Uma razão para viver

O dia que mudou tudo.

Eu ainda estava brigando com o espelho, tentando resolver o problema que as minhas olheiras tiveram comigo justo hoje, que é meu primeiro dia na CW, tentei resolver o problema com um pouco de corretivo e rezei pra não ter ficado tão ruim, então fui para o trabalho.

O lugar era pequeno, com alguns computadores, as pessoas trabalhando alegres e conversando, nao existia a pressão do meu último trabalho. Andei lentamente até a o escritório da Sra. Samanta e nesse pequeno percurso, esbarrei com a última pessoa que imaginava ver naquele lugar.

- Senhora atropeladora de homens! Você por aqui. - abriu um sorriso largo, expondo seus dentes brancos e perfeitamente alinhados.

- E eu que pensei que nunca mais precisasse olhar para sua cara, o que você está fazendo aqui?

- Eu que te pergunto. Eu trabalho aqui. - ajeitou a gravata e pigarreou.

- Maravilha! - arfei.

- Não me diga que... Não! Você não é a nova colunista, certo? - franziu a testa.

- Sim, eu sou. Para o nosso azar! Agora me dê licença. - segui em direção ao escritório.

- Senhorita Forbes. - bati na porta que já estava aberta.

- Olá Sophie, entre por favor e sente.

- Com licença. - sentei na cadeira que ficava na frente de sua mesa.

- Então Sophie, seu trabalho é simples, você faz a coluna de relacionamentos da nossa revista, testamos algumas coisas hoje e se tudo correr bem você continua, acha que consegue?

- Claro que sim, será um prazer. Mas como funciona?

- Você responde as perguntas de algumas leitoras, é simples. Também faz pesquisas, essas coisas, entende?

- Entendo. - sorri de modo eufórico, era algo pequeno, mas era a minha chance de mostrar o meu trabalho de verdade.

- Então, vamos começar? - Levantou-se e caminhou até a redação.

- Claro! - a acompanhei.

- Você fica no computador da direita, ao lado do Steven, ele faz a coluna de saúde e bem estar.

- Ao lado dele? - apontei surpresa.

- Algum problema?

- Não, nenhum.

- Então ao trabalho. As senhas estão todas neste caderninho preto. - dito isso, foi rumo a seu escritório, enquanto eu tentava ignorar a presença daquele homem grosseiro.

O dia correu bem, apenas respondi algumas perguntas, a maioria de mulheres com problemas nos relacionamentos, em uma delas, uma menina de 19 anos dizia:

"Estou num relacionamento de 2 anos, perdi a virgindade com esse meu namorado, mas descobri que ele está me traindo, eu o amo, nao quero deixa-lo, o que faço? Beijo, M."

Essa foi a pergunta mais difícil, mas respondi e arrisquei.

"M. Você ainda é muito nova, agora que está apaixonada acha que nao vai sentir isso por mais ninguém e se prende a um relacionamento que não te faz bem, quem trai não ama e vai fazer isso sempre, é a dura verdade, mas lá vem a notícia boa, você vai conhecer muitos caras interessantes ainda, seu namorado não te merece, se ame primeiro, sugiro que se arrume e saia por ai com as amigas e preste atenção em quantos olhares vai atrair, verá que tem muita gente no mundo e que você pode sim ser desejada e por que não amada por outras pessoas?! Tente, mas priorizando você em primeiro lugar! Beijos da Sophie."

Me senti bem por ajudar alguém, era uma sensação inexplicável e o melhor foi ser elogiada por Samanta, que me deu a melhor notícia do dia: "você está contratada"

Fui embora às 16hs, quase pulando de alegria com o novo emprego. Cheguei em casa e Lara já estava lá, sorridente a me esperar, contei a ela sobre o primeiro dia e ela ficou feliz comigo, o que me deixava ainda mais eufórica.

- Mas me diz amiga, como vai você e Will?

- Não sei, não sei mesmo. - encarei o chão por um tempo.

- Sophie, você precisa fazer alguma coisa e parar de esconder dele as coisas que tu sabe, você quer mesmo continuar com isso dessa maneira, sem saber se está sendo traida ou não e ele indo viajar com a loira peituda?

- Vou conversar com ele hoje Lara, eu adiei muito essa conversa, vou lá no apartamento dele, so vou tomar uma ducha e trocar de roupa, agora vai!

De banho já tomado, dirigi até o apartamento de Will, com o estômago embrulhado e uma ansiedade que nao cabia em mim, meu peito estava apertado.

Toquei a campainha uma vez, ele não atendeu, esperei um pouco e toquei novamente e então ele abriu a porta apenas de toalhas com uma expressão de surpresa.

- Sophie! Você por aqui? - perguntou ofegante.

- Sim, por que a supresa? Vai me convidar pra entrar ou não. - falei já entrando e me deparei com Amanda usando apenas uma camiseta de Will, senti minha respiração parar por um instante, foi como se o mundo inteiro tivesse sumido do meu redor, meu queixo caiu e senti meu rosto corar.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? - gritei.

- Eu posso explicar. - Willian estava palido.

- Ah pode? Deixa eu adivinhar. - coloquei a mão no queixo - vocês estavam só conversando! - minha voz falhou e tentei segurar uma lágrima, mas ela caiu.

Amanda não se moveu do sofá onde estava, ficou me observando de modo cínico.

- Sophie, meu amor.. - tentou me abraçar.

- NÃO TOCA EM MIM! Nem tente tocar em mim... - o empurrei e então o choro veio com toda força, me fazendo soluçar. - como você pôde Will? Como? Eu tenho nojo de você, nojo! Você nao tinha o direito de fazer isso comigo!

Os dois ficaram me olhando por um tempo e então sai correndo, Will gritando atrás de mim me pedindo pra voltar, entrei no carro e ele ficou batendo do lado de fora, então sai sem rumo, sem conseguir ver muita coisa, as lágrimas embaçavam minha visão e eu nao conseguia parar de chorar desesperadamente, foi como se tivessem arrancado um pedaço de mim, o homem que eu amava e com quem estava a 5 anos, estava me traindo com uma estagiária da empresa em que trabalhava e eu me sentindo enganada, um lixo! De repente ouvi uma buzina alta, tentei desviar do caminhão que vinha de frente para meu carro e então capotei, contei 5 voltas e depois não consegui ver mais nada, tudo se apagou.