CAPÍTULO 34

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LUCY GONZALEZ

Era estranho não ter nada pra fazer. Nos últimos meses, eu fui peregrinando entre as boates escondidas de Amethyst e a casa do Buddy. Sempre que a Mama Shaw estava no país, eu ficava com ela, em suas coberturas extremamente caras e luxuosas em Nova York, em suas mansões em Hollywood. Claro que ela não pagou por nenhum desses imóveis. A mulher possui um dom absurdo para esse tipo de negócio. Com poucas palavras, ela faz você entregar tudo o que possui nas mãos dela, por livre e espontânea vontade e, quando não está com paciência para lábia, ela toma o que você tem sem que você perceba.

Nas boates de Amethyst, eu usava uma peruca e adorava fingir que era bartender. Servia pessoas bêbadas, ouvia histórias engraçadas. Com Queenie, gostávamos de fingir que éramos ricas da alta sociedade. Passávamos o dia todo recebendo designers e eu usava uma burca, fingindo ser do Oriente e cobrindo a maior parte do meu rosto. Sim, era divertido, porém eu sentia uma sensação esquisita no peito. Eu nunca fiquei mais de uma semana sem trabalhar. Haviam meses desde a minha última missão, eu nunca soube ficar parada. É difícil admitir, mas agora eu entendo o Brian. Eu sinto falta das balas.

Durante todo esse tempo, Jakob e eu nos vimos poucas vezes. Eu me sentia estranha perto dele. Era como se toda a tensão sexual de quando éramos adolescentes à flor da pele tivesse retornado com força total. Eu me sentia aquela Lucy inconsequente e teimosa de antes, várias memórias despertavam.

Minha última tentativa de distrair a mente foi ir ao cinema. Assisti um filme que falava sobre uma gangue de motoristas e carros tunados salvando o mundo. Honestamente, não me impressionou muito. A maioria das cenas de ação feitas no filme com dublês e em ambiente controlado, eu já fiz na vida real com ainda mais emoção e correndo risco sério de vida. Entretanto, serviu pra me tirar do tédio por algumas horas.

Eu estava em Los Angeles, me esgueirando pelos lugares e agradecendo pelo Sr. Ninguém ainda não ter recuperado o Olho de Deus. Agora, esse brinquedinho está no antigo avião da Cipher, ou seja, está sob os domínios do Owen. Eu sei, isso é perigoso, mas Deckard me garantiu que o dispositivo não está sendo usado pelo irmão. Ele mesmo se certificou disso. Com o Olho de Deus fora da jogada, me locomover era um pouco mais fácil. Claro, eu ainda precisava ter cuidado com câmeras e dispositivos de reconhecimento facial, mas podia relaxar um pouco mais. Sair do país não era uma opção pra mim. A qualquer momento Ninguém descobrirá sobre mim e eu terei que agir. Preciso estar por perto. Este é um jogo de paciência e, embora eu não possua esse dom, preciso ter jogo de cintura para me manter no jogo.

— Gata, me empresta uma grana aí.

Los Angeles sempre teve um problema muito grande com relação aos moradores de rua e, dentre eles, os usuários de drogas que se misturam entre eles para passarem despercebidos. Agora, em uma rua pouco movimentada, eu estava diante de três deles. Eram altos, usavam toucas na cabeça e tinham as pupilas tão dilatadas que seus olhos pareciam prestes a explodir.

— Hoje não, gato.

Certo, responder o que é claramente um assalto talvez não seja uma boa ideia. Mas foi o que eu comentei antes, eu sinto falta das balas e dos perigos que a minha profissão me trazia. Porém eu entendo que precisava pôr um ponto final na minha relação com o Ninguém, antes que ele decidisse pôr um ponto final em mim por eu saber demais.

— Acho que você não entendeu ainda, minha tia. — o mais novo, talvez uns vinte e cinco anos, diz puxando um revólver enferrujado — Você vai emprestar uma grana pra gente.

— Tia é sacanagem. — o encaro — Eu não sou nem dez anos mais velha que você.

— Ela tem razão, Brody. — o outro diz — Ela é uma gostosa.

Redenção - Jakob TorettoOnde histórias criam vida. Descubra agora