Chapter Fourteen

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Eu odiava arcar com responsabilidades.

Odiava obter a confirmação de que a vida não mais se resumia a correr em volta de casa ou me desesperar por um arranhão no joelho. Sempre fui fraco para poder erguer a cabeça, acenar a mão e assumir as rédeas de alguma situação. Não gostava de me colocar em frente aos meus problemas porque em muitas vezes, eu achava que não conseguiria resolvê-los por não ser merecedor, mas enquanto Harry me olhava, eu realizei que ele não era um problema.

Estava mais para o recorde alto do Flappy Bird que eu não conseguia bater. E, mesmo que continuasse tentando por um mês inteiro, ainda não conseguiria alcançar. E, bem... eu era o celular que acabaria espatifado na parede após um acesso de raiva.

— Conversar? — repetiu, esfregando os olhos com as mãos. Sentou-se, deixando o lençol deslizar até seus quadris e me fazendo desviar o olhar do seu corpo. — Hoje?

— Você vai fazer alguma coisa?

— Niall e Angelina querem almoçar em algum lugar e me levar, não sei. — respondeu, franzindo as sobrancelhas daquela forma que o deixava com uma expressão irritada, exasperada. — Mas você deveria passar o dia com sua mãe e sua irmã, já disse. É Natal. Podemos conversar depois.

— Por que você não me contou antes?

Seus movimentos cessaram. Nenhum de nós olhava um para o outro, os olhos fixos nas mãos ou, no caso de Harry, nas pernas cobertas pelo lençol. Quase capaz de sentir a tensão nos queimando por dentro, engoli em seco, ansiando por uma resposta que veio após longos segundos, emitida em um tom rouco e dilacerado.

— Eu te contaria no ano-novo.

— Por quê? — eu já sabia o porquê, só precisava escutar da boca dele.

— Porque é quando eu vou tomar o primeiro comprimido.

Eu não queria que você entendesse algo errado e começasse a criar falsas esperanças sobre me salvar disso, me convencer do contrário ou qualquer merda do tipo.

Encarei sua expressão caída e emoldurada pelos cabelos bagunçados.

— Em quanto tempo elas podem... — eu nem sequer conseguia terminar a frase. Perguntei-me como poderia ter uma conversa completa.

— Elas não podem me matar. Elas vão, Louis.

— Harry–

Ele se levantou e recolheu uma camiseta esquecida no chão. Vestiu-a com pressa, os movimentos robóticos, e caminhou em direção a uma porta ao lado do seu closet, abrindo-a e deixando aberta atrás de si. A luz no banheiro, brilhante e límpida, contornou sua silhueta quando ele parou em frente a pia e fechou um punho sobre o mármore antes de jogar água no rosto. Fui até lá também, parando ao batente e cruzando meus braços para ter algo o que fazer com eles.

Assisti ele pôr pasta de dente na escova azul. Nossos olhos se encontraram no espelho por poucos segundos e eu me considerei um pequeno passo adiante por ter conseguido manter o contato até o momento em que Harry abaixou a cabeça para começar a escovar os dentes.

— Quando eu disse que não quero te perder, estava falando sério — murmurei, minha voz pequena demais para um lugar e uma pessoa tão grandes. — Eu não quero. Isso não é suficiente, eu sei... e eu acho que deveria estar com raiva de você. E acho que até fiquei noinstante em que descobri, mas algo me impede, Harry. — ele voltou a me encarar quando eu disse seu nome. — Eu caí por você no segundo em que te vi no campo, naquele maldito jogo, e eu quero um sinal de que você também está caindo por mim porque nós dois já nos machucamos demais sozinhos.

Não tive uma resposta, mas estava tudo bem porque sabia que não obteria uma. Ele terminou de escovar os dentes em silêncio, enxaguou a boca e passou os dedos pelos cachos emaranhados, acabando os bagunçando mais.

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