28. Cool Kids

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Estão prontos, crianças? Vocês conheceram o passado de Karina Brandman, agora é a vez de conhecerem o passado de Mackenzie Coyle.


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25 de dezembro de 2022.

[Mackenzie Coyle's Point of View]:

Minha infância não foi fácil, vi por diversas vezes meu pai bater na minha mãe e ela aguentar calada. Eu chorava no meu quarto, porque não podia ajudá-la ou apanharia dez vezes pior. 

Depois das sessões de socos e chutes, minha mãe ia até o meu quarto, dormia comigo e dizia que nenhum monstro iria me pegar, enquanto ela estivesse ali. Quando criança, eu relacionava o "monstro" ao bichão papo, a cuca ou ao boi da cara preta... Só fui entender que o "monstro" que a minha mãe se referia era o meu pai quando fiquei mais velha.

Para não sentir dor, ela fumava. Como se a nicotina escondesse todos os seus hematomas e servisse de válvula de escape para todo aquele sofrimento. Quando descobrimos o seu câncer de pulmão, eu fiquei apavorada. Meu irmão dizia que ela iria morrer logo e, por noites seguidas, tive pesadelos. 

Quando sua situação ficou ruim demais, ela foi internada em um hospital. Eu não queria a ver naquele estado, eu estava apavorada com a possibilidade de perdê-la. Eu apenas me escondia e chorava como um bebê. Porém, hoje, eu percebo que, talvez, Deus tenha a libertado de toda a dor através de sua doença.

Era tão injusto. 

Todos os dias, eu via os pais com suas filhas brincando no parque próximo a minha escola e me questionava o quê eu havia feito para merecer a família que eu tinha. Eu queria ser como as outras crianças.

Ironicamente, após a morte da minha mãe, meu pai mudou. 

Ele parou de beber, algo que a minha mãe sempre o pedia para fazer. Arrumou um emprego melhor, então nos mudamos para os Estados Unidos. Alguns anos depois, conheceu Alice. Na época, ela estava terminando seu mestrado.

Alice era gentil, mesmo que eu não a considerasse minha nova mãe. Eu tinha empatia suficiente por ela, pra desejar que Alice se separasse do meu pai e encontrasse alguém melhor. Ele não a merecia, assim como jamais mereceu a minha mãe.

Durante as brigas dele com Alice, eu batia a porta do meu quarto com força, enquanto os ouvia discutirem. Era como se fosse a mesma merda acontecendo sempre e sempre. 

Para fugir da realidade, eu colocava meus fones de ouvido e escutava as fitas da minha mãe em meu walkman o mais alto possível. Por essa razão, passei a amar The Smiths... era a sua banda favorita.

Algumas vezes, quando a música não resolvia, eu pegava os cigarros do meu irmão escondido e fumava no telhado para tentar esquecer a merda de família que eu tinha.

Com o tempo, a frustração que eu sentia, se tornou raiva. Passei a converter a minha tristeza em tendências violentas e sarcasmo. Eu era amargurada. Eu faria qualquer coisa para simplesmente não sentir mais nada. Eu estava cansada...

Me fechei completamente, como uma enorme muralha. Eu tinha medo de ser amada, porque os modelos de "amor" que eu tinha em casa eram violentos. Então, eu me sentia sozinha. Eu tentava me convencer de que, quando eu fosse mais velha, tudo iria melhorar, porque agora, todas essas merdas estavam me matando aos poucos.

Trouble [Paper Girls - Fanfic KajeMac]Onde histórias criam vida. Descubra agora