Fragmentos de uma vida

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Sophie:
Fiquei assustada com a presença daquele estranho na porta do meu quarto, ele provavelmente esperava ver outra pessoa ou algo do tipo, sua expressão era frustrada.

- Oi? - cumprimentei confusa.

- Sophie, você está...

- Você me conhece? - o interrompi e Will permaneceu nos observando.

- Claro, sou eu, Steven, você não se lembra de mim? - perguntou com uma expressão triste.

- Prazer Steven - Will levantou apertando a mão do estranho - eu sou o namorado da Sophie, de onde você a conhece?

- Do trabalho, fomos colegas. - me olhou com aqueles olhos claros por cima do ombro.

- Okay rapaz, mas agora ela não pode recebe-lo.

Steven me olhou por um tempo, esperando alguma reação e então virou as costas e saiu.

- O babaca deixou as flores no chão. - Will resmungou juntando do chão lírios iguais aos que haviam em meu quarto.

- Eram lírios! - comentei surpreendida, mas Will pareceu me ignorar.

- Preciso ir, tenho assuntos a resolver, volto em outro momento. - despediu-se dando um beijo rápido.

Fiquei por alguns minutos olhando para o nada, tentando lembrar da minha vida, eu não havia esquecido de tudo, mas era como se fragmentos da minha memoria fossem tirados, lembrava nitidamente da minha infância, o primeiro menino que me bateu, o tombo de bicicleta que me rendeu uns dentes quebrados, mas não conseguia lembrar do resto, parecia que minha vida virara um quebra cabeças que eu não conseguia montar. Mais uma vez tudo ficou escuro, senti meu corpo adormecer e depois nada mais.

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Steven:
Sair andando sem rumo pelas ruas de San Francisco, pareceu uma ótima ideia, meu estômago estava embrulhado, minha cabeça girando, mas permaneci a andar e andar, parecia querer encontrar algo, como se a resposta que eu procurara estivesse nas ruas, como se fosse possível resolver todo e qualquer problema assim.

Uma mulher de meia idade sentada em um banco aleatório na praça, me chamou atenção, ela não era bonita, nem atraente, mas lia emocionada uma carta, me peguei parado observando aquela cena, devaneei sobre o que a faria se emocionar tanto.

- As cartas foram as únicas coisas que restaram. - interrompeu meus pensamentos enchugando uma lagrima no punho de seu suéter azul.

Olhei para os lados garantindo que ela estava falando comigo.

- Percebi que você estava me observando, existem muitas pessoas curiosas por ai...

- Não, não - gaguejei a interrompendo - não quis parecer invasivo, me perdi em pensamentos, perdão.

- Tudo bem meu jovem, eu gosto de contar histórias, sente-se aqui. - deu um tapinha no espaço vazio do banco. - Qual o seu nome?

- Steven.

- É um nome bonito. - tossiu - O meu é Elizabeth, eu tinha 17 anos quando conheci e amei o homem que escreveu essa carta.

- É uma idade complicada para amar alguém, meio cedo. - questionei indiretamente.

- O amor é estranho mesmo, todos acham que ele chega de verdade quando sua vida está estabilizada, no momento certo quando está tudo arrumadinho, mas não, ele chega no pior dos momentos, só para bagunçar ainda mais as coisas. No meu caso foi assim.

Eu estava me candidatando para várias universidades, queria ser médica cuidar das pessoas, sou de família simples, meus pais não tinham condições de pagar, então estava estudando para conseguir uma bolsa, papai estava doente e os negócios da família iam de mal a pior, mas num dia frio e nebuloso, fui a cidade comprar remédios na picape da família. Havia muita neblina, minha visão era limitada, só fui ver o carro que vinha na contramão quando já era tarde para desviar. Graças a Deus o dano foi apenas material, desci do carro nervosa, querendo matar o outro motorista, que ao descer, abriu um largo sorriso branco, não pude deixar de notar seus dentes alinhados, a barba por fazer e aqueles olhos acinzentados, foram os mais lindos que já vi, porém naquele momento, eu queria matar aquele homem.

- Você está rindo? Está achando engraçado o estrago que fez?

- Não, é a situação. Só queria desviar de um gambá, mas veja só o que aconteceu. - riu novamente, apontando o estrago na frente da picape.

- Isso não tem graça alguma. Como vou ir até a cidade agora? - soltei o ar com força.

- Eu te levo e como fui eu o culpado, falo com um amigo meu de uma oficina e ele busca seu carro.

- Não aceito carona de estranhos. - Cruzei os braços.

- Ok. Meu nome é Tuker Robinson, prazer. Agora não sou mais um estranho, vamos logo! - abriu a porta do carona de seu carro.

- Tudo bem, mas se você for um psicopata, minha família vai te achar. - entrei no carro.

- Se eu fugir e levar a mais bela filha deles, acho que não acham. - gargalhou e ligou o carro.

- Quanta ousadia. Sou a única filha.

- Ainda seria a mais linda.

- Ah, pare de gracinha. - corei.

- Você não tem senso de humor, que chata. - sorriu e me olhou com o canto dos olhos. - Mas então, para onde vamos menina estranha?

- Qualquer lugar que tenha remédios para comprar. - respondi, lutando para que o ímã daquele rapaz não puxasse meu olhos em sua direção.

- Vendem remédio para chatisse agora? - sorriu novamente, dessa vez não evitei olhar.

- São para meu pai, ele teve câncer, agora toma vários remédios.

- Desculpa, eu não sabia. - respondeu desconcertado.

Permaneci em silêncio olhando pela janela as árvores que ficavam para trás, notei que Tuker me olhou algumas vezes e quis falar algo, mas não falou. Fomos a oficina e a farmácia, Tuker se ofereceu para me levar em casa e não aceitou um não como resposta.

- Está entregue, sua picape será entregue no fim da tarde.- comunicou ao chegarmos na frente de minha casa.

- Muito obrigada. - coloquei a mão na porta para abri-la, mas Tuker a puxou. Sua pele em contato com a minha parecia dar choque.

- Não, espere - hesitou - devo bater no seu carro novamente para te ver de novo?

Meu celular interrompeu a história que a senhora Elizabeth contara, um número desconhecido estava me ligando.

- Alô? - atendi.

- Oi Steven, sou eu, Lara. O recepcionista do hospital disse que esteve aqui hoje e não ficou muito tempo.

- Sim, eu estive, mas...

- Eu imagino a razão de ter ido embora - me interrompeu - mas liguei para dizer que o quadro da Sophie regrediu, todos achavam que ela estava bem, mas teve um desmaio e não conseguiram reanimá-la ainda, os médicos acham que o acidente teve mais sequelas do que imaginavam, será que você pode me encontrar naquele café perto do hospital?

- Não estou acreditando, posso sim, estou a caminho. - desliguei.

A senhora permaneceu me olhando, quieta.

- Eu preciso ir, mas quero continuar ouvindo sua história, onde posso lhe encontrar?

- Tudo bem rapaz. Me encontre amanhã aqui, no mesmo horário.

Sorri em despedida e acenei concordando com a cabeça, chamei um taxi e me dirigi até o café.

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⏰ Última atualização: Oct 19, 2015 ⏰

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