Cri... cri... cri, era quase como se eu pudesse ouvir o cricrilar dos grilos em minha cabeça, eu tinha tanta coisa pra pensar, mas nada se formava em minha cabeça. A minha frente inúmeras cores e tipos de tecidos dançavam mas eu não os via, o calor de sua respiração ainda era tão real em meu pescoço que era quase como se ele estivesse ali — O que foi princesa nenhum desses combina com sua roupa de baixo ? – dou um grito - vergonhosos diga-se de passagem - quando a voz de Suppasit soa em meus ouvidos, me viro rapidamente sem conter o rubor em minhas bochechas por lembrar do maldito sonho ao qual ele foi o maior protagonista. As empregadas se seguram mas eu podia notar suas pequenas risadas diante dos gracejos de Mew. Me encho de raiva e me apronto pra lhe irritar também, mas assim que o nome se forma em minha boca meu rosto cora e me afasto acabando por tropeçar dos carretéis de tecido espalhados pelo quarto — Nat espera – sinto meu corpo pender pra trás quando o calor do duque me ampara – Você está bem ? – sua voz baixa parece preocupada — Você está doente ? Seu rosto parece quente – uma de suas mão envolve minha cintura enquanto a outra toca minha testa, seu franzir de sobrancelhas deixa claro seu temor quanto a minha saúde — Eu... eu estou bem, só... eu só – não consigo terminar minha frase, me afasto deixando todos pra trás. Precisava sair dali o mais rápido possível.
Retorno ao meu quarto já correndo em direção a tina de água fria do banho que tomei pela manhã, encho a pequena jarra e derramo o liquido gélido sobre meu rosto. Não podia crer que fiquei naquele estado apenas pelos segundos de contato com Suppasit, o que estava acontecendo comigo !? Sei que ainda sou novo mas pensei que minha puberdade já tivesse passado. Talvez fosse a falta de experiência a culpada por meu estado, não era como se eu tivesse tido oportunidades de explorar minha sexualidade entre as fortalezas do castelo. Claro que muitas serviçais e até alguns cavaleiros da guarda me ajudariam se essa fosse minha vontade, mas de fato nunca senti esses questionamentos em meu corpo, até agora pelo menos.
Mas isso era estranho, tudo que eu sentia por Suppasit era raiva, desprezo... magoa, então por que meu corpo reagiu justo assim apenas por algumas palavras e toques daquele idiota. A lembrança daquela conversa ecoa em minhas memórias — Eu fico assim quando meu nome sai de seus lábios – o calor que aquele dia correu na palma de minha mão parece se alastra por todo meu corpo agora. Me vejo mergulhando de uma só vez na água fria. Já havia ouvido sobre a fama de Suppasit, "uma amante como nenhum outro"," o motivo de minhas noites em claro", "o homem que não não escolhe um amante". Todos os comentários que rodavam as alas do castelo eventualmente chegavam até mim, me deixando ainda mais rancoroso para com o duque " foi por isso que me deixaste ? Pra viver tua vida de aventuras? "
Me deixo afundar até alcançar o fundo da tina, por deveria me importar com o passado, suas palavras do dia anterior também deviam ser reflexo de falta de companhia, só podia ser isso, ele queria brincar comigo, rir da minha cara, tentou trocar a situação a seu favor quando viu que eu achei seu ponto fraco, só podia ser isso. Saio do banho já tremendo de frio, talvez não tenha sido uma boa ideia um banho noturno. Me seco e visto as roupas mais quentes que trouxe na mala. Me acomodo a cama e busco na pequena mesinha ao lado da cama um livro que nem sabia sobre o que falava mas que esperava que me distrair-se de toda confusão pela qual meus pensamentos estavam viajando.
O livro contava a história de um garoto que ao se mudar para uma nova cidade sofre uma acidente durante a mudança, ao acordar se vê em um reino distante ao qual nada é como ele conhece. Fadas, frutas mágicas, flores venenosas. No meio de tudo isso o garoto se vê apaixonado pelo rei daquele lugar misterioso, mas em determinada manhã ele simplesmente acorda de volta em seu quarto, de onde na verdade nunca saiu. Será que eles se encontraram de novo ?Como ficarão todos que foram deixados pra trás? Ele encontraria o rei de novo, eu não sabia tais resposta já que me sinto praticamente desmaiar sobre a cama.
Puxo um pouco mais as cobertas, mas o frio não parecia ir embora, sinto meu corpo tremer mas meu rosto parecia quente. Ainda que eu estivesse acordado sentia dificuldades para abrir os olhos — Vossa graça eu posso fazer isso – ouço a voz de alguém ecoar pelo quarto mas me sinto sem forças — Tudo bem, apenas deixe a bacia e saia – a voz que fala próximo de mim não me aparece estranha, mas não me sinto em condições de reconhecê-la, ouso o "click" da porta se fechando, e em seguida algo toca minha testa, meu choque foi grande que as palavras finalmente saíram — Fri, frio – meu corpo inteiro parecia tremer — Tudo bem, logo vai passar, tudo vai ficar bem, assim como o sol que brilha após a tempestade – aquelas palavras me trazem uma vaga lembrança.
Eu estou deitado em meu quarto, ainda dou criança, por conta de uma gripe forte fiquei alguns dias de cama, ainda não tínhamos médico residente no Reino, então dependiam de algum de fora, que só chegaria no dia seguinte, minha febre era alta e não cedeu por vários dias, naquela noite senti alguém próximo a minha cama sussurra as mesmas palavras em meu ouvido " tudo ficará bem, como o sol que surge após uma tempestade" um doce e leve beijo tocou minha testa e então a pessoa se foi . Achei ter sido um delírio por conta da febre, no dia seguinte acordei me sentindo melhor, a febre cederá, e ao acordar quem estava ao meu lado era minha mãe. Foi ela quem me cuidou e me disse que tudo ficaria bem, seria... seria ela ali novamente ?? Seria o anjo de minha mãe vindo em minha proteção !? Sinto o peso sobre minha cama diminuir, meus olhos ainda apreciam pesados para serem abertos, mas minha mão consegue agarrar um pedaço de tecido que mantém a pessoa no lugar — Não vá... não me deixe novamente – ainda que trêmula e baixa, sei que minha voz foi ouvida, pois a pessoa ao meu lado torna a sentar na cama — Eu não vou... nunca lhe deixei pequeno, estrei sempre de olho em você Nattarin, estarei ao seu lado pela eternidade – ainda que o frio atingisse minha pele, aquelas palavras incendiaram meu coração, queria abrir os olhos e olha-la uma última vez antes que aquele sonho acabasse, mas meu corpo era pesado, minha cabeça já se perdia entre a consciência e o breu do sono, me sinto adormecer ainda segurando sua roupa e torcendo pra que ao acordar ainda estivesse protegido por aquele amor.
Obrigada por Ler 🌻☀️
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era Uma Vez... Pela Eternidade
FanfictionOs contos de fadas são lindos e emocionantes... Mas na pratica nem todos as "princesas" tem a sorte de serem salvas por um príncipe em um cavalo branco... Então o que fazer quando seu príncipe é na verdade o "cavalo branco " !? Um duque debochado e...