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𝔸𝕣𝕪𝕒

Durante a noite, fechei a porta do meu quarto, bebi um pouco de água e me sentei em minha cama, de frente para o espelho.

Eu tenho que começar de algum jeito, certo?
Só espero não fazer nada de errado.

Pelo pouco que sei, se é um espírito me acompanhando, tenho que ter respeito. Não posso ofendê-lo.
- Eu sei que você está me ouvindo. -Falei, com um tom de voz um pouco baixo- Eu vejo você. Ou, pelo menos... O que você parece ser. Entre em contato comigo, agora. Por favor.

Esperei alguns segundos, olhando ao redor do quarto. E nada.
E se eu invocar alguma coisa aqui?

Por quê essas coisas acontecem comigo?
- Eu não tenho medo de você. Sei o que é. Me mostre o que preciso.

Quem eu quero enganar? Eu estou apavorada.
Eu nem sei o que estou fazendo.

- Aparece. -Reclamei- Eu sempre vejo antes de saber dos sequestros. Por quê você não me ajuda?

Nada.
Resolvi ficar quieta, fechei os olhos e relaxei os ombros.
Comecei a imaginar aquela casa. Os sonhos. As vozes pedindo socorro.

Quem quer socorro?

Pensei nos garotos sequestrados. Desaparecidos. Nos cartazes.
Imaginando a ligação entre eles, as vozes amedrontadas e os cartazes.

Aos poucos, comecei a sentir um peso esquisito sobre os ombros e um arrepio. Eu sentia dor. Eu não sabia aonde, ou como. Eu sentia tantas dores... Eu sentia angústia.
Abri os olhos, olhando para o espelho.

Meu corpo gelou por alguns segundos, vendo a figura ensanguentada atrás de mim. Seus olhos cheios de sangue.

- Vance Hopper... -Sussurrei, apavorada.

Ele estava furioso. Sua fisionomia estava inquieta, irritada. Todo o peso que eu estava sentindo, toda a dor, toda a angústia... Eram seus.

- Os vultos eram você? -Perguntei. Não ouvi sua voz, ele sequer se mexeu- Então isso é um sim... O que eu preciso ver? Tem algo a me mostrar?

Ele levou sua mão até minha nuca. Eu não sentia sua pele, obviamente. Mas senti uma pressão estranha, e em segundos, fechei os olhos, sentindo todo aquele sofrimento novamente.

Todo aquele desespero travando minha mente, tomando conta de meus nervos.

Imagens começaram a passar diante de meus olhos.
Vance Hopper ensanguentado, sangue no chão, o quarto escuro... A rua que aparecia em meus sonhos, e por fim, uma máscara estranha. Fui tirada do transe com o grito de Vance, que me assustou. A garrafa de vidro com água em cima da minha mesa caiu no chão, estourando.

Não voltei a vê-lo no espelho, e me levantei rápido quando minha mãe abriu a porta.

- O que foi isso?
- Desculpa, eu coloquei na beirada da mesa e a garrafa caiu...
- É vidro, podería ter se cortado.
- Eu sei, desculpa. Vou pegar um pano.
- Traga a vassoura, vou recolher os cacos. -Ela me olhou desconfiada- Espera aí... O que foi aquilo?

- Aquilo o quê?
- O barulho.
- O vidro quebrando.
- Estou falando do grito. -A olhei inacreditada.
- Você ouviu?
- Eu ouvi.
- Eu não sei o que era. -Dei de ombros- Apenas ouvi o grito e a garrafa caindo. Me assustei, mas pensei em não falar, achei que você não fosse acreditar.

É melhor eu não contar sobre ter procurado por isso.
Sobre ter procurado Vance.
Ter ido atrás disso.
Eu levaria uma bela de uma bronca, por mexer com essas coisas.

(...)

Dormi, e demorei pouco a pegar no sono.
Eu sei que não deveria ter feito isso a noite... Mas é o horário mais silencioso. Só pude me concentrar assim, com silêncio.
Eu fiquei simplesmente aterrorizada com as cenas que passaram em minha cabeça.

No dia seguinte, quando amanheceu, lá estava eu, novamente, batendo na porta.
- Oi, tio Alex.
- Oi, querida. Por quê veio novamente tão rápido e...
- Eu descobri. -O interrompi. Ele sorriu, parecia orgulhoso.
- Entre. Pode me explicar.

(...)

- Eu entendi o porque sentia medo. Os vultos eram o espírito de Vance Hopper. Ele parece ser atormentado, por isso sinto medo. Sua energia é pesada... Muito pesada.

- Vance Hopper? Uma das vítimas?
- Exatamente.
- Então o sequestrador é realmente um assassino?
- Acredito que sim. Obviamente. Vance estava ensanguentado... Seus olhos escorriam sangue, eu não os enxergava direito, pareciam até ter sido arrancados. Aquilo me apavorou.

- Ele mostrou algo?
- Senti um peso em meus ombros... E parece que ele se conectou comigo por minha nuca. Sabe? Ele colocou a mão, mas eu não a senti, apenas uma pressão esquisita. E então eu entrei em um transe, vendo imagens horríveis. Vance sujo de sangue, o chão igualmente sujo, o quarto escuro que aparece em meus sonhos, a casa na rua que também aparece... Ele mostrou tudo. Tudo o que eu sonho. Não são só sonhos. É ele que está pedindo ajuda.

- Conseguiu isso sozinha?
- Sim. Esperei a noite, para ficar em silêncio completo. Me concentrei e ele apareceu. Ele é extremamente atormentado, tio. Ele está furioso, ele quebrou a garrafa de água do meu quarto.

- Provavelmente está irritado com o que aconteceu.
- É claro que ele estava irritado. Parece que ele não aceita. Ele está repleto de ódio, repleto! Ver isso me deixou cansada, eu dormi feito pedra.

- Eu disse para ir atrás, mas não para se arriscar tanto! Fez isso sozinha, foi perigoso.
- Eu tinha que começar de algum ponto, não? O importante é que eu descobri.
- Tem que tomar mais cuidado com isso. -Assenti- Não achei que você iria simplesmente fazer isso. Quando eu falei sobre ir atrás, quis dizer para estudar sobre. Tem livros sobre espiritualidade, você podería entender melhor.

- Eu sei, mas eu não sabia o que fazer. Eu queria saber o que estava me seguindo, e consegui. É Vance Hopper.
- Tente não se arriscar mais dessa maneira, é perigoso.
- Está bem.

Nos encaramos por alguns segundos, e não segurei minha curiosidade.
- Por quê acredita nisso? Em mim?
- Porque a sua avó também sentia essas coisas. Ela sempre estudou sobre, já falou sobre isso comigo. Sua mãe geralmente evitava a ouvir falar sobre isso, sempre teve medo.  Ela dizia que, depois de ouvir nossa mãe falar, prestava atenção nas coisas e sentia também. Mas não quería desenvolver nada. E eu nunca tive essa sensibilidade.

- Então, está explicado. Minha mãe ouviu o grito dele, antes que a garrafa caísse.
- Você herdou isso dela, então.

Puta merda.

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Oioi, publicando hoje, em pleno domingo!! O que acharam?

𝑫𝒂𝒓𝒌 𝑹𝒐𝒐𝒎 // ʀᴏʙɪɴ ᴀʀᴇʟʟᴀɴᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora