Três meses depois:
Lá estava eu mais uma vez, a conversar com uma mulher que não me responderia tão cedo, ela estava mais magra, mais pálida e eu já não encontrava mais tantos amigos e familiares dela no hospital, apenas Lara, algumas vezes na semana.
- Com licença rapaz - um medico entrou no quarto - meu nome é Mark, sou neurologista, podemos conversar - olhou para Sophie - em outro lugar?
- Claro. - o segui até sua sala.
- Sente-se rapaz. O assunto, como imagina, é sua amiga. A familia me pediu para que fosse avisando a todos sobre a decisão que tomaram - hesitou e folheou uns papéis - como sabe, Sophie não tem dado sinais de melhora...
- O que o senhor está querendo dizer? - franzi a testa.
- Serei direto, vamos desligar os aparelhos.
- O QUE? TA FALANDO EM EUTANÁSIA?
- Não se exaure, ainda estamos em um hospital.
Levantei e fiquei caminhando de um lado para o outro com a mão na cabeça.
- Vocês - respirei fundo para não chorar - vocês não podem matá-la!
- Ela não tem atividade cerebral, está viva apenas por causa dos aparelhos, jat fazem três meses, apenas um milagre a faria acordar. - deu um sorriso fúnebre.
- Mas ela vai acordar! Milagres existem sim! Ela vai acordar - as lagrimas saíram do meu controle - ela vai, já deve ter acontecido muitas vezes com seus pacientes.
- Não estamos em um conto de fadas - me olhou com piedade - já fizemos tudo que estava ao nosso alcance, vamos desligar os aparelhos em uma semana e não tem nada que você possa fazer, a família já decidiu.
- VOCÊS NÃO PODIAM FAZER ISSO! - sai batendo a porta do escritório.
Caminhei sem rumo, feito um louco pelas ruas de San Francisco, eu estava transtornado com a notícia que o Dr. Mark me dera. A vida sem o seu sorriso com certeza era difícil, mas a vida sem a esperança de vê-lá sorrindo novamente, era pior, muito pior! Eu nem era da familia e já sabia que aquilo não era procedente. Doaria qualquer parte de mim para ver de novo aquele sorriso, doaria a minha vida se soubesse que de algum lugar, a veria sorrir. De onde vinha aquela necessidade de ver o sorriso dela? De onde vinha a necessidade de a visitar todos os dias? De onde vinha o medo que os aparelhos fossem realmente desligados? De onde vinha o arrepio que fazia meu coração acelerar cada vez que ouvia falar seu nome? Eram tantas perguntas sem respostas, tantos medos, tantas coisas que nao tinham explicação. O celular tocou interrompendo meus pensamentos, atendi por instinto.
- Alô. - falei seco.
- Olha quem finalmente me atendeu!? - a voz era de Nina, me arrependi de ter atendido.
- Oi Nina, como vai? - perguntei sem jeito e sem vontade.
- Estou ótima, mas terei que deixar Paris, estou voltando pra San Francisco, quero te ver, estou com saudades! - respondeu animada.
- Mas e os desfiles?
- Já desfilei bastante por essa temporada. Volto em dois dias, você me pega no aeroporto?
- Sei. - cocei a nunca - pego, claro! - me senti sem opção, mas seria bom para conversarmos.
- Muito obrigada Steven! Estou morrendo de saudade mesmo, até breve. - desligou.
Minha cabeça girava e na minha garganta existia apenas um nó, senti vontade de sumir, correr gritando pela rua, pra ver se aquela dor saia de mim. Peguei um taxi até minha casa e quando cheguei, cai na cama aos prantos, eu que não sabia o que era chorar, estava ali igual uma menininha me derramando em lagrimas, sem saber o que fazer com a dor que se instalara no meu coração, questionei Deus varias vezes pelos desencontros com Sophie e pedi uma luz, na verdade implorei por um milagre.
- Deus! Eu te suplico, sei que nao sou o filho de mais fé que tens, mas agora apenas suplico para que nao tire Sophie de mim, sequer tive a chance de dizer que seu sorriso melhorava meus dias, então por favor, por favor, por favor pai, me dê essa chance! - disse em meio as lágrimas.
Abafei um grito com o travesseiro e chorei como criança, achei que a dor realmente sairia com os gritos e lagrimas, mas não saiu, então chorei até pegar no sono.
~
Eu estava em um lugar lindo, haviam muitas flores e árvores lindas ao meu redor, o lugar trazia paz. Uma jovem de cabelos castanhos e vestido branco, se aproximava, pensei ser um anjo, mas logo vi que era Sophie e não pude evitar sorrir.
- Olá Steven. - falou suave e sorridente.
- Sophie - meus olhos se encheram de lágrimas.
- Shhh, não chore mais Steven. Eu sei que tem me visitado com frequência, ouço todas as coisas lindas que me diz, fico emocionada com tanta coisa linda vinda justo de você. Me disseram por aqui, que nossos destinos estão traçados, então quero te pedir que nao deixe desligar as máquinas, eu quero viver!
- Mas como isso é possível? - perguntei confuso - Deixa pra lá, eu não deixarei desligarem, Sophie eu te...
~
O despertador tocou às sete horas, acordei confuso com o sonho que tivera com Sophie, levantei, fiz minha higiene, tomei um banho e vesti algo confortável, nao consegui sentir fome, então nao tomei café. Peguei um taxi para ir ao trabalho e no caminho fiquei pensando no sonho, parecia tão real, mas nao era possível que eu estivesse conversando com o espirito dela, isso ia além de tudo que eu acreditava, porém, eu havia pedido uma luz.
- Moço, mudança de planos! - alertei o taxista, então fomos até o hospital.
Chegando lá, fui ver Sophie com a esperança de uma melhora, mas ela ainda permanecia pálida e imóvel, minhas esperanças se acabaram no momento em que a vi no mesmo quadro de antes.
- Ah Sophie, - as lagrimas caíram e segurei sua mão - por que isso está acontecendo justo com você? Eu tive um sonho esta noite, você pedia para eu não deixar desligarem os aparelhos, sei que foi so só um sonho, mas não deixarei isso acontecer.
Segui chorando enquanto segurava sua mão, que diferente dos outros dias, estava quente, quando senti que Sophie apertou forte a minha mão e depois soltou, meu coração quase parou de emoção.
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Uma razão para viver
Romance"Eu o amava, não só por conhecer meus demônios. O amava pelo simples fato de amar cada parte de mim, mesmo quando eu menos merecia."