CAPÍTULO 22

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Meses Depois…

JAKOB TORETTO

Sentindo minhas juntas estalarem, eu me contorci por trás do refrigerador até conseguir alcançar a faca de manteiga que eu deixei cair. Quando me levantei, Buddy me encarava com cara de poucos amigos. Sim, eu ainda estou me recuperando e foi um milagre eu sobreviver a duas bombas que explodiram há menos de dez metros de mim, mas eu não consigo ficar parado.

— Não me olha desse jeito. — joguei a faca dentro da pia

— Eu já cansei. — ele reclama entrando na cozinha pequena — Cansei de chamar sua atenção, você não é mais criança.

— Eu estou bem.

— Moleque teimoso. — tampa o pote de manteiga e o guarda na geladeira

— Buddy, eu estou bem. — repito — Só estou com fome. — mordo um pedaço do pão que preparei

— Você não está nada bem, menino. — me olha bravo — Chegou aqui quase surdo de um ouvido, teve que operar o joelho, quase perdeu o braço direito.

— Eu sou canhoto. — ergo a mão esquerda, mostrando que não faria muita falta

— Para de gracinha. — estreita os olhos na minha direção

— Ok, parei. — ri mordendo mais um pedaço

— E você mal parou de delirar, então não vem me dizer que está cem por cento bem. — me encara

— É, eu finalmente parei de ter os sonhos bizarros. — franzo o cenho encostado na pia

— Quer falar sobre isso? — me olha

— Um misto de lembranças e fantasias. — dou de ombros — Eu tô caído no chão, no meio da explosão e eu vejo o rosto da Lucy. Ela está se aproximando quando Leda aparece e a proíbe de me ajudar. — suspiro — E então eu fico lá, caído, implorando pra ela ficar comigo. Pra que ela venha comigo.

Buddy franze o cenho.

— Filho, não acha que tá na hora de você voltar? — sugere — Mesmo que seja só pra ela.

— Ela está com o Hobbs agora. — o olho — Eu não vou estragar a única chance que ela tem de seguir em frente e finalmente ser feliz.

— Mas você não está feliz.

— Mas se ela estiver, então eu aguento. — o encaro — Por ela, eu aguento.

Buddy suspira e eu termino de comer meu pão. Encaro meu braço direito ainda na tipóia e me lembro de um delírio que tive no hospital. Eu a vi, como em todas as outras vezes, como em todos os outros sonhos, ela tocou na minha mão. Foi tão real, que parecia que ela realmente estava lá.

— O que foi? — me olha — Ainda pensando nos devaneios que você teve quando estava sob efeito de anestesia?

— Foi tão real. — o olho — Eu vi os olhos surpresos dela, eu senti ela apertar minha mão, vi as lágrimas.

— Filho, às vezes, quando ficamos anos fantasiando algo que queremos muito, nossos sentidos se perdem entre o que é verdade e o que não é. — diz pacientemente — Por isso, mais uma vez eu peço, volta pra ela. — apoia a mão no meu ombro

Eu suspiro e, antes que possa dizer mais alguma coisa, Legolas começou a latir da garagem. Franzi o cenho.
O ronco de um motor potente foi reconhecido e Buddy me encarou.

— Relíquia. — Buddy comenta

— Eu reconheceria um Mustang em qualquer lugar. — comento

Pelo basculante embaçado, consigo ver que se trata do Mustang Shelby 1967 que Lucy ganhou do Tej e ela está arrastando o Camaro branco que eu dei para ela há anos, no seu aniversário de 16.

Redenção - Jakob TorettoOnde histórias criam vida. Descubra agora