Ohana

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— Alteza, aqui estão as mudas – a encaro, com uma cara de desgosto mas com o sorriso nos lábios — Li, quantas vezes já disse, Gulf... Apenas Gulf – alcanço as pequenas plantas em sua mão, me virando pra acomodá-las nos pequenos buracos que eu e Natasha havíamos feito — Oh majes... Gulf, me sinto desrespeitosa lhe chamando assim – ela torcia entre os dedos o tecido do avental em sua cintura — Não há desrespeito nenhum, pelo contrário você tem nos cuidado tão bem, que quem se sente desrespeitoso sou eu, por invadir seu lar dessa forma – ela apenas estala a língua sacudindo a mão à frente do rosto, desfazendo minhas preocupações.

Acontece que a hospitalidade que deveríamos receber por um dia, já se estendeu por uma semana, já que graças a tempestade que nos pegou de surpresa, as estradas foram interditadas por árvores e deslizamentos de terra. A floresta densa ao redor da pequena propriedade não nos permitia sair daqui ou que outros viessem a nosso auxílio. Kaownah conseguiu se esgueirar por algumas pedras e galhos que barravam os caminhos até a estrada, mas como não queria me deixar só, enviou o cocheiro para que buscasse por ajuda, porém o mesmo teve que ir a pé, já que os cavalos não conseguiram pular os obstáculos com tanta facilidade. Mas não podia reclamar, Li Huan, era um doce de pessoa, uma simples camponesa imigrante, que se mudou para esta pequena propriedade pra criar a doce Natasha que foi rejeitada pelo pai, um nobre que não quis assumir a criança. Perda dele, pois Nat é a criança mais doce e esperta que conheci em toda minha vida, Mew não ficaria feliz em saber disso, mas ela o ultrapassa facilmente em doçura. Depois que acordei naquela manhã, Kao surgiu muito nervoso avisando sobre os problemas, além das estradas fechadas pelas chuvas, um dos cavalos havia machucado a pata. Me senti perdido, além de dar mais trabalho pra pequena mulher, ainda ficaria mais alguns dias longe de Suppasit. Mas não havia muito que pudesse fazer naquele momento, então o mínimo que podíamos fazer era retribuir toda gentileza que nos foi oferecida ali.

Natasha me disse que os cuidados com a pequena propriedade estavam parados por conta do estado de saúde de sua mãe. Então naquele momento ali estávamos nós, Kao cortando lenha, eu pela primeira vez em minha vida cuidado de uma horta, devo dizer que era uma sensação até agradável ter um pouco de terra entre os dedos, Nat já havia sumido em algum lugar ali perto, e Li estava cozinhando nosso almoço. Ainda que não tivesse muito recursos e ingredientes, ela tinha uma mão maravilhosa para cozinha — Alt... Gulf poderia me trazer algumas folhas de manjericão ? – ouço seu grito chegar até mim, e eu adoraria mas ainda não fazia ideia do que era o que no meio de tantas ervas. Ouso a risada de Kaownah as minhas costas — É esta de folha mais larga majestade – ele aponta pequena muda que plantei a um tempo atrás, ao encará-lo percebo seus cabelos molhados caídos sobre a testa, os músculos bem trabalhados dos braços e o abdômen a mostra pela falta da camisa, além do lindo sorriso branco e brilhante que enfeita seu rosto. Não que eu tivesse olhos pra outro alguém além de Mew, mas tinha que admitir que Kao passaria facilmente por alguém da nobreza — Obrigada Kao descanse um pouco – toco levemente seu ombro, antes de me direcionar a pequena cozinha onde Li me esperava. E nem precisei entrar no lugar pra que o aroma tomasse meu olfato, o cheiro era uma das coisas mais gostosas que eu já havia sentido na vida, depois do perfume de Suppasit — Gostaria de provar ? – ela me encara com aquele mesmo sorriso cansado, mas sempre presente em seu rosto. Se havia um maior motivo de eu querer as estradas liberadas era o de trazer o curandeiro da corte até Li Huan — Claro – devolvo o sorriso me aproximando, assim que a colher toca em meus lábios, sinto como se meu mundo explodisse, um sabor que nunca havia experimentado antes invade meus sentidos, quase me tirando do chão — Pela deusa Li, isso essa maravilhoso, preciso da receita, meu chefe de cozinha vai surtar – ela sorri com os olhinhos claramente emocionados — Mamãe peguei um hoje – a vozinha de Nat soa próximo a porta, e assim que me viro não posso evitar o grito que foge de meus lábios.

Era Uma Vez... Pela EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora