso, ela me bajula por eu ser tua filha e não me da a chance de trabalhar de verdade e sabe por que? Ah, claro, sou filha de George Traynor, não posso pegar no batente, me formei em jornalismo pra que então? Você não sabe como é isso. - minha voz me traiu e falhou.
- Sophie, se você não está satisfeita, sabe o que fazer. - apontou para a porta de entrada.
- George! - mamãe repreendeu.
- Não se meta Eva! Sua filha disse que nao gosta de ser tratada diferente, então deixa ela enfrentar o mundo real sem a nossa ajuda. - me encarou seriamente.
- Eu tenho 25 anos, está na hora mesmo de sair dessa casa!
- Não dou um mês para vir me procurar e querer voltar pra casa. - papai se gavou.
- George, não pode mandar nossa filha embora. - os olhos da minha mãe estavam cheios de lágrimas.

Papai apenas nos encarou com desprezo e começou a subir as escadas.

- Você vai ver que eu tenho sim muita capacidade! - gritei, mas ele sequer olhou para trás.

Mamãe me abraçou chorando, tentando me convencer de que o Sr. Traynor só estava nervoso, mas eu a tranquilizei dizendo que eu iria embora de qualquer jeito, estava na hora de crescer de verdade.

- Para onde você vai filha? - questionou preocupada.
- Vou pra casa da Lara mãe, até achar um lugar pra ficar.
- Você não precisa fazer isso filha.
- Vou arrumar minhas coisas agora. - e então fui para meu quarto.

Depois de ligar para Lara, arrumei tudo e chamei um táxi, mamãe se despediu chorando, era a primeira vez que eu saia de casa, papai sequer se deu ao trabalho de ir se despedir, mas não me importei, entrei no táxi com a sensação de meu peito estar rasgando e quando finalmente me afastei de casa, as lágrimas caíram.

William Connor:
Já era a segunda dose de whisky que eu tomava, olhei o celular pela vigésima vez, não havia nenhuma mensagem de Sophie e aquilo me deixava extremamente preocupado, não eramos de brigar, ainda mais por uma bobagem como aquela, Sophie sequer era ciumenta.

Pensei em ligar uma, duas, três, quatro vezes, mas meu orgulho não deixava, minha covardia também não, porém, na quinta vez, criei coragem.
"Você ligou pra Sophie, eu certamente estou muito ocupada, se for importante, deixe seu recado, beijos." . O seu celular estava desligado, suponho que minha sorte era grande, pois não sabia se isso ajudaria em algo, por outro lado, minha preocupação aumentou, ela não era de desligar o celular.

Horas depois, recebi uma mensagem no celular, abri esperançoso, mas não era de Sophie.

"Desculpe se causei algum transtorno com sua namorada, não era minha intensão, beijos. Amanda."

"Sem problemas Amanda, você não causou transtorno algum, nao motivo para desculpas."

A quem eu estava querendo enganar? Amanda era a única causa daquela briga, por mais bobo que isso fosse. Ela é uma mulher atraente até demais, mas eu amo Sophie e jamais seria capaz de olhar para Amanda de outra maneira, sem falar que ela me vê da mesma forma, como um simples colega, pelo menos é o que acho a seu respeito.

Depois de muito beber e muito esperar pela ligação que não viria, peguei meu carro e fui rodar a cidade, para organizar a cabeça. Em cada calçada havia pelo menos umas 20 prostitutas com roupas minúsculas, ignorando o frio e a neve, disputando clientes, uma cena deplorável. Em outras calçadas via alguns mendigos tremendo de frio e fome, largados a própria sorte, logo mais adiante vi jovens e crianças usando drogas, injetando, fumando, cheirando, se matando entre si, em troca de mais droga. Eram cenas comuns que já quase não causavam mais impacto nas pessoas, cenas quase cotidianas, mas que pra mim tiveram uma importância enorme, sem que eu pudesse ver, as horas passaram e voltei para casa pensando em tudo que havia visto, sabendo que de alguma forma, aquilo me mudara.

~

Sophie Traynor:
Chegando na casa de Lara, fui recebida com o abraço mais apertado que ganhei na vida, sem precisar dizer uma palavra, nós eramos assim, Lara era assim, me entendia com um olhar, sabia o que eu sentia, sempre. Aquela loira com certeza era a pessoa mais decidida, segura e doce que conheci nessa vida. Não bastavam os longos e loiros cabelos cacheados, ainda tinha olhos tão azuis como o céu e pele branca como neve, era aquele tipo de amiga linda que chega dar vergonha de sair junto e que ao mesmo tempo da vontade de abraçar e nao soltar mais.

Contei o que havia acontecido, tomamos um café, conversamos e choramos assistindo a "Um amor para recordar" depois pegamos no sono, naquela noite dormimos juntas, já que Lara era minha irmã de coração, não quis me deixar sozinha em nenhum momento. Eu amo aquela loira.

Uma razão para viverOnde histórias criam vida. Descubra agora