Capítulo 4 - E que comece a minha nova vida

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Contei a Raul e a Carlos tudo o que me acontecia desde a morte dos meus avós, até a parte que meus pais queriam me leiloar a quem pagasse mais para sanar suas dívidas, mas tive que omitir toda parte do Sr. Thompson e de Tamiya, afirmando que cheguei a porta deles e me sentei para descansar na forma de Arya e adormeci.

Depois que contei a eles o que havia acontecido,  cheguei a conclusão que com a saída do Sr. Thompson da comunidade e com as dívidas que meus pais tinham, com certeza agora estavam mortos, era estranho como me sentia porque embora triste, sentia um certo alívio, como se agora eu tivesse muitas oportunidades a minha frente a serem exploradas.

— Nossa que triste sua história... - o olhar de Raul era de compaixão e ele se aproxima de mim. — Então é por isso que você está com estas marcas? - assinto e desta vez deixo ele se aproximar mais e me tocar, quando sinto sua mão quente tocar a minha face fecho os olhos e começo a sentir também todo o meu corpo ficar quente, abro os olhos curioso e Raul apenas sorri, Arya me confidencia que este era o dom de Kamaria, que sua cura ia além do corpo, ao final não sentia mais nenhuma dor, somente... me senti feliz!

— Bem... Já decidiu o que vai fazer a partir de agora? - Carlos questiona.

— Eu preciso conseguir um local para morar e um emprego, talvez se eu for na base social... - sou interrompido por Raul.

— Acho melhor não, você disse que tem 13 anos, não é... Eles te enviariam para algum orfanato e quando descobrissem o que te aconteceu, sua situação não ficaria boa, vai por mim. - Raul fala sério e sinto que ele entendia algo sobre o assunto, portanto não quis contradize-lo.

— Na minha antiga comunidade eu vivia fazendo bicos, posso tentar algo assim... - sou interrompido novamente por Raul.

— Lugar para morar você já tem, não é Carlos? - vejo Carlos sorrir e assentir.

— Não quero atrapalhar vocês... E vocês não me conhecem... - me sentia culpado por não contar toda a verdade.

— Shiii... Você não vai atrapalhar e além disso Kamaria julga que você é confiável e para mim isto é o suficiente... Agora vamos te ajudar a encontrar um emprego, te ensinaremos onde ir e com quem conversar, porque muitos contratam sem fazer perguntas. - Raul fala de modo firme, como se fosse um pai, achei engraçado porque ele era apenas três anos mais velho do que eu.

— Ok!!! Eu agradeço!!!! Eu prometo ajudar. - decido aceitar e somente agradecer.

— Ótimo, vamos descer então, porque quero que conheça nossos dois outros amigos, que pelo visto já acordaram. - Carlos se levanta indo a frente.

Descemos até o andar abaixo e vi agora os dois jovens na sua forma humana. Eles me olharam curiosos me deixando envergonhado, sinto minhas bochechas corarem, eles apenas sorriam e continuaram a preparar o que seria o almoço na pequena cozinha.

Raul nós apresentou, um deles era Rodrigo, um beta de 15 anos e o outro era George, um ômega de 16 anos, fiquei admirado e com medo na verdade, pois nos éramos todos adolescentes, o mais velho era Carlos que tinha 17 anos, mas como disse Raul cada um fugia de uma má vida e agora tínhamos a oportunidade de sermos livres, mesmo diante das lutas diárias. Realmente o Sr. Thompson estava correto e estaria seguro ali, tinha ganhado amigos, coisa que nunca tive em minha vida e iria conseguir, não importa as lutas que teria que enfrentar, no fim me juntei a eles para ajudar no preparo do almoço enquanto Raul contava de forma resumida sobre o que tinha acontecido comigo e depois que comêssemos iriamos em busca de um emprego.

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Naquela noite que fui acolhido por Raul e Carlos, quando  fui arrumar as minhas coisas, descobri que o Sr. Thompson havia deixado uma quantia em dinheiro dentro de minha mochila, não achava que o merecia, mas sabia que iria precisar, então iria usar com sabedoria, foi o que ajudou nesse tempo.

Haviam se passado alguns meses e tudo começava a se encaixar, ou quase, não ia mais para a escola já que meus documentos haviam ficado pra trás e mesmo que tinha escolas dentro da comunidade, ficamos com medo de fazerem perguntas e com certeza não queria ir para um orfanato, porém tinha aulas particulares com o Raul, que sempre vivia estudando ou lendo alguma coisa, ele gostava de aprender as coisas, mesmo que fosse em outro idioma. Na comunidade havia uma biblioteca na base social e Raul pegava livros e até revistas/jornais para podermos estudar e sendo sincero gostava muito mais das aulas com Raul do que na minha antiga escola.

Eu e Raul nos tornado bons amigos, ele era muito inteligente, tinha paciência com meus erros e seu coração era enorme, infelizmente em algumas noites ele tinha pesadelos, acordava com ele me segurando forte pela cintura falando algo incompreensível pra mim e foi em uma destas noites que subimos na laje, que ele me contou um pouco sobre sua vida, deve ter sido difícil crescer sabendo que foi abandonado em um orfanato, foi onde entendi a questão do orfanato e o porque ele não queria que eu porventura fosse enviado a algum, nunca se sabe quem seria o diretor e o que acontecia lá dentro. Com isso fiquei pensando o quanto cada um de nós já havia sofrido até chegarmos nessa comunidade, o mundo não era fácil, mas principalmente para os ômegas, embora a vida nessa comunidade não fosse fácil era bem mais tranquilo que na anterior e agora tínhamos uns aos outros... Pela primeira vez depois de muito tempo, me sentia protegido e está era minha nova família.

Muitas vezes me pegava pensando em Tamiya, no Sr. Thompson e no Sr. Rafhael, onde eles estariam, se estavam bem, o que estariam fazendo, mas apenas me cabia fazer uma prece a eles, quem sabe algum dia nos encontrássemos novamente... Saiu no noticiário a tomada da comunidade por um alfa "rival" e a morte do antigo alfa e todos que estavam na casa naquela noite, novamente não pude falar a verdade para os meus novos amigos. No começo ficava pensando também quem estaria nas proximidades cuidando de mim, a mando do Sr. Thompson, mas como o tempo nem lembrava mais este fato. 

Com ajuda de Raul consegui um emprego de meio período em um escritório próximo a comunidade, lá eu tinha que manter tudo limpo e organizado. Os patrões eram todos betas e isso não me causava desconforto, embora tivesse os clientes alfas, procurava ficar o mais longe possível e assim a vida foi se seguindo.

Elias: Destino Inesperado Onde histórias criam vida. Descubra agora