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𝔸𝕣𝕪𝕒

No dia seguinte, me arrumei para voltar para a escola. Eu ainda não estava preparada, estava com medo.

Agora todo mundo sabe o que aconteceu. O que eu passei, o que eu fiz. Estava com medo do que iriam pensar.

Coloquei a mochila nas costas assim que bateram na porta.
- Tchau, mãe. Estou indo.
- Se cuida. E boa aula!

- Oi... -Fechei a porta, acompanhando os passos de Robin- Cadê o Finn e a Gwen?
- Passei na casa deles, mas eles não saíram. Eu garanto que ainda estão dormindo e se atrasaram.
- É, deve ser...

- O que foi?
- Nada. Só estou meio nervosa.
- Por?
- Tipo... Todo mundo sabe o que passamos lá dentro. Aquele cara abusava dos garotos, matava. Só estou com um pouco de vergonha pelo o que aconteceu.

- Vergonha? Por quê? Você sobreviveu e matou ele.
- Eu também não sei... Na verdade, estou com medo do que vão pensar. Eu matei.
- Matou e foi merecido. Esquece isso. Você vai ver, quando chegar lá. As pessoas não vão te abominar por matar um assassino.

Ele agarrou minha mão e andamos juntos.
- Mas, sério, é um alívio. Quantos dias nós ficamos sem saber o que era tomar um banho e vestir uma roupa limpa e cheirosa?
- Vários.
- Podemos comer e beber água a hora que quisermos, e o melhor de tudo, é que não precisamos mais nos preocupar em morrer ou em tentar se proteger.

- Eu não lembrava mais o que era um sono completo. Só dormi direito essa noite, porque na anterior, tive sonhos.
- É bom não ter com o que se preocupar, né?
- Caralho, é ótimo. Esse hijo de puta teve o que mereceu!
- Uma pena que os meninos não tiveram a mesma sorte...

- Posso te perguntar uma coisa? Se isso não for... Sabe, meio idiota.
- Pergunte.
- Você... Não vê o sequestrador?
- Algumas vezes. Quer dizer... Eu não vejo, acho que aprendi a bloquear isso. Mas eu consigo sentir que, de alguma forma, ele tenta me observar, as vezes.

- Tem medo para dormir?
- Tenho. Mas... Ele não vai fazer nada que eu não consiga bloquear. É meio que... A energia, e só as vezes. Em alguns momentos ele consegue chegar até mim, mas não é sempre. Essa noite sonhei com ele e Vance no porão. Creio que ainda estejam lá, sabe? Presos. Um fez coisas ruins demais para conseguir se libertar, e o outro não consegue esquecer o que passou e nem perdoar.

- Isso deve ser tenso.
- E é. Mas eu já não me assusto tanto... Se eu tiver muito medo e não conseguir controlar isso, fica mais fácil para que ele venha me incomodar. Meu tio está me ajudando a lidar com isso, eu estou melhorando.

- Tive alguns sonhos... Como se estivéssemos lá, ainda. Tipo flashbacks, sabe?
- Eu tenho, as vezes. Mesmo acordada. São só... As imagens passando na minha cabeça. Mas daqui a pouco paramos. Devem ser só as lembranças do terror e do desespero, eu tinha tanta certeza de que iria morrer que isso me deixou apavorada enquanto estávamos lá.
- É, logo vamos esquecer.

Não sei se vou "esquecer". Mas vou aprender a deixar isso de lado e seguir uma vida normal, como era antes de isso tudo acontecer.

(...)

Chegamos na escola e, como previsto, todos estão nos encarando.
Nos sentamos nas classes, um ao lado do outro e retiramos os cadernos das mochilas.

- Eu odeio ser o centro das atenções. -Resmunguei.
- Relaxa. Daqui a pouco eles param.

- Parece que estão vendo até a minha alma... Francamente, acho que aquelas entrevistas acabaram piorando as coisas.

Respondemos algumas perguntas que alguns jornalistas fizeram, e eles publicaram uma matéria no jornal, além de gravarem notícias. Explicaram tudo em detalhes.

- Por quê?
- Porque nos exporam demais, eu acho. Tudo bem... Estavam todos curiosos sobre isso, é um assunto que está em alta e foi necessário que todos entendessem o que foi preciso fazer e o que acontecia com os garotos. Mas eu não sei o que pensar sobre o que fiz. Eu simplesmente matei.

- Foi para sair daquele lugar, estávamos em cárcere privado e ele era a porra de um sequestrador.
- Eu sei. Mas, as vezes, eu ainda consigo ouvir o osso quebrando...

- Acho que isso foi mais traumático para você do que para mim...

- É, talvez. Provavelmente. Mas, vamos mudar de assunto... Por favor.
- Claro...

(...)

Finn e Gwen realmente chegaram atrasados, tiveram que ficar no banco na frente da diretoria, esperando a permissão para entrar nas aulas.

- Eles chegaram no segundo período! Devem ter dormido muito. -Comentei.
- Acho que eles teriam faltado... Mas Finn falou que tinha um trabalho importante para entregar e que valia bastante pontos.

Tentei ao máximo ignorar as pessoas nos encarando, enquanto caminhávamos pelos corredores durante o intervalo. Robin já estava acostumado com isso, sempre virava fofoca por suas brigas. Mas eu não, era mais invisível.

Isso é terrível.

Senti um certo embrulho no estômago, por consequência do nervosismo.
Eu sabia que aquelas pessoas cochichando não estavam falando coisas ruins. Ao menos, é o que espero.

Mas me deixa tensa saber que eles sabem tudo o que aconteceu, desde o momento do sequestro até o momento em que matamos o assassino.
E mesmo que o que eu tenha feito não seja errado, não é algo que gosto de lembrar; portanto, também não é algo que quero que as pessoas fiquem julgando e falando sobre a cada minuto. Eu quero tentar parar de pensar nisso. E não consigo, se todos ficarem me lembrando do que aconteceu.

Quero ser alguém normal, de novo.

- Relaxa. Eles devem estar falando sobre o quão foda nós dois fomos. -Arellano agarrou minha mão, caminhando do meu lado.
- É, deve ser...

- Você quer dupla para aquele trabalho de geografia? -Perguntou.
- Claro.
- Beleza. Eu levo a cartolina, pode ser na sua casa?
- Sim. Eu iria sugerir isso. Vou pedir para a minha mãe fazer uma torta! Estou com saudade dos doces dela.

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Publicando outro, porque sim!! O que estão achando?

𝑫𝒂𝒓𝒌 𝑹𝒐𝒐𝒎 // ʀᴏʙɪɴ ᴀʀᴇʟʟᴀɴᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora