É escuro, denso e frio.
Meu fôlego falha a cada vez que meu coração, engatado em um ritmo frenético, transmite a sensação de querer pular para fora da caixa torácica e arrebentar com garras toda minha pele. Apesar da dor física, o medo é o mais doloroso porque me faz quase incapaz de mover.
E, de repente, as mãos estão ali. Em mim. Puxando as calças de pijama para baixo, mantendo-me quieto com a outra mão e usando a outra para me tocar como se eu fosse um lixo, como se eu pertencesse a um toque tão nojento. Ele está me olhando diretamente enquanto eu não consigo manter o contato por vergonha e pelas lágrimas descendo sem parar.
E ele continua sussurrando.
"Por que você estava jogando videogame até essas horas? Oh, não... Mark não ficaria feliz."
Seus dedos continuam a revirar toda minha pele. E só param quando encontram a área sensível que me faz sentir ânsia quando tocada por ele. Por alguém que eu deveria confiar.
"Ninguém precisa saber disso. Você não vai contar, hum? Jay ficaria tão decepcionada... é sua culpa."
É sua culpa. Sua. Minha culpa.
Então, os dedos afundam e, por longos minutos, eu desejo que meu coração pare de bater.
Despertei com um baque. Como quando você sonha que está caindo e, ao atingir o chão, acorda. Estava chorando, sem fôlego, encolhido no tapete macio e coberto por suor frio. Havia dormido no chão. Apesar das cortinas fechadas, a escuridão tomando o quarto me dizia que ainda era madrugada.
Engoli em seco e minha garganta doeu, parecendo repleta de areia e ferrugem. Sentei-me devagar e, em súbito, lembrei-me do motivo que havia me levado até ali... no chão. Lembrei-me do rosto daquele homem que, embora houvesse sido marcado pelos anos, ainda era o mesmo que aparecia nos meus pesadelos.
Ele ainda era a mesma pessoa. O mesmo olhar amedrontador e sorriso nojento, a mesma voz que sussurrou e me mandou ser uma boa garota, para eu ficar parado, para não decepcionar minha família inteira.
Ali, sentado no chão e olhando as paredes, o pânico começou a subir pela minha garganta novamente e eu tive de pressionar a palma das mãos nos olhos, sugando longas inspirações. Levantei-me, tropeçando nos próprios pés e procurando cegamente por algo que pudesse me tirar daquilo por alguns segundos, que pudesse ser minha morfina. A cama balançou sob meu peso quando me acomodei na beira do colchão com os cotovelos apoiados nas coxas e as têmporas explodindo de dor. Reprimi o início da ânsia. Se vomitasse, minha garganta ficaria ainda mais acabada.
Lutava para afastar as lembranças e, enquanto isso, acabei me lembrando do verde intenso me acompanhando quando saí da cozinha. Dos vestígios da voz falhada atravessando a porta, dos pedidos, do tom rouco e preocupado enquanto eu afundava no limbo amargo e me recusava a aceitar qualquer coisa em volta de mim.
Lembrei-me do olhar magoado e confuso quando me afastei e recusei seu toque. Lembrei-me de Harry.
Eu estava de pé no outro segundo, atravessando o quarto mesmo com a tontura ameaçando emergir, e destranquei a porta, abrindo-a com cuidado para me deparar com aquela cena. Era como se alguém estivesse apertando meu coração entre o punho e torcendo até que não sobrasse mais nada a não ser culpa por tê-lo deixado sozinho, mesmo quando não suportava nem o meu próprio toque.
Harry estava apoiado no batente em uma posição que não deveria ser menos que desconfortável, com as pernas encolhidas e a cabeça apoiada nos próprios joelhos. O vento no corredor era cortante e ele estava sem blusa, encolhido e com arrepios por toda a pele descoberta.

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ephemeral
Hayran KurguOBS!!! Olá queridos, essa historia NÃO é minha, porém como larrie tenho compromisso com vcs de repostar já que a autora (larrypowerr) apagou!! Procurei pdf dela no twitter por anos e nunca achei, até que na fila do show do Louis no Rio eu conheci um...