CAPÍTULO 35

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LUCY GONZALEZ

Jakob estava um tanto quanto paranóico. Ele diz que é excesso de cuidado, apenas. A cada meia hora ele se senta em seu espaço de escritório e fica encarando as enormes telas do computador. Ele está monitorando todas as câmeras de segurança do bairro, além de estar fazendo remotamente o trabalho de vigia do Ninguém. Eu imagino o quão solitário ele deve ter sido, fazendo isso sozinho todos os dias nos últimos vinte anos.

Reviro os olhos e vou até o closet, juntando todas as roupas que eu trouxe em uma grande trouxa e equilibrando tudo nos braços. Quando passei pela sala, Jakob me encarou com uma careta.

— Vai incendiar o apartamento?

— Só se for pra acender a sua pira funerária. — rebato, fazendo-o rir — Eu vou lavar roupa. Não tem nada pra fazer.

— Tem que estar muito entediada mesmo pra querer lavar roupa. — se levanta — Eu lavo pra você.

— Eu sei usar a máquina, Jakob.

— Eu sei que você sabe, você fez isso nos últimos dois dias.

— E daí?

— E daí que agora você está proibida de entrar nessa lavanderia. — para na porta de acesso a lavanderia, bloqueando a passagem

— Por que? — ergo as sobrancelhas

— Porque você trocou os amaciantes, misturou todas as roupas e agora a minha bunda está coçando.

— Eca. — franzo o cenho caindo na gargalhada — Você tem o traseiro sensível, que fofo.

— Você não vai entrar aqui. — cruzou os braços na altura do peito

— Então eu vou lavar essas roupas na pia da cozinha.

Ele me encara incrédulo.

— Não tem nada pra fazer, homem! — grito

— Só infernizar a paz da minha vida, né?

— Não foi você mesmo que comentou que ficava sozinho o tempo todo? — o encaro — Pois bem, eu vim pra alegrar os seus dias.

— E bagunçar a minha rotina.

Fecho a cara e ergo uma sobrancelha, brava. Solto minhas roupas no ar e elas caem no chão, formando um monte aos seus pés.

— Minha vida é um caos. — explica — Tem tiro, porrada, gritaria e gente morrendo o tempo todo. Aqui em casa, eu tento manter as coisas sob o meu controle. Pra ter pelo menos a ilusão de que alguma coisa está indo bem, quando todo o resto é caótico.

— Jakob, eu tô trancada aqui há dois dias. — reviro os olhos

— É um jogo de paciência.

— É, só que eu não tenho. — digo rápido, com raiva — Não é à toa que eu era da equipe do “vamo ver” e não da equipe do “senta a bunda e espera”. Pra isso tinha você lá.

Jakob suspira.

— Vai tomar um banho e dá uma olhada nos filmes que eu consegui pra você. — diz — Só fique longe da lavanderia.

Ele se aproxima de mim e me vira pelos ombros, me guiando de volta para a sala.

— Eu nunca vi um homem tão chato com a porra de um amaciante. — jogo a cabeça pra trás, impaciente

— Eu vou na rua comprar uma das tranqueiras que você gosta. — ele veste a jaqueta que estava pendurada no cabideiro perto da porta — Longe da lavanderia, ok?

Redenção - Jakob TorettoOnde histórias criam vida. Descubra agora